Principal trunfo de Ricardo Nunes (MDB) para conter Pablo Marçal (PRTB), o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) dividiu palanque com o influenciador em uma ocasião em 2022, o chamou de “transformador de almas” e agora se vê na mira do candidato do PRTB, que diz que ele sofrerá consequências eleitorais por ter apoiado o prefeito.
Interlocutores de Tarcísio avaliam que as críticas de Marçal têm dois objetivos: o mais imediato é descredibilizar o governador para tentar neutralizar o papel dele como cabo eleitoral de Nunes. O segundo é tentar minar a liderança de Tarcísio na direita — com Bolsonaro inelegível, o governador é apontado como candidato a presidente, cargo que Marçal abertamente cogita disputar em 2026. Tarcísio, por sua vez, repete que tentará a reeleição para o governo paulista.
Marçal declarou em sabatina à TV Globo na quarta-feira, 25, que ajudou Tarcísio “diretamente” na campanha há dois anos. Interlocutores do governador negam e dizem que eles se encontraram apenas uma vez durante a campanha, quando Marçal declarou apoio a Tarcísio em um comício organizado pela deputada estadual Dani Alonso (PL) em Marília (SP).
“Eu vim aqui para abraçar o prefeito Daniel Alonso e junto vem esse transformador de almas, essa pessoa que inspira tantos brasileiros, Pablo Marçal. Eu não esperava isso. Foi uma surpresa maravilhosa. Pablo Marçal eu fiquei sabendo [que me apoia] hoje de manhã. É uma alegria muito grande”, disse Tarcísio no dia 10 de setembro de 2022. Aliados do governador minimizam o ato conjunto, dizem que Marçal foi convidado por Dani Alonso e que o contexto era diferente do atual. A parlamentar confirma que foi a responsável pelo convite a Marçal.
Procurado por meio da assessoria de imprensa, Tarcísio não quis se posicionar sobre a declaração e as críticas que o candidato do PRTB faz a ele.. A assessoria de Marçal não respondeu aos contatos da reportagem.
Dois anos depois, o governador justifica que Nunes foi parceiro de seu governo e que uma eventual ida de Marçal para o segundo turno favorece Guilherme Boulos (PSOL) e abre as portas para a esquerda vencer a eleição paulistana. Ele também coloca em dúvida a capacidade do ex-coach administrar a maior cidade do país.
Marçal tem adotado um discurso duplo: elogia a gestão do governador, diz que o respeita e gosta dele. Ao mesmo tempo, apelidou o chefe do Executivo paulista de “goiabinha” — verde, ou patriota, por fora e vermelho, cor associada ao comunismo, por dentro — e afirma que Tarcísio terá um problema eleitoral em 2026 se continuar o atacando.
“Gosto muito dele e sei que ele está errando. Se ele quer defender o prefeito, que ele defenda o prefeito sem me atacar. [...] Algumas vezes ele acaba deslizando, me atacando”, disse Marçal. “Tenho um respeito muito grande por você, Tarcísio. Agora, não enterre sua carreira. É muito ruim. As pessoas estão indo no seu Instagram e sua equipe está bloqueando os comentários”, disse Marçal na quarta-feira.
O ex-coach argumenta que Tarcísio descumpriu um suposto acordo de não agressão entre eles ao citá-lo nominalmente em uma propaganda eleitoral em que pedia votos para Nunes. Após ser expulso do debate do Flow na segunda-feira, o candidato também cobrou o governador em uma transmissão ao vivo nas redes sociais. “Falar em propaganda é fácil, quero ver me peitar pessoalmente”, cobrou Marçal.
“Existe uma tática de fazer pressão que comigo não funciona. Eu sou absolutamente inerte a esse tipo de pressão”, disse Tarcísio ao podcast Inteligência Ltda na segunda-feira, acrescentando que é uma “bobagem” Marçal acreditar que “monopoliza os princípios bolsonaristas”. O governador confirmou que se encontrou com o candidato do PRTB. “Eu expliquei por que eu apoio Nunes. Expliquei que Nunes é um cara bom caráter, humilde, trabalha muito e está dando resultado. Foi minha opção lá atrás e vou com ele até o fim”, completou.
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Apesar das ressalvas ao influenciador, Tarcísio declarou que apoiará Marçal se ele for para o segundo turno contra Boulos. “Marçal é uma incerteza. O Boulos é certeza de dar errado”, concluiu.
Além das declarações públicas, o governador também teve atuação relevante nos bastidores para ajudar Nunes e neutralizar Marçal. Ele atuou para impedir que Jair Bolsonaro (PL) continuasse flertando com a candidatura do ex-coach e também se reuniu com líderes evangélicos para convencê-los a apoiar o prefeito quando o candidato do PRTB intensificou os acenos ao público desta religião.
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