ENVIADO ESPECIAL A TREMEMBÉ ― O Assentamento Olga Benário, vinculado ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), em Tremembé, no Vale do Paraíba, existe desde 2005, segundo moradores que estiveram no velório de Valdir do Nascimento, conhecido como Valdirzão, e Gleison Barbosa de Carvalho, mortos por criminosos que invadiram o local com armas de fogo na última sexta-feira, 10.
A área que abriga 46 famílias (cerca de 200 moradores) fica nas proximidades da rodovia Pedro Celete. Os assentados utilizam o espaço para plantações (horta) e criação de animais, como galinha d’angola. Neste ano, completa-se duas décadas desde que o movimento chegou ao local. Apesar da proximidade com a zona urbana, o assentamento tem ruas de terra e pouco acessíveis.
De acordo com pessoas ouvidas pelo Estadão, há pelo menos dois anos ameaças contra os moradores do assentamento ocorrem. Boletins de ocorrência foram registrados e serão apresentados para a Polícia Federal, que acompanhará as investigações da Polícia Civil de São Paulo.
A polícia paulista trabalha na linha de homicídio motivado por disputa de terra. De acordo com informações obtidas pelo Estadão com integrantes do MST, ameaças de dentro de presídios da região ocorreram nos últimos meses. A tentativa criminosa era tomar parte de áreas do assentamento.
Preso provisoriamente no sábado, 11, Antônio Martins dos Santos Filho, conhecido como Nero do Pisero, é apontado como um dos principais articuladores e executores do crime que vitimou fatalmente duas pessoas ― outras cinco estão internadas e uma teve alta.
Segundo os sem-terra, Nero do Piseiro estaria há pelo menos dois anos fazendo ameaças recorrentes e, em algumas ocasiões, chegou a avançar com sua caminhonete contra os trabalhadores, numa tentativa de intimidá-los. Uma mulher, que preferiu não se identificar, disse que foi ameaçada por ele por morar no assentamento.
À Polícia Civil, Nero afirmou estar arrependido do crime e que “foi chamado para ir lá”. Ele não deu detalhes aos investigadores sobre quem o chamou para cometer o crime.
O juiz Flavio de Oliveira Cesar, da Vara do Júri de Taubaté, decretou a prisão por 30 dias de Nero e de outro investigado: Italo Rodrigues da Silva. “Soltos, eles poderão prejudicar o andamento das investigações, seja intimidando testemunhas e vítimas sobreviventes, seja dando continuidade a atos de violência para eliminar possíveis delatores. A agressividade com que os crimes foram praticados reforçam a necessidade de adoção da medida”, anotou o magistrado em despacho assinado neste domingo, 12.
No velório de Valdirzão e Gleison, neste domingo, 12, em Tremembé, alguns integrantes do MST cobraram maior posicionamento do governo federal, principalmente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Porta-voz do MST no Vale do Ribeira, Altamir Bastos, afirmou que este não é o primeiro crime contra o grupo na região. “No ano passado, mataram um integrante de um assentamento em Lagoinha, já colocaram fogo nas proximidades de outro assentamento no Macuco”, disse.
Questionado pelo Estadão, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, disse que informações sobre ameaças contra o grupo do assentamento Olga Benário não chegaram ao governo federal. “Nós estamos cobrando da Polícia do Estado de São Paulo, que ela possa esclarecer quem são os mandantes desse crime, para que nós tenhamos a total dimensão de quem está por trás dele, e tenhamos também um diagnóstico mais preciso de quais organizações que possam querer constranger os trabalhadores e querer subtrair deles terrenos que eles têm para sua produção”, disse.