A eleição é municipal. Mas enquanto os pré-candidatos Ricardo Nunes(MDB), atual prefeito de São Paulo, e Guilherme Boulos (PSOL) montam sua chapas e escolhem suas estratégias, seus respectivos padrinhos travam uma disputa paralela. O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) querem medir forças, se possível, nacionalizando a disputa e reeditando a eleição presidencial de 2022. Será essa uma estratégia eficiente? Pelo visto, não.
Dados levantados pelo Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe) revelam que, em metade das eleições para prefeito de São Paulo, o candidato vencedor não tinha o apoio nem do governador e nem do presidente da República. Jânio Quadros, Luiza Erundina, Paulo Maluf, Celso Pitta e Marta Suplicy estão nessa lista. Com o apoio da presidente, no caso Dilma Rousseff, foi eleito para a Prefeitura o hoje ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Já os governadores foram mais eficientes nessa transferência de votos. Eles ajudaram a eleger quatro candidatos: José Serra (PSDB), apoiado pelo governador Geraldo Alckmin; Gilberto Kassab com o apoio de José Serra; João Doria, com o apoio de Alckmin, e Bruno Covas que teve o apoio de Doria. “É preciso entender qual é o principal fator, numa campanha eleitoral na qual o incumbente é candidato à reeleição”, observa o cientista político Antônio Lavareda.
Incumbente é o nome que Lavareda dá ao candidato à reeleição que, já na largada, sai com a vantagem de participar da disputa estando no cargo ou, como se diz popularmente, com a caneta e o cofre na mão. “Esse fato, por si só, transforma a campanha em um plebiscito. Tudo o mais passa a ser coadjuvante”, afirma Lavareda.
Pesquisas mostram que, no primeiro turno, principalmente, a disputa se dá entre a capacidade do candidato que busca a reeleição de mostrar suas realizações e, ao mesmo tempo, de despertar emoções negativas sobre seus oponentes. Dados como a falta de experiência, ideias radicais, pouco apreço pelos valores familiares são os recursos mais comuns usados pelo incumbente contra seus adversários.
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Porém, o cenário muda se houver segundo turno. Aí, sim, Bolsonaro poderá tentar exercer sua influência, mantendo o apoio do eleitorado que votou nele em 2022. E o presidente Lula, que ganhou a eleição na cidade nesse mesmo ano poderá usar sua liderança para ajudar Boulos. Isso por que, no segundo turno, a polarização detém um papel maior, a disputa é simplificada entre os eleitores de X e os de Y e, para influenciar aqueles que não votaram em nenhum dos dois, o papel daqueles que os apoiam passa a ser muito importante.
É nesse período, também, que a disputa passa a ser mais polarizada e, aí, a empatia em relação aos apoiadores pode ser decisiva. Entretanto, sempre é bom lembrar que os governos não são estanques. Sendo assim, o apoio de Lula pode ser mais ou menos eficiente de acordo com a avaliação dele naquele momento. Em relação a Bolsonaro, no entanto, a eficácia do seu apoio dependerá da memória do governo dele.
Portanto, não será tão simples como parece nacionalizar a disputa municipal de 2024 em São Paulo. E uma série de fatores vão determinar o quanto esse apoio de Bolsonaro e Lula poderá ajudar seus respectivos candidatos, influenciando eleitores e transformando a eleição para prefeito de São Paulo em um plebiscito sobre seus respectivos governos.
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