Anistia a condenados por 8 de Janeiro divide deputados e senadores; veja dados de pesquisa exclusiva

Para base governista, resultados mostram que proposta não deve ser discutida, enquanto para a oposição, há cenário viável para a aprovação da medida

Foto do author Gabriel de Sousa
Atualização:

BRASÍLIA - Pesquisa realizada pelo instituto Ranking dos Políticos, e obtida pelo Estadão, mostra que a anistia aos condenados pelos Atos de 8 de Janeiro divide o Congresso Nacional. Na Câmara, 50% dos parlamentares são favoráveis à proposta e 41,8% não. Já no Senado, os que apoiam são 46,2%, enquanto os opositores somam 38,4%.

Anistia aos golpistas de 8 de Janeiro divide a opinião de deputados e senadores Foto: Wilton Junior/Estadão

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Entre os deputados, 8,2% não emitiram opinião sobre a proposta ou não quiseram responder. No Senado este índice é de 15,4%.

O Ranking dos Políticos ouviu 110 deputados de 18 diferentes partidos e 26 senadores de 11 diferentes siglas, respeitando o critério de proporcionalidade partidária, entre os dias 11 e 12 de fevereiro. A margem de erro é de 3,5 pontos porcentuais para mais ou para menos.

A pesquisa foi realizada antes de vir a público a denúncia do Ministério Público contra 34 acusados de organizar tentativa de golpe, entre eles o ex-presidente Jair Bolsonaro.

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Nesta terça-feira, 18, Bolsonaro foi ao Congresso e voltou a defender a aprovação da anistia. Segundo ele, já haveria número suficiente para aprovar a proposta. “Há dez dias eu conversei com o (Gilberto) Kassab. O que eu sinto conversando com parlamentares como os do PSD, a maioria votaria favorável. Acho que na Câmara já tem quórum para aprovar a anistia”, declarou Bolsonaro a jornalistas.

Para a proposta ser aprovada na Câmara e no Senado, é necessário haver uma maioria simples dos parlamentares presentes. Passado pelas duas casas, o texto ainda depende da sanção pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O Congresso, porém, tem o poder para derrubar um eventual veto do petista.

A proposta de lei que anistia os envolvidos nos atos de 8 de Janeiro contém brechas que podem possibilitar a habilitação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que está inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), na eleição presidencial de 2026. O texto está engavetado e aguarda a análise de uma comissão especial pela Câmara.

De acordo com Juan Carlos Arruda, diretor-geral do Ranking dos Políticos, o levantamento mostrou que o projeto de anistia é “altamente sensível” e reflete as divisões que existem no Congresso. Arruda, por outro lado, atesta que há um cenário para discussão do tema, que agora depende de decisões dos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP).

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“O que ficou esclarecido é que existe um caminho viável para se pautar, e que a rejeição à proposta não é tão alta. Cabe agora uma decisão dos presidentes Davi Alcolumbre e Hugo Motta”, afirmou Arruda.

Base e oposição ao governo Lula se dividem sobre resultados do levantamento

Deputados e senadores da base governista e da oposição reagiram de forma diferente ao resultado da pesquisa. Para os aliados de Lula, a divisão dos parlamentares mostra que o tema não deve ser colocado em pauta por não ser consensual. Pelo lado dos bolsonaristas, os números indicam que proposta tem um cenário viável para ser aprovada no Congresso.

Para o deputado Maurício Marcon (Podemos-RS), a pesquisa reflete a articulação que está sendo feita entre a oposição e os parlamentares de centro. Segundo o parlamentar, grande parte do grupo foi convencido a apoiar a anistia aos condenados pela depredação dos prédios públicos.

“Pelas conversas de bastidores, eu dou a certeza que, se vier a voto, vai ser um número maior do que o atestado pela pesquisa. A nossa ideia é que o presidente Hugo acelere [a tramitação da proposta] o máximo possível”, afirmou.

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Já para o deputado federal Rogério Correia (PT-MG), os resultados do levantamento mostram que a proposta não deve ser votada nas Casas por não haver um consenso entre os parlamentares. Segundo ele, o movimento pela anistia é mais uma tentativa de Bolsonaro para “conturbar o clima político” do País.

“Não tem a menor chance e a menor hipótese de ser votado. Alguma coisa assim que divide muito não vai ser colocado em votação, nem aqui e nem no Senado. Isso é mais uma onda do Bolsonaro, que sabe que vai ser preso”, afirmou.

O senador Eduardo Girão (Novo-CE) diz que a pesquisa do Ranking dos Políticos revela que o debate sobre a anistia aos condenados pelos atos golpistas está “maduro”. Segundo o parlamentar, o levantamento reflete uma pressão que existe no Senado para que o tema seja discutido.

“Na Câmara deve estar mais maduro ainda, mas no Senado já existe uma pressão em relação a este tema. O brasileiro já entendeu que há uma mão pesada em relação a isso, enquanto corruptos estão soltos”, disse Girão.

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De acordo com o líder do PSD no Senado, senador Omar Aziz (AM), a pesquisa mostra que, assim como o País, o Congresso está dividido sobre a questão da anistia aos envolvidos no 8 de Janeiro. Aziz apontou ainda que o levantamento é um reflexo do cenário atual, e pode mudar conforme os recados da opinião popular.

“Se você tem um País dividido, você tem um Congresso dividido. Tem que passar pelas duas Casas, então vamos esperar chegar no Senado para a gente ver o clima. O clima depende muito da opinião popular, e a opinião popular mexe muito com o Congresso”, afirmou Aziz.

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