O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez pronunciamento em rede nacional nesta terça-feira, 24, e voltou a ser alvo de panelaços em ao menos 10 grandes cidades do País: São Paulo, Brasília, Curitiba, Salvador, Rio de Janeiro, Recife, Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre e Belém. Os protestos começaram com mais intensidade a partir das 20h30, quando o presidente deu início ao discurso. A hashtag (palavra-chave) #ForaBolsonaro esteve entre os assuntos mais comentados no Twitter à noite.
Em pronunciamento, Bolsonaro criticou o fechamento de escolas e voltou a citar a cloroquina, remédio que ainda não tem a eficácia contra o coronavírus confirmada.
Grande parte de sua fala foi para atacar a imprensa por "espalhar o pavor" do novo coronavírus no País. Mesmo com a recusa em mostrar os exames que apontariam negativo para a doença, o presidente disse também que, pelo seu histórico de atleta, nada sentiria se fosse acometido pela covid-19.
Além de ter completado 65 anos no último sábado e fazer parte do grupo de risco da enfermidade, Bolsonaro viajou com ao menos 22 pessoas que receberam diagnóstico positivo para a doença.
Segundo ele, “grande parte dos meios de comunicação foram na contramão e espalharam exatamente a sensação de pavor, tendo como carro-chefe o anúncio do grande número de vítimas na Itália”. E justificou. “Um país com grande número de idosos e com um clima totalmente diferente do nosso.”
Para ele, o cenário potencializado pela mídia foi “perfeito” para que uma "verdadeira histeria se espalhasse” no Brasil. “Contudo, percebe-se que de ontem para hoje parte da imprensa mudou seu editorial. Pede calma e tranquilidade. Isso é muito bom. Parabéns imprensa brasileira, é essencial que o equilíbrio e a verdade prevaleçam entre nós”, disse.
Bolsonaro avaliou que o coronavírus “em brevemente passará (sic)” e pregou o fim de restrições impostas por estados, mesmo com recomendação contrária do Ministério da Saúde. “Nossa vida tem que continuar, os empregos devem ser mantidos, o sustento das famílias deve ser preservado. Devemos, sim, voltar à normalidade. Algumas poucas autoridades estaduais e municipais devem abandonar o conceito de terra arrasada. A proibição de transportes, o fechamento de comércio e o confinamento em massa”.
O mandatário ainda elogiou o ministro da Saúde, Henrique Mandetta, e citou estudos feitos nos Estados Unidos e no Brasil com o uso da cloroquina no tratamento da covid-19. “Sem pânico ou histeria, como venho falando, venceremos o vírus”.
Panelaços
Em São Paulo, aos gritos de "Fora Bolsonaro", manifestantes bateram panela nos bairros Lapa, Vila Madalena, Bela Vista, Santa Cecília, Pompéia, Jardins, Consolação, Vila Romana, Higienópolis e Perdizes. Moradores também usaram apitos para protestar e projetaram imagens do presidente em prédios da capital.
No Rio de Janeiro, foram registrados panelaços em Santa Teresa, Flamengo, Laranjeiras, Cosme Velho, Gloria.
Vizinhos do presidente também aderiram aos atos. Barulhos de panelas foram ouvidos na Asa Norte, com "Fora Bolsonaro", e na Asa Sul.
Moradores da região central de Belo Horizonte e de bairros como Funcionários e Sagrada Família também se manifestaram durante o discurso do presidente em rede nacional.
Em Recife, houve panelaço nos bairros Boa Viagem, Casa Amarela, Rosarinho, Derby e Boa Vista.
Na capital baiana, Salvador, manifestantes bateram panela em ao menos cinco bairros: Jardim Apipema, Pituba, Armação, Lucaia e Rio Vermelho. Em vídeos publicados na internet, é possível ver moradores acendendo e apagando as luzes de suas casas e apartamentos.
Em Fortaleza, o som de panelas foi ouvido nos bairros Fátima, Meirelles, Damas, Mucuripe e Benfica.
A capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, protestou contra o presidente Jair Bolsonaro no Centro Histórico e nos bairros Menino de Deus e Cidade Baixa.
Em Belém, moradores dos bairros Nazaré, Umarizal e Batista Campos também registraram panelaços.
Na semana passada, o mandatário foi alvo de quatro panelaços. O último ocorreu no sábado, 21, dia em que o presidente completou 65 anos. Na data, moradores de ao menos 11 grandes cidades do País se manifestaram contra o presidente.
Na quarta-feira, 18, diante da convocação de panelaços contra o seu governo, o mandatário classificou o movimento contra sua gestão como “espontâneo” e uma “expressão da democracia”. Ele ainda criticou a divulgação da imprensa sobre os atos e citou um panelaço a favor do governo, que ocorreram em ao menos oito capitais.
Repercussão
Diversas autoridades do País se manifestaram após o pronunciamento de Bolsonaro. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), afirmou que o discurso do presidente foi grave e cobrou uma liderança "séria, responsável e comprometida com a vida e a saúde da sua população".
O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, afirmou que o discurso do presidente foi "desconectado das orientações dos cientistas, da realidade do mundo e das ações do ministério da Saúde".
“Pronunciamento de hoje mostra que há poucas esperanças de que Bolsonaro possa exercer com responsabilidade e eficiência a Presidência da República. Os danos são imprevisíveis e gravíssimos”, declarou o governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B).
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