No segundo andar do Palácio do Itamaraty, os últimos dias foram de arrumar gavetas. Mesmo sem ter sido notificado formalmente de que não deve ficar no cargo, o ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, prepara-se para sair. A mudança no comando do ministério teria avançado e o cenário mais provável, no momento, é o retorno de Celso Amorim, que deixará a Defesa e pode ocupar o cargo de chanceler pela terceira vez.
A volta de Celso Amorim seria uma compensação à redução da influência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não tem emplacado sugestões à nova equipe da presidente Dilma Rousseff. Como já mostrou o Estado, há tempos Lula se preocupa com a perda de espaço do Brasil no exterior, especialmente na área comercial, e vem insistindo por um nome forte no Itamaraty. Ele alega que Figueiredo, apesar de ser um bom negociador na área ambiental, não conhece os meandros da política comercial e não tem experiência na área.
O resultado dessa pressão seria a saída do chanceler, dada como certa há semanas. No entanto, a engenharia da sua substituição é o passo mais complicado dessa mudança. Com uma relação difícil com a diplomacia, Dilma nunca teve muita proximidade com nenhum dos atuais embaixadores. Mesmo com Celso Amorim, seu colega durante o governo Lula e por quatro anos seu subordinado no Ministério da Defesa, nunca houve uma relação afetuosa - no máximo, respeitosa.
A decisão em optar pelo retorno de Amorim esbarraria em duas condições do embaixador: ter carta branca e orçamento. E também nas dificuldades que o ex-chanceler vê em ter espaço em um governo em que a chefe de Estado não tem muitos encantos pela política externa.
Mesmo tendo manifestado a amigos que via com preocupação o desmanche do que chamava de "seu legado" no ministério, Amorim estaria mais inclinado a finalmente se aposentar. Se confirmada a formação que hoje se fala na Esplanada, o arranjo seria creditado ao poder de convencimento do ex-presidente sobre seus dois ex-ministros, tanto a presidente quanto o embaixador.
Figueiredo assumiu o ministério em meio à crise causada pela fuga do embaixador boliviano Roger Pinto Molina da embaixada brasileira em La Paz. O então chanceler, Antonio Patriota, que já tinha uma relação desgastada com Dilma, pediu demissão e sugeriu Figueiredo, embaixador nas Nações Unidas e principal negociador brasileiro na área ambiental, com quem a presidente desenvolveu boa relação durante a Rio+20.
Essa boa relação continua. Dilma gosta de Figueiredo e não tem atritos com seu ministro, que é extremamente fiel aos desejos da chefe - hábito que, para muitos diplomatas, ajudou a aumentar a fraqueza do Itamaraty. Mas foi convencida de que precisa de um chanceler que tenha vocação para fazer o que ela não tem vontade ou paciência: aumentar a influência do Brasil no exterior e colher frutos comerciais.
Washington. Dilma não gostaria de ver Figueiredo, que está no auge da carreira e longe de se aposentar, sem um cargo relevante. Daí a possibilidade de enviá-lo para a embaixada brasileira mais importante, em Washington, de onde Mauro Vieira está para sair.
O nome do embaixador nos Estados Unidos também estaria cotado para o posto de ministro, no caso de Amorim não ser confirmado. A presidente, que teve vários encontros com Vieira em suas viagens, gosta do diplomata, que tem algo que ainda falta a Figueiredo, a experiência em postos difíceis e na área comercial.
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