Cofre, saques e ex-assessor: entenda o esquema que atinge aliados de Arthur Lira em Alagoas

Operação da PF investiga suposto esquema de superfaturamento na compra de kits de robótica para escolas públicas em 43 cidades do Estado; Luciano Cavalcante, indicado por Lira para cargo na liderança do PP, está entre os alvos da Operação Hefesto

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Por Redação
Atualização:

Ainda que tenha dito não se sentir atingido, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), acompanha de perto os passos da Polícia Federal na investigação que mira seu ex-assessor Luciano Cavalcante e outros de seus aliados na política alagoana. Na semana passada, a PF deflagrou uma operação para apurar um suposto esquema de superfaturamento na compra de equipamentos de robótica para escolas públicas em 43 cidades de Alagoas. Agentes escalados na Operação Hefesto realizaram buscas em 27 endereços relacionados à fraude estimada em pelo menos R$ 8,1 milhões. Os mandados foram cumpridos no Distrito Federal, em Alagoas e outros três Estados. Cavalcante acabou exonerado nesta segunda-feira, 5.

O dinheiro usado na compra de kits de robótica veio do chamado orçamento secreto, mecanismo revelado pelo Estadão e sob influência direta de Lira, que atuava na distribuição das emendas; o modelo de repasse foi extinto por ordem do Supremo Tribunal Federal. Como mostrou a reportagem, Lira remeteu R$ 33 milhões para as prefeituras investigadas na aquisição dos equipamentos.

Arthur Lira e o seu ex-assessor, Luciano Cavalcante, que ainda atua na Liderança do PP na Câmara Foto: Reprodução/Instagram/@oficialarthurlira

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Lira, entretanto, não é citado na investigação. Após a PF deflagrar a operação, o presidente da Câmara afirmou à Globo News que não tem nada a ver com as suspeitas de irregularidades. “O que eu posso dizer é que eu, tendo a postura que tenho, em defesa das emendas parlamentares que levam benefícios para todo o Brasil, para toda a população, eu não tenho absolutamente nada a ver com o que está acontecendo. E não me sinto atingido, nem acho que isso seja provocativo”, disse.

Como mostrou o Estadão, interlocutores de Lira compreenderam a operação da PF como um movimento que interessa a seus adversários no Estado e até mesmo ao Palácio do Planalto, que tem enfrentado dificuldade de aprovar suas pautas prioritárias na Câmara. Esse grupo de aliados cobrou explicações da corporação sobre um suposto vazamento de informações da ação policial. Assim como a atuação da PF, decisões do Judiciário aumentaram a pressão sobre o presidente da Câmara.

Cronologia dos fatos

Operação da PF

  • A Polícia Federal instaurou a Operação Hefesto na manhã da última quinta-feira, 1º. A operação investiga um suposto esquema de superfaturamento na compra de equipamentos de robótica para escolas públicas em 43 cidades de Alagoas.
  • A ofensiva mirou Luciano Cavalcante, ex-assessor de Lira. Cavalcante mora em Maceió, é presidente do diretório do União Brasil em Alagoas e recebe R$ 14,7 mil de salário para atuar como assessor da liderança do PP na Câmara, em Brasília. Como mostrou o Estadão, ele foi contratado quando o próprio Lira era o líder do PP.
  • O motorista do assessor parlamentar Luciano Ferreira Cavalcante é um dos suspeitos de receber dinheiro do suposto esquema de desvio de recursos na compra de kits de robótica em Alagoas.
  • A Hefesto se debruça sobre fraudes que teriam ocorrido entre 2019 e 2022. No centro das investigações está a empresa Megalic LTDA. Segundo a PF, a companhia foi apenas intermediária na compra dos kits de robótica pelos municípios alagoanos. Entre os sócios da empresa está Edmundo Catunda, pai do vereador de Maceió João Catunda, outro aliado de Lira. A PF afirma que houve direcionamento e superfaturamento de contratos para a compra de equipamentos de robótica para escolas públicas, custeados com recursos do Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação (FNDE), repassado pelo governo federal. “As citadas contratações teriam sido ilicitamente direcionadas a uma única empresa fornecedora dos equipamentos de robótica, através da inserção de especificações técnicas restritivas nos editais dos certames e de cerceamento à participação plena de outros licitantes”, informou a Polícia Federal. A investigação é tocada em conjunto com a Controladoria Geral da União (CGU).
  • Agentes da Operação Hefesto contabilizaram mais de R$ 4,4 milhões apreendidos nas buscas realizadas em 27 endereços - 16 em Maceió (AL), oito em Brasília (DF), um em Gravatá (PE), um em São Carlos (SP) e um em Goiânia (GO). A fraude pode superar R$ 8,1 milhões.
  • Durante diligências realizadas em Maceió, a PF encontrou um cofre com reais e dólares, além de uma mala lotada de maços de dinheiro. O Estadão apurou que o endereço onde os valores foram encontrados é de um policial civil.

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Os agentes da Operação Hefesto realizaram buscas em 27 endereço. Segundo os investigadores, a fraude pode chegar a R$ 8,1 milhões. Foto: Polícia Federal

Sacola cheia

  • Imagens que fazem parte da investigação da PF mostram o casal Pedro e Juliana Salomão – apontados como operadores do esquema – realizando “quase uma centena de saques em dinheiro”, em bancos e casas lotéricas de Brasília. As filmagens foram divulgadas pelo programa Fantástico, da Rede Globo.
  • Em dois momentos do dia 17 de maio, Pedro e o motorista do assessor Luciano Cavalcante aparecem dentro de um veículo. Em ambas as cenas, Pedro entra no carro com uma sacola cheia e sai com ela vazia.
  • A Polícia Federal encontrou R$ 150 mil no veículo e o passaporte do assessor parlamentar em uma mochila dentro do porta-malas.
  • Segundo a PF, os saques eram fracionados, e não feitos de uma vez só, para driblar as autoridades.
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