Bastidores do app das prévias do PSDB: o legado que virou ‘mico’

Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul foi escolhida para desenvolver aplicativo após recusa de USP, Unicamp e UFMG

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Foto do author Pedro  Venceslau

Quando o PSDB decidiu, em maio, que investiria na criação de um aplicativo para que todos os seus filiados pudessem votar remotamente nas prévias presidenciais da legenda, a ideia causou o primeiro grande atrito interno entre as pré-campanhas dos governadores Eduardo Leite (RS) e João Doria (SP). 

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Com um histórico de três prévias no maior colégio eleitoral do País, os paulistas viam a proposta com desconfiança, enquanto os gaúchos apostaram que o aparato poderia zerar o jogo da disputa interna.

Apesar das resistências, o time de Doria, pressionado pela narrativa de que o "voto impresso", uma bandeira bolsonarista, seria um retrocesso, aceitou a criação do modelo inédito na política brasileira. O PSDB, então, abriu um chamamento público e acionou as universidades públicas brasileiras.

Algumas instituições como a USP, a Unicamp e a UFMG responderam logo que não conseguiriam fazer um aplicativo tão complexo dentro do prazo estabelecido. Apenas a Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Faurgs) aceitou o desafio de criar o aplicativo, ao custo de cerca de R$ 1,3 milhão de recursos públicos.

Os governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS) durante as prévias do PSDB: as equipes divergem sobre a data de retomada das prévias e estão reunidas com o comando da legenda Foto: Dida Sampaio/Estadão

A principal preocupação naquele momento não era com a operacionalidade do sistema, mas com a segurança. Por isso, a sigla contratou uma empresa de auditoria, a Kryptus, para detectar eventuais falhas. Análises da consultoria especializada em tecnologia apontaram possíveis brechas no sistema capazes de permitir uma fraude em massa, o que despertou a desconfiança dos dois lados.

Por causa disso, o partido criou uma nova comissão interna nas prévias com representantes dos pré-candidatos com o objetivo de acompanhar o desenvolvimento do aplicativo. No ambiente interno, além da tensão entre as equipes de Leite e Doria, outro foco de conflito se estabeleceu: entre os técnicos da Kryptus X Faurgs, que atuaram o tempo todo em uma sala isolada dentro da sede nacional do PSDB, em Brasília.

Para mediar os conflitos, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, contratou um terceiro técnico como consultor para que ele tomasse as decisões finais, como se fosse um VAR no processo. "Foi uma tragédia anunciada. Esse App era temeridade. Virou um mico", disse o tesoureiro nacional do PSDB, César Gontijo, ligado a Doria.

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A expectativa na cúpula tucana era essa. Araújo chegou a se reunir com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Luís Roberto Barroso, para informar que o partido iria doar a tecnologia para todas as legendas que optassem pela consulta interna na definição de seus candidatos. 

No entanto, conforme o Estadão mostrou, desde que a plataforma foi lançada surgiram reclamações relacionadas ao seu funcionamento. Muitos filiados não estavam conseguindo baixar o aplicativo por terem celulares antigos e outros não conseguiam passar do cadastramento.

Na data de votação, 21, a tentativa de mitigar o problema falhou. O processo de votação em aplicativo foi pausado por questões técnicas, porque a plataforma não teria comportado a demanda desde o início do dia, e os eleitores não conseguiam acessar a tela de votação dada a lentidão do sistema.

“Não consigo sair da fase de autenticação. Aparece que não estou conectado à internet, sendo que estou”, relatou o filiado Ícaro Vieira, de 25 anos. “Eu tenho que colocar meu título, tirar uma selfie e validar. Essa validação demora muitos minutos. Depois, o aplicativo me redireciona para a tela em que tenho de colocar o título de eleitor novamente. E assim eu fico várias horas.”

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Em nota, a Faurgs afirmou que investiga as causas da instabilidade do aplicativo e que levará o resultado a público. “Ao contrário do que foi especulado, os problemas não têm qualquer relação com a compra de licenças para suportar o reconhecimento facial dos filiados”, disse, ao pontuar que o número de certificados disponíveis permitiu o cadastramento de mais de 44 mil eleitores. A fundação também informou que a segurança do sistema não foi violada e que os votos registrados poderão ser mantidos na retomada da votação. A data de retomada ainda não foi definida. A decisão sobre o encaminhamento das prévias - quando e como serão finalizadas - é aguardada ainda para esta segunda-feira,22. As equipes de Doria, com apoio de Virgílio, e Leite divergem sobre esse encaminhamento e estão reunidas com o comando da legenda, a Faurgs e demais empresas envolvidas na votação por meio do app.

A reportagem não conseguiu contato com representantes da Faurgs e da Kryptus./COLABOROU GUSTAVO QUEIROZ

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