O ex-assessor da Presidência José Yunes afirmou nesta quinta-feira, 23, que atuou como “mula involuntária” do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, ao receber um pacote no seu escritório de advocacia, em São Paulo, das mãos do doleiro Lúcio Funaro. A história apareceu na delação premiada do ex-executivo da Odebrecht Cláudio Melo Filho, que disse ter mandado entregar dinheiro em espécie no endereço de trabalho de Yunes, em 2014.
Amigo do presidente Michel Temer, o advogado nega ter recebido dinheiro, mas admite que Padilha pediu, por telefone, para ele receber um documento. “Pelo relacionamento político e partidário que tenho com ele, Padilha pediu se eu poderia receber no escritório um documento, um pacote, para que outra pessoa fosse pegar”, contou Yunes ao Estado. “Quem levou o documento, que eu não conhecia, era o Lúcio Funaro. Por isso eu brinquei que fui mula involuntária do Padilha.” Funaro foi preso em julho de 2016 na Operação Lava Jato. Era operador do ex-presidente da Câmara e deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Yunes esteve nesta quinta em Brasília e conversou com Temer sobre o assunto, que tem potencial para se transformar numa nova crise no governo.
Em dezembro, a Coluna do Estadão informou que Funaro entregou a Yunes R$ 1 milhão, quantia proveniente da Odebrecht, a mando de Padilha. Um dos auxiliares mais próximos de Temer, Yunes deixou o governo após vir à tona a delação de Melo Filho. Em sua delação, o ex-executivo da empreiteira disse que, numa reunião ocorrida em 2014, no Palácio do Jaburu, Temer - então vice-presidente - teria pedido dinheiro a Marcelo Odebrecht para o PMDB. Marcelo decidiu doar R$ 10 milhões e, deste total, R$ 6 milhões teriam ido para campanha de Paulo Skaf ao governo de São Paulo e R$ 4 milhões para Padilha distribuir. À época, ele era ministro da Aviação Civil do governo da então presidente Dilma Rousseff.
Yunes disse que nunca viu Melo Filho e também que não conhecia Funaro. "Ele chegou, se apresentou, nós conversamos um pouco sobre política e depois ele foi embora. Mais tarde uma pessoa foi buscar a encomenda nas mãos de minha secretária”, afirmou o advogado, amigo de Temer há 40 anos. “Saí do governo para defender minha honra e não me prevalecer nem do meu cargo nem da amizade com o presidente. Sou louco para ver essa delação para provar a minha inocência.”
Questionado se não abriu o “pacote” que Padilha mandou entregar em seu escritório, Yunes respondeu: “Não caberia a mim violar um documento. Não era eu o destinatário do Padilha”. O advogado também disse não se lembrar do tamanho da encomenda.
Procurado pelo Estado, Padilha não foi localizado.
Correções
A foto que ilustrava a reportagem não era a de José Yunes e foi substituída.
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