O ex-ministro da Justiça Anderson Torres disse na manhã desta quinta-feira, 10, que não teve participação nas ações da Polícia Rodoviária Federal (PRF) nos bloqueios das estradas no segundo turno das eleições de 2022, realizado em 30 de outubro. “Eu não tinha interferência no planejamento interno da PRF e muito menos da PF”, disse Torres no depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos, da Câmara Legislativa do Distrito Federal.
Questionado pelo presidente do colegiado, deputado Chico Vigilante (PT-DF), o ex-ministro da Justiça disse que a PRF e a Polícia Federal tinham o próprio planejamento. “Agiram confirme o planejamento delas. Isso não é atribuição do Ministério da Justiça”, afirmou Torres.
A mesma afirmação foi feita no discurso que Torres fez na abertura da sessão da CPI. “Gostaria de esclarecer que nunca determinei, ou sugeri, ao diretor-geral da PRF, ou ainda a qualquer pessoa, que interferisse no processo eleitoral de modo a beneficiar qualquer um dos candidatos”, disse o ex-ministro. “Nossa determinação em relação à eleição sempre foi a de reprimir a compra de votos e os demais crimes eleitorais.”
Nesta quarta-feira, 9, o ex-diretor-geral da PRF, Silvinei Vasques, foi preso por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, por causa dos bloqueios que a corporação fez no dia das eleições. Ele é suspeito de ter usado o cargo e as funções da corporação para beneficiar Jair Bolsonaro (PL), então candidato no pleito.
Dias antes da votação, Vasques participou de uma reunião no Palácio do Alvorada, com a coordenação de campanha de Bolsonaro. Nessa ocasião, como mostrou o Estadão, foi desenhada a estratégia de bloqueio de rodovias federais, com o propósito de fiscalizar o transporte irregular de eleitores, diante da gratuidade de transportes garantida pelo Supremo.
Na semana seguinte à reunião, Torres e Vasques concederam uma coletiva lado a lado, com Márcio Nunes, ex-diretor-geral da PF, para esclarecer a estratégia de segurança elaborada pelo governo para o segundo turno das eleições.
A Polícia Federal investiga detalhes das reuniões às vésperas das eleições entre Silvinei e Anderson Torres. O objetivo é verificar se os auxiliares do ex-presidente estavam diretamente envolvidos em uma suposta tentativa de frear votos que poderiam ser conferidos ao então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Torres defendeu a atuação do ex-diretor da PRF na CPI e respondeu a Vigilante, mudando o assunto. Ele falou sobre os bloqueios que manifestantes bolsonaristas fizeram nas estradas depois da derrota do ex-presidente nas urnas. O presidente perguntou se Vasques teria lhe desobedecido, e o ex-ministro respondeu que não. “Eles (da PRF) trabalharam dia e noite sem parar, sem folga, para tentar desobstruir. Foram milhares de pontos de bloqueio. Os governadores não se envolveram muito em ajudar. Foi uma coisa realmente muito difícil.”
Assista ao depoimento de Anderson Torres ao vivo
O depoimento de Torres nesta quinta-feira repete a estratégia dele na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro. No Congresso, o ex-ministro chamou a minuta de golpe encontrada na casa dele no dia 10 de janeiro de “aberração jurídica” e negou qualquer responsabilidade sobre as manifestações. O ex-ministro evitou declarações polêmicas e frustrou a base governista, que esperava avançar no colegiado a partir desse depoimento.
A CPI da Câmara Legislativa do DF investiga os mesmos fatos da CPMI que tramita no Congresso. Apesar de se debruçarem sobre os mesmos crimes, os dois colegiados têm atuações com competências distintas. A CPI da Câmara fica mais restrita às autoridades estaduais, e pode sugerir providências em relação ao governador, Ibaneis Rocha (MDB), que ficou meses afastado do cargo por ordem do Supremo.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.