O Rio de Janeiro é o Brasil em volume mais alto. O Estado vive de maneira mais profunda que o resto do País o descrédito da elite política por escândalos de corrupção, que já levaram à prisão cinco ex-governadores. O afastamento de Wilson Witzel ocorreu por acusações envolvendo dinheiro público para a saúde, em plena pandemia.
Até 2018 Witzel era juiz federal, ex-fuzileiro naval, com carreira discreta. Largou a magistratura para concorrer ao governo estadual, em campanha que disparou nos últimos dias do primeiro turno e o levou a uma vitória surpreendente. Foi parte da onda nacional de rejeição à política tradicional, na qual Witzel se apresentou aos eleitores como juiz e militar nos moldes de Sérgio Moro e Jair Bolsonaro. O xerife que limparia o Estado.
O colapso da aliança entre PMDB e PT, que governou o Rio de Janeiro por uma década, criou vazio político que foi apenas parcialmente preenchido por lideranças como Witzel, o bispo evangélico Marcelo Crivella e nova geração de deputados e vereadores pró-Bolsonaro, com discurso centrado em combate ao crime.
A meteórica queda de Witzel deve-se também à rapidez com que se afastou de Bolsonaro, anunciando-se como possível rival nas eleições de 2022. A coligação de apoio ao presidente no Rio é tensa, cheia de rachaduras, e depende de sua capacidade em escapar das investigações sobre corrupção envolvendo sua família, conduzidas pelo Ministério Público Estadual e pela Polícia Civil. O caminho para a permanência no Planalto passa pelo controle do Palácio Guanabara.
* CIENTISTA POLÍTICO DA UERJ