BRASÍLIA - Os dados revelados pela Polícia Federal sobre o esquema de montagem de dossiês para abastecer a campanha da candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, difere do que foi dito pelo ex-delegado Onésimo Sousa à Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência em dois pontos: a PF não identificou quem é o "pagador" das despesas do comitê de Dilma e não informou sobre viagens internacionais feitas pelos encarregados de procurar no exterior documentos comprometedores contra o candidato do PSDB, José Serra, e seus familiares.
O ex-delegado da Polícia Federal foi ouvido pela comissão no dia 17 de junho. No depoimento, ele disse que Bené, como é conhecido o empresário Benedito de Oliveira Neto, foi apresentado como sendo "a pessoa encarregada de efetuar os pagamentos", caso ele tivesse fechado o contrato de R$ 1,6 milhão com os jornalistas Amaury Ribeiro Jr. e Luiz Lanzetta, para que investigasse José Serra e os petistas Rui Falcão e Valdemir Garreta.
Segundo ele, Bené estava presente nessa conversa, ocorrida no fim de abril, num restaurante em Brasília. Ele disse que foi convidado por Lanzetta, "em nome do coordenador da campanha de Dilma, o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel", para investigar vazamento de informações no comitê central da candidata. Mas que o tema passou a ser outro, sobre a montagem de dossiês, logo no início do encontro.
Fernando Pimentel não compareceu. "Eles pediram desculpas pela ausência do ex-prefeito, parece que ele teria um outro compromisso", informou Onésimo. "Mas quando expuseram o que queria eu perguntei: vocês querem editar o Aloprados 2", contou, referindo-se ao esquema montado pelo PT há quatro anos para inviabilizar a vitória de José Serra ao governo de São Paulo.
Dinheiro vivo. Ao responder ao deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), Onésimo disse no depoimento que, se aceitasse o contrato, o pagamento seria feito em dinheiro vivo "através da pessoa que se intitulava o pagador, que estava lá presente". É ele, segundo Onésimo, o jovem empresário Benedito de Oliveira, que tem chamado a atenção pela quantidade de contratos firmados com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Uma das suas empresas, a Dialog, está sob investigação do Tribunal de Contas da União (TCU) e da Controladoria-Geral da União (CGU) pela suspeita de irregularidades em licitações. Aos 35 anos, Bené tornou-se uma espécie de patrocinador do comitê de Dilma.
O delegado contou, ainda, que tentando convencê-lo a aceitar a tarefa de preparar o dossiê, um dos seus interlocutores falou das vezes em que foi procurar dados fora do País, viajando na primeira classe. "Um deles me disse que viajava, que foi ao exterior levantar esses dados e que ia em avião de primeira classe, tentando talvez me entusiasmar e não me entusiasmou nada", contou. "E um falou que teria conseguido dois tiros fatais contra um candidato."
Autor do requerimento convidando o ex-delegado a depor em audiência pública, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) questiona por que a Polícia Federal omite dados sobre o pagador e as viagens internacionais.
"O pagador deve ser o mesmo ligado ao PT que pagava pelo flat do jornalista Amaury Jr.", deduz o senador. "A demora, sob o ponto de vista da investigação policial, é compreensível, mas não justifica a omissão em pontos importantes do depoimento." Dias disse não ter dúvidas de que Amaury, Lanzetta e Benedito Oliveira tentaram encontrar "um bode expiatório para encobrir o esquema de dossiês fabricados pelo PT".
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