Análise mostra PT ausente da discussão sobre a escala 6x1 nas redes sociais

Especialista em monitoramento de redes aponta que 29 dos 100 perfis que mais geraram engajamento são ligados ao campo da esquerda; nenhum deles é de petistas

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Foto do author Karina Ferreira

O debate sobre a escala de trabalho 6x1 ganhou tração nos últimos dias por meio das redes sociais, após a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) apresentar uma proposta de emenda à Constituição que dá fim aos esquema de seis dias de trabalho e apenas um de descanso. Apesar de ser uma pauta ligada à esquerda, o campo político não lidera a discussão sobre o tema nas redes sociais.

É o que mostra uma análise com mil publicações dos últimos 30 dias realizada pelo analista em monitoramento de redes sociais Pedro Barciela. Entre os 100 perfis que mais geraram engajamento com a discussão da escala de trabalho 6x1 no Instagram, somente 29 são ligados ao campo de esquerda e outros 14 são de portais do jornalismo profissional. Menos de 4% das contas que mais engajaram o assunto são ligadas a figuras de direita ou bolsonaristas.

Erika Hilton (PSOL-SP), deputada federal Foto: Gilmar Félix/Câmara dos Deputados

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O analista ainda chama atenção para a completa ausência de atores ligados ao Partido dos Trabalhadores (PT) entre os usuários que mais geraram interações sobre o tema no Instagram. “Não se trata, vale ressaltar, de uma suposta ausência total de atores petistas neste debate, mas sim da sua irrelevância até o momento”, disse Barciela.

Entre os perfis de esquerda que mais engajaram o assunto, o da própria deputada autora da proposta e o do vereador eleito pelo Rio de Janeiro Rick Azevedo (PSOL), que começou a discussão no País, são o destaque. O debate do regime de escala de trabalho ocorre na Câmara por meio da PEC da deputada, que tenta agora reunir assinaturas de 171 parlamentares, mínimo exigido para protocolar o texto.

Embora ausentes entre os “engajadores” do assunto nas redes, os petistas são, entre os parlamentares, a sigla mais numerosa entre os signatários para que a proposta siga a tramitação. Até o início desta tarde, foram 68 os deputados federais petistas entre os 153 signatários do texto.

Os campeões de engajamento, com 48% das interações registradas, são portais de fofocas e notícias sobre a vida de famosos. Sobre a predominância desse tipo de perfil na discussão, o especialista afirma que não há como saber se estão “aproveitando” o tema por verem um potencial de gerar engajamento ou se são eles próprios quem estão amplificando a pauta.

Quanto ao teor dos comentários das publicações, o analista separou apenas aqueles feitos em perfis de notícias sobre famosos, por ser um grupo que se diferenciam de outros debates políticos e tende a não estar tão polarizado. A conclusão foi a de que a maior parte, 40%, trata sobre a questão da saúde e bem-estar dos trabalhadores, enquanto 25% deram ênfase específica na questão do convívio familiar e social como um dos benefícios pessoais, enquanto 15% atrelavam a discussão à qualidade e eficiência no trabalho. Outros 20% dos comentários discutiam os impactos econômicos da proposta, com especulações sobre um possível aumento no desemprego e nos preços de produtos e serviços.

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Entenda a proposta

O texto proposto pela deputada é baseado em discussões que já têm avançado em vários países sobre escalas de trabalho mais flexíveis. No Brasil, o debate ganhou impulso com o Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), iniciado pelo tiktoker e vereador eleito do Rio Rick Azevedo

O movimento critica a jornada 6x1 por causar exaustão e afetar a saúde e o bem-estar dos trabalhadores, propondo mais tempo de folga para as pessoas poderem descansar, ter lazer, passar mais tempo com a família e cuidar da própria saúde. Para isso, a proposta da deputada visa abolir a escala de seis dias de trabalho seguidos, com apenas um dia de folga.

A proposta da deputada também reduz de 44h para 36h por semana o limite de horas trabalhadas, passando a jornada para quatro dias de trabalho.

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