Apoio de ex-presidente no 2º turno gera duelo entre bolsonaristas oficiais e informais

Bolsonaro leva 26 apadrinhados ao segundo turno, mas em algumas cidades confronto será com nomes tão ou mais à direita

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Atualização:

BRASÍLIA E SÃO PAULO - Jair Bolsonaro (PL) deve se deparar com um dilema no segundo turno das eleições municipais. Após ver eleitos 56 aliados entre os 154 candidatos que tiveram seu apoio oficial, ele agora apoiará 26 nomes no pleito a ser realizado no dia 27 de outubro. Mas em 17 cidades o duelo se dará no campo da direita, o que deve aumentar o custo de um eventual envolvimento público na campanha dos aliados.

Em cidades diversas como Santos (SP), Goiânia, Imperatriz (MA) e Porto Velho, o PL bolsonarista vai confrontar partidos como Republicanos, União Brasil, Progressistas e Podemos, que muitas vezes disputam o eleitorado conservador com a sigla de Bolsonaro. Em outras, o ex-presidente pode melindrar governadores aliados ou lideranças locais que o apoiam.

O ex-presidente Jair Bolsonaro em ato com os governadores Tarcísio de Freitas e Ronaldo Caiado Foto: Taba Benedicto/Estadão

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Em Santos e São José do Rio Preto (SP), Bolsonaro está do lado oposto de um de seus companheiros mais próximos na política: seu ex-ministro da Infraestrutura e governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Rosana Valle (PL) e coronel Fabio Candido (PL) são apoiados pelo ex-presidente, enquanto Rogério Santos (Republicanos) e Itamar Borges (MDB) têm apostado na imagem de Tarcísio para vencer o pleito.

Já em Goiânia e na vizinha Aparecida de Goiânia, os candidatos oficialmente bolsonaristas vão enfrentar aliados do governador Ronaldo Caiado (União). Na capital, Fred Rodrigues (PL) terá duelo com Sandro Mabel (União), e no interior professor Alcides (PL) terá pela frente o “caiadista” Leandro Vilela (MDB).

Ao contrário de Tarcísio, no entanto, Caiado tem vivido relação conturbada com Bolsonaro enquanto se posiciona como presidenciável para 2026. A temperatura chegou ao máximo em setembro, quando o ex-presidente chamou o governador de “covarde” em comício realizado na capital goiana, sem citá-lo nominalmente. Caiado afirmou que a disputa com Bolsonaro não afeta sua candidatura e que, mesmo sem o apoio do PL, ele será candidato na próxima disputa presidencial.

Nada deve se comparar a Curitiba, no entanto, onde Bolsonaro injetou apoio de última hora na candidata Cristina Graeml (PMB), o que a garantiu no segundo turno contra a chapa de seu próprio correligionário, Paulo Eduardo Martins, vice de Eduardo Pimentel (PSD). Na cúpula do PL, a cidade é considerada um “estrago que já foi feito”, já que Bolsonaro deve manter o apoio à “bolsonarista informal” Graeml, e o episódio deu ao ex-presidente a pecha de traidor.

Bolsonaro têm emprestado pessoalmente seu capital político a aliados. Ele tem viajado o País para participar de carreatas e comícios com seus apadrinhados, mas sua participação não responde a um padrão — e sim pela facilidade de logística e afinidade pessoal, segundo dirigentes do PL. O ex-presidente tem marcado presença tanto em disputas em que o candidato bolsonarista está na frente quanto em cenários desfavoráveis, seja contra a esquerda ou contra a direita.

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Em Anápolis (GO), por exemplo, Marcio Correa (PL) ficou por 0,41% de vencer o pleito no primeiro turno e deve levar a prefeitura com folga em 27 de outubro, mas contou com Bolsonaro numa carreata na semana passada. Já em João Pessoa, o prefeito Cícero Lucena (PP) é quem esteve por 0,84% de se eleger na primeira votação, e mesmo assim o ex-presidente esteve na quinta-feira passada, 17, no comício de seu ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga — 27 pontos percentuais atrás do rival.

Candidatos têm recorrido a acenos ao eleitorado bolsonarista mesmo sem o carimbo oficial do ex-presidente. Léo Moraes (Podemos), em Porto Velho, por exemplo, divulgou ter sido contra a criação de um conselho estadual pró-LGBT e defendeu Pablo Marçal quando o candidato teve as redes sociais derrubadas pela Justiça Eleitoral. Já Rildo Amaral (PP), em Imperatriz, usou a imagem do ex-presidente americano Donald Trump numa publicação no Instagram e precisou rebater uma notícia falsa de que teria apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em sua campanha.

A presença unânime da direita no segundo turno dessas cidades dá algum conforto à cúpula do PL, que prefere encarar o cenário mais como predomínio do bolsonarismo do que como um racha. “Qualquer que seja o resultado, vai mostrar uma direita viva e um sentimento do PL com o que aspira a sociedade brasileira, e para a gente isso é extremamente relevante”, diz o senador pelo Rio Grande do Norte e secretário-geral do partido, Rogério Marinho.

Bolsonaristas informais adotaram ‘estilo Marçal’

Com discurso antissistema e levantando bandeiras da direita conservadora, alguns dos “bolsonaristas informais” têm mimetizado técnicas usadas pelo candidato derrotado à Prefeitura de São Paulo Pablo Marçal (PRTB), terceiro colocado com mais de 1,7 milhão de votos. Graeml, em Curitiba, não só adotou postura belicosa em debates e protagonizou embates com a imprensa, mas também usou o apoio de Marçal à sua candidatura para agregar mais simpatizantes às ideias da direita conservadora.

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Candidata à reeleição em Campo Grande, Adriane Lopes (Republicanos) levou a melhor numa disputa contra Beto Pereira (PSDB), apoiado por Bolsonaro, e agora no 2º turno encara Rose Modesto (União Brasil). Adriane teve desde o início o apoio da ex-ministra da Agricultura de Bolsonaro Tereza Cristina e, por ação dela, agora tem também o apoio do ex-presidente. Durante a campanha, Adriane tenta emplacar a imagem de que é a única representante verdadeiramente de direita na disputa e usa um boné rosa com sua inicial, “A”, lembrando Marçal e seu boné azul em São Paulo.

Bolsonaristas informais também se deram bem no interior, como em Angra dos Reis (RJ) e em Serra (ES). Na cidade fluminense, Cláudio Ferreti (MDB) disputará o segundo turno contra o candidato do PL, Renato Araújo. Ferreti foi alvo de uma denúncia do próprio Bolsonaro na Polícia Federal pelo uso de sua imagem em materiais de campanha. Santinhos do candidato diziam “Bolsonaro em Brasília, Ferreti em Angra”.

No município capixaba, Pablo Muribeca (Republicanos) foi proibido pela Justiça Eleitoral de usar a imagem de Bolsonaro em sua campanha após denúncia de seu adversário Igor Elson (PL). Apresentando-se como candidato antissistema ao eleitor do Espírito Santo, ele conseguiu vaga no 2º turno contra Weverson Meireles (PDT), deixando para trás o adversário do PL.

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