Integrantes do PT de Minas Gerais enxergam o recente entrosamento entre Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como sinal de que o presidente da República tenta cacifar o senador para uma candidatura ao governo de Minas Gerais em 2026. Se o cenário se concretizar, o PT não teria candidato próprio ao cargo, o que só ocorreu em duas eleições desde a redemocratização.
Embora se coloque apenas como mediador entre Romeu Zema (Novo-MG) e o governo federal, o presidente do Senado tomou para si o protagonismo do principal debate da política mineira nos últimos anos ao articular uma proposta alternativa à do governador para o pagamento da dívida do Estado com a União. Como manda a etiqueta política, Pacheco tem dito que falta muito tempo para a eleição, mas não descarta se candidatar.
Nenhum integrante do PT mineiro participou da reunião na terça-feira, 21, na qual Pacheco apresentou a Lula a proposta de federalizar as estatais. Além do presidente do Senado e do ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, o Estado foi representado pelo presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), Tadeu Leite (MDB).
“Eu compreendo que o campo que hoje compõe o governo Lula precisa construir uma única candidatura. E que de fato, pela posição, pelas atividades colaborativas de Rodrigo Pacheco, ele é um player fortíssimo para reivindicar a candidatura ao governo do Estado”, disse o deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG), o mais votado da federação PT-PV-PCdoB nas últimas eleições.
A aproximação de Rodrigo Pacheco e Lula ocorre no contexto em que o PT tenta se reerguer no Estado após a gestão de Fernando Pimentel (PT), que atrasou salários dos servidores e não repassou impostos devidos às prefeituras. O partido não lançou candidatos a governador e senador na última eleição e apoiou nomes do PSD: o ex-prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD-MG), e o hoje ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD-MG), aliado do presidente do Senado.
Embora a aliança entre as duas siglas já tenha sido editada uma vez, há petistas, como Rogério Correia (PT), que pregam cautela e consideram que ainda é cedo para definir se o acordo se repetirá nas próximas eleições. A aposta é que o partido se fortalecerá no Estado a partir das ações e obras que serão realizadas pelo governo federal. Outro ponto levantado é que o gesto de Lula ao senador mineiro também é determinado pela necessidade do governo conseguir aprovar projetos no Senado.
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Oficialmente, a posição é que o PT tentará construir uma candidatura competitiva para a próxima eleição. Porém, o presidente da legenda em Minas, Cristiano Silveira (PT-MG) não descarta aliança com nomes progressistas e que estejam ao lado do partido em “lutas importantes”. “Rodrigo Pacheco pode estar nessa condição? Hoje, estaria sim”, disse ele.
A aproximação entre Pacheco e Lula incomodou o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG). Aliado de Zema e oposição a Lula, ele foi à tribuna do Senado e cobrou que Pacheco o chamasse para as próximas reuniões com o presidente da República para tratar do tema. Azevedo admitiu que pode ser candidato a governador e criticou o discurso de “salvador da pátria”, sem citar nominalmente o presidente do Senado. “O que eles estão querendo fazer com o governador Romeu Zema é tudo pensando em eleição”, disse.
Debate sobre a dívida de Minas rachou PT
A discussão da dívida de Minas Gerais escancarou uma divisão interna no PT de Minas Gerais. Uma ala, formada principalmente pela bancada estadual, se aliou a Pacheco na articulação junto ao governo federal, enquanto Reginaldo Lopes, dos principais nomes da legenda no Estado, decidiu apresentar outra proposta.
O deputado federal discorda da federalização das estatais porque elas dão lucro ao Tesouro estadual. Ele propõe alterar a lei do Regime de Recuperação Fiscal para mudar a forma de cálculo dos juros da dívida e aplicar um redutor para os Estados que, como Minas Gerais, perderam arrecadação com a Lei Kandir.
O líder da oposição em Minas, Ulysses Gomes (PT-MG) chamou o colega de partido de “oportunista” e “pavão”, o acusou de não participar de reuniões de articulação contra a proposta de Zema e de apenas querer holofotes. Parte do que é hoje encampado por Pacheco foi defendido, inicialmente, pela oposição ao governador na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
“O Senado se une, o líder da bancada federal estava junto, os deputados aqui se unem. Mas tem um que está achando uma ideia sozinho. Deve ser uma ideia maravilhosa, incrível”, disse Gomes durante uma reunião do Legislativo mineiro na terça-feira, 21. “Ele vai caminhar bonitinho com sua proposta, porque nós aqui, unidos, vamos encontrar a solução junto com o presidente [da ALMG] Tadeu, o presidente do Senado e o presidente Lula”, acrescentou.
Procurado, Reginaldo Lopes disse que seu objetivo é colaborar com a discussão e que é legítimo que Pacheco lidere o processo. “É um desconhecimento da minha trajetória”, disse ele sobre a fala do companheiro de partido. Antes do desentendimento, a prefeita de Contagem, Marília Campos (PT-MG), que governa a segunda cidade mais populosa do Estado, chegou a cobrar que os parlamentares petistas construíssem uma nova proposta para a dívida em vez de apenas obstruir o projeto de Zema.
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