O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), se esquivou de vinculações com os casos dos kits de robótica e dos parentes empregados na Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), dizendo que só pode responder pelo próprio CPF, em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, na noite desta segunda-feira, 31. Lira também criticou a Operação Lava Jato e ressaltou, em vários momentos, o protagonismo dele na sobrevivência das propostas do governo Lula no Legislativo.
“Sempre que o meu partido foi governo, entregou mais votos do que o próprio governo”, disse Lira sobre a influência do PP nas votações. Sob os louros da reforma tributária e de outras articulações encabeçadas por ele na Câmara, o deputado, que foi um aliado de primeira hora da gestão presidencial passada, disse que Lula aprovou mais projetos do interesse do governo na Câmara do que Jair Bolsonaro.
Em mais de uma ocasião, Lira falou da reeleição para presidência na Câmara como um movimento quase unânime – do “PL ao PT”. Veja a seguir os principais pontos da entrevista de Arthur Lira nesta segunda-feira:
Kits de robótica
Questionado sobre a indicação de R$ 32,9 milhões do orçamento secreto para compra de kits de robótica para escolas de municípios suspeitos de desvio dinheiro público, Arthur Lira disse que não é citado nas investigações. Uma das cidades do Estado natal dele, Alagoas, Canapi, tem 17 mil habitantes e recebeu R$ 5,8 milhões em emendas.
O deputado confirmou a sua amizade com o ex-assessor Luciano Cavalcante, principal alvo da investigação da Polícia Federal, mas afirmou reiteradamente: “só respondo pelo meu CPF”. Nos outros momentos em que o assunto voltou à tona durante a entrevista, Lira repetiu a afirmação de que “em 12 mil páginas de inquérito, não há menção ao meu nome”.
Lira também enquadrou as investigações em um cenário de “condenações midiáticas inimagináveis” e comparou-as com a Operação Lava Jato. “Lula foi inocentado. Está aí, presidente da República pela terceira vez, pelos seus méritos.”
Milhões do ministro
O presidente da Câmara defendeu as emendas parlamentares e acusou um ministro do governo, sem citar nome, de destinar R$ 150 milhões a sete cidades de seu Estado de origem.
“Eu não acho justo que um ministro que não teve um voto, que não fez concurso público para ser ministro, mande R$ 150 milhões para sete municípios do Estado dele, usando o mesmo orçamento que vocês chamavam de secreto ontem. Isso é de agora, não é de ontem não”, afirmou.
Jair Bolsonaro
O apoio e a proximidade de Lira com Jair Bolsonaro (PL) também foram abordados. O deputado não negou o voto no ex-presidente nas eleições de 2022, mas se esquivou de comentar as declarações do ex-chefe do Executivo sobre urnas eletrônicas, os ataques aos ministros do Supremo Tribunal Federal e os questionamentos à democracia.
“Teve algum caso meu? Algum caso em que eu falei da urna, da democracia?”, disse Lira. Questionado sobre a decisão do Tribunal Superior Eleitoral que deixou Bolsonaro inelegível, o presidente da Câmara foi sucinto. “Decisão judicial eu não comento, eu respeito. Não faço qualquer entrevero nem com o Judiciário nem com o Executivo.”
PL das Fake News
Lira negou que tenha sido silenciado pela pressão das big techs e perdido o controle da articulação da Câmara em torno do Projeto de Lei 2.630, o PL das Fake News. “Não me calou, fui até onde pude”, disse.
No início da tramitação, o projeto teve regime de urgência aprovado na Câmara, com o apoio de Lira. No entanto, uma investida organizada pelas empresas, tanto na Casa quando em nas próprias plataformas, conseguiu fragilizar o apoio dos parlamentares à proposta, que hoje tramita “fatiada” – cada parte do mérito virou um projeto diferente. No entanto, nenhum desses recortes do PL original foi aprovado.
Companhia Brasileira de Trens Urbanos
Outro ponto que foi tratado durante a entrevista são os familiares e aliados de Lira que estão empregados na Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU). Como revelou o Estadão, o deputado teria emplacado dez parentes e aliados na empresa, que, juntos, recebem R$ 128 mil em salários. Por conta disso, a CBTU foi apelidada de “Estatal do Lira” em Brasília.
Questionado pela bancada, Lira disse que o caso é de “1996 ou 2006, quando não era deputado ainda”. Ele justificou que a legislação veda apenas indicações de familiares de primeiro e segundo grau, o que tornaria a presença de seus aliados na CBTU lícita. “As indicações não foram minhas”, disse Lira.
Sede do PP
A sede do PP de Alagoas é alugada com recursos do fundo partidário e é de propriedade da madrasta de Arthur Lira. Tereza Palmeira é casada com Benedito de Lira, que é prefeito de Maceió, cidade em que fica a sede da sigla. Como mostrou o Estadão, o cheque pago mensalmente à dona do imóvel é assinado pelo pai do presidente da Câmara.
“Eu não sou gestor do Progressistas de Alagoas. Eu nem sequer sei se meu pai faz esses contratos. Se tiver ilegalidade, a Justiça Eleitoral é que tem que se posicionar sobre isso”, disse Lira quando perguntado sobre o caso.
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Sucessão na Câmara
Lira ainda tem cerca de um ano e meio de mandato na presidência da Câmara dos Deputados, mas o seu espólio já tem candidatos. Questionado sobre possíveis nomes que poderiam sucedê-lo, o deputado respondeu que “a sucessão não está aberta”.
“Esse que está aqui (deputado Elmar Nascimento, União Brasil-BA) e os outros que estão assistindo: eu já disse, quem colocar a unha para fora, vai arrumar um problema comigo”, disse Lira.
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