Ramagem diz que operação se deve à austeridade de Bolsonaro, mas não nega espionagem da Abin

Alexandre Ramagem (PL-RJ) diz que gestão dele foi responsável por encaminhar contrato de ferramenta de espionagem para corregedoria interna da Abin

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Foto do author Rayanderson Guerra
Atualização:

RIO – O deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), diz que a Operação Última Milha, deflagrada na manhã desta sexta-feira, 20, só foi possível graças ao “início de trabalhos de austeridade” promovidos durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Aliado fiel do clã Bolsonaro, Ramagem esteve à frente da Abin durante o período em que os servidores presos teriam utilizado a estrutura estatal para localizar os alvos da espionagem, entre julho de 2019 e abril de 2022.

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Em nota publicada nas redes sociais, Ramagem diz que o objeto da operação desta sexta, a ferramenta de monitoramento FirstMile, foi adquirido em 2018, antes do governo Bolsonaro, mas que ao assumir a gestão da Abin determinou uma auditoria interna e encaminhou o contrato do sistema de espionagem para a corregedoria interna da agência. Ele não nega a espionagem investigada pela PF.

“Esse sistema objeto da operação de hoje na Abin foi adquirido em 2018, antes do governo Bolsonaro. Quando assumimos a Abin, em 2019, promovemos auditoria formal de todos os contratos. O referido sistema não faz interceptação, mas demonstrava fazer localização. Mesmo tendo passado por prova de conceito técnico e parecer favorável da AGU para aquisição (2018), nossa gestão resolveu encaminhar à corregedoria para instaurar correição. A operação de hoje só foi possível com esse início de trabalho de austeridade promovido na nossa gestão (governo Bolsonaro). Rogamos que as investigações prossigam atinentes a fatos, fundamentos e provas, não se levando por falsas narrativas e especulações”, escreveu.

O caso mira supostos crimes de invasão de dispositivo informático alheio, organização criminosa e interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei.

Segundo a PF, o grupo sob suspeita teria usado o sistema da Abin – um “software intrusivo na infraestrutura crítica de telefonia brasileira” – para rastrear celulares “reiteradas vezes”. Os crimes teriam sido praticados sob o governo Jair Bolsonaro. À época, o órgão era comandado por Alexandre Ramagem.

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Ramagem esteve à frente da Abin no período em que os servidores presos teriam utilizado a estrutura estatal para localizar os alvos da espionagem, entre julho de 2019 e abril de 2022 Foto: Dida Sampaio/Estadão

Ramagem é aliado de longa data do clã Bolsonaro

Ex-delegado da Polícia Federal, Ramagem estava à frente da Abin durante o uso da ferramenta. O ex-diretor da Abin ganhou a confiança do clã da Zona Oeste do Rio de Janeiro antes mesmo da eleição de 2018.

Foi designado para cuidar da segurança do então presidenciável após o atentado à faca em Juiz de Fora, em 6 de setembro de 2018. E teve ascensão rápida no novo governo. Chegou a ser nomeado superintendente da Polícia Federal (PF) no Ceará, em fevereiro de 2019, mas foi deslocado para um cargo de assessor especial do então ministro da Secretaria de Governo, general Santos Cruz. Em julho, foi para a Abin. Bolsonaro quis nomeá-lo diretor-geral da PF. O presidente queria ter, segundo o então ex-ministro Sérgio Moro, alguém com quem pudesse “interagir” e que lhe fornecesse relatórios de inteligência.

Ainda na gestão de Ramagem, a agência de inteligência teria atrapalhado investigações envolvendo Jair Renan Bolsonaro, filho “04″ de Bolsonaro. Um agente da PF admitiu que recebeu a orientação de “levantar informações sobre uma operação que tinha Jair Renan como alvo para prevenir ‘riscos à imagem’ de Bolsonaro”. À época, a PF afirmou em um relatório que Abin teve um papel de “interferência nas investigações”.

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