Ainda no período de pré-campanha, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se movimenta, ao lado de aliados, para começar a reunir potenciais doadores para a candidatura ao Palácio do Planalto. O primeiro passo será dado no fim deste mês, em um jantar que reunirá empresários mais próximos e pode ter como convidados advogados com clientes na Lava Jato de quem o petista estabeleceu relações nos últimos anos.
Agregador de pesquisas
Nesta segunda-feira, 6, enquanto petistas e aliados de PSB, PCdoB, PV, PSOL, Rede e Solidariedade se reuniam para conferir o resultado de pesquisas internas sobre disputas estaduais e o programa prévio de Lula vinha a público com a formalização das propostas de revogação da reforma trabalhista e do teto de gastos, o ex-deputado federal Vicente Cândido (PT), que mantêm relações com os advogados, bateu à porta da Fundação Perseu Abramo, em São Paulo. Ele foi recebido no local pelo presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, para tratar da arrecadação para a campanha.
O encontro durou aproximadamente meia hora. Com apoio de outros advogados próximos do ex-presidente, Cândido tenta emplacar a ideia de que o fundo eleitoral de R$ 500 milhões destinado ao PT não é suficiente para custear a candidatura presidencial. É preciso reunir doadores.
Um petista que integra a campanha afirmou ao Estadão que não tem sido fácil convencer pessoas físicas a se comprometer com o financiamento de Lula, já que isso envolveria a exposição pública, em razão do registro dos doadores no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Por isso, Lula deve procurar, primeiro, empresários e advogados aliados.
Ainda não há uma lista de convidados nem informações como, onde e quem será o anfitrião do jantar. Estes detalhes serão debatidos nesta semana. No entanto, o encontro será promovido no fim deste mês. “Estamos pensando nisso”, disse Okamotto ao Estadão, a respeito do jantar.
Programa de governo
Os empresários, no entanto, ainda não podem doar, mesmo na condição de pessoa física, uma vez que financiamento com pessoa jurídica está vetado. As doações diretamente à campanha, no entanto, só poderão ocorrer a partir da segunda metade de agosto, quando se oficializar o início do período de campanha. Pela lei eleitoral, Lula poderia até abrir uma vaquinha virtual para receber o dinheiro no período de pré-campanha. Porém, segundo organizadores do evento, o ex-presidente prefere não se usar deste instrumento.
Organizadores do evento afirmaram ao Estadão que entre os nomes a serem convidados estão advogados que têm declarado apoio ao ex-presidente e estiveram no jantar no Rubaiyat, em dezembro do ano passado, que ficou marcado pela primeira aparição de Lula e do ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) juntos em meio à negociação que levaria o ex-tucano a entrar como vice na chapa.
Há advogados cotados que não são petistas históricos e defenderam desafetos do PT na Lava Jato. Um deles é Alberto Toron, que atuou pelo deputado federal Aécio Neves (PSDB). Outro é Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, advogado do ex-presidente Michel Temer (MDB). Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que defendeu emedebistas, como Edson Lobão, tucanos, como Marconi Perillo (PSDB), e governistas, como o ministro Ciro Nogueira (Casa Civil), também pode ser convidado.
Entre os empresários que podem estar presentes está Walfrido Mares Guia, que foi ministro do ex-presidente Lula. Como mostrou o Estadão, ao lado de José Seripieri Filho, fundador da Qualicorp, Mares Guia faz parte do time de empresários que tem ajudado Lula a amarrar alianças durante sua campanha.
Organizadores
Um dos organizadores do jantar, Vicente Cândido foi diretor do Corinthians e sócio do ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Marco Polo Del Nero, banido do futebol pela Fifa. O escritório da dupla é investigado pela Polícia Federal desde 2020, no âmbito da Operação Acurácia, pela suspeita de ter sido usado pela Precisa Medicamentos, do lobista Francisco Emerson Maximiano, o Max, para lavagem de dinheiro de propina a políticos. Ambos foram alvo de buscas e apreensões. Após dois anos, a investigação continua sem um relatório final. Fora do Congresso, Cândido vive em uma rotina entre São Paulo e Brasília, onde continua a manter sua banca de advocacia. Eles negam as suspeitas.
Na condição de presidente do Instituto Lula, Okamotto é um dos amigos do círculo mais próximo de confiança do ex-presidente para assuntos financeiros. A entidade recebeu doações de grandes empreiteiras, como a Odebrecht, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão. A Okamotto também coube a tarefa de cuidar do acervo de bens de Lula da época em que o petista foi presidente.
A organização do evento também vai passar pelo tesoureiro da campanha de Lula, o deputado Márcio Macedo (PT-SE), convidado pelo ex-presidente para cuidar das contas da candidatura. Quando tomou posse, após a cassação do deputado Valdevan Noventa (PL) - recentemente revertida pelo ministro Kassio Marques, do STF -, Macedo teve sua entrada no Congresso comemorada em uma festa com advogados e petistas próximos, em Brasília. Procurados, Vicente Cândido e Márcio Macedo não se manifestaram.
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