BRASÍLIA – O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, tentou minimizar publicamente os atritos com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e cumprimentou o deputado em dois momentos distintos na abertura do ano legislativo no Congresso nesta segunda-feira, 5. A relação entre os dois está estremecida, e o parlamentar já ameaçou segurar iniciativas de interesse do Palácio do Planalto na Casa enquanto o governo Lula não mudar o articulador político, como mostrou a Coluna do Estadão.
Padilha agiu com naturalidade, aguardou a subida de Lira e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), na rampa do Congresso e cumprimentou o presidente da Câmara com um sorriso e um toque no ombro. O momento foi transmitido à distância pelos canais oficiais do Legislativo.
Durante a sessão de abertura das atividades do Congresso, Padilha e Lira ficaram próximos na Mesa, mas não lado a lado. O ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, escalado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ler a mensagem com as prioridades do Executivo para 2024, sentou-se entre eles.
Ao final, Padilha voltou a apertar a mão de Lira, ao cumprimentar outros presentes na cerimônia – momento flagrado por fotógrafos e transmitido pelos canais no YouTube da Câmara e do Senado.
Em entrevista, Padilha disse que espera repetir uma “dupla de sucesso” com a Câmara e o Senado neste ano. E assegurou que a gestão de Lula “não rompeu e nunca romperá” com as duas Casas. Questionado sobre a relação com Lira, disse que não comanda o ministério das “relações interpessoais”.
“A mensagem do presidente ao Congresso Nacional reforça essa busca ao diálogo e ao compartilhamento de agenda”, afirmou o ministro, dizendo que o governo Lula tem uma ótima relação com as lideranças. “O governo em nenhum momento rompeu nem nunca romperá a relação com o Congresso Nacional.” “Este governo, sob a liderança de Lula, não gera conflito, não entra em conflito”, disse.
Lula, porém, está preocupado com as votações neste ano e com o clima de acirramento dos ânimos no Congresso. O presidente, porém, não pretende ceder a pressões para demitir Padilha do posto.
Nos últimos dias, para deixar registrada a sua insatisfação, Lira faltou à sessão de abertura do ano judiciário, à posse do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, e ao ato Democracia Inabalada, que marcou um ano da tentativa de golpe no País, em 8 de janeiro.
O presidente da Câmara usou o discurso de abertura do ano legislativo para mandar recado direto ao governo. Em meio ao descontentamento de parlamentares com cortes no pagamento de emendas do Orçamento, Lira avisou que o Congresso respeita os acordos políticos e cobrou do governo compromisso com “a palavra dada”.
“(A autoria do Orçamento) não é e nem pode ser de autoria exclusiva do Executivo e muito menos de uma burocracia técnica, que apesar do seu preparo não foi eleita para escolher as prioridades da nação e não gasta a sola do sapato percorrendo os pequenos municípios brasileiros como nós senadores e deputados”, disse. “Não faltamos ao governo e esperamos respeito e compromisso com palavra dada”, afirmou.
Segundo o presidente da Câmara, as aprovações de propostas do Executivo em 2023 “será a tônica de 2024″, desde que prevaleça o que ele chamou de “exemplo de boa política e honradez com os compromissos assumidos”.
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