Ataque dos EUA também é terrorismo, dizem bispos

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Por Agencia Estado
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Um grupo de 23 bispos católicos de Brasil, Argentina e México, e mais dois pastores das igrejas Anglicana e Luterana divulgaram, nesta segunda-feira, um manifesto, no qual afirmam que os ataques ao Afeganistão são comparáveis aos atos terroristas ocorridos nos Estados Unidos, no dia 11 de setembro. A diferença, segundo o texto, é que, no caso do Afeganistão, se trata de terrorismo praticado "por governos que se apresentam como democráticos, civilizados e cristãos". A principal vítima da retaliação é a população inocente, de acordo com os representantes religiosos. "Os bombardeios vêm provocando incontáveis vítimas inocentes, incluindo mulheres, crianças e anciãos, destruição da infra-estrutura, aumento da fome e do desespero, agravamento da situação sanitária, jogando na estrada milhões de refugiados." O documento foi divulgado durante o Encontro Latino-Americano de Estudos, que se realizou no fim de semana em Ibiúna, interior de São Paulo. Esse encontro, que se repete regularmente desde meados dos anos 70, não tem nenhum vínculo oficial com as igrejas. Os bispos que dele participam, para discutir temas políticos e religiosos, são os mais afinados com a Teologia da Libertação, defendendo radicalmente a opção da Igreja pelos pobres e excluídos. Condenam a doutrina da guerra justa, defendida por outros grupos religiosos. O Estado do Vaticano e a Santa Sé não apóiam explicitamente a guerra, mas também não a condenam. O documento parece dirigir-se diretamente a esses setores das igrejas católica e protestante, quando cita o documento Gaudium et Spes, um dos mais emblemáticos do Concílio Vaticano Segundo, realizado nos anos 60. O trecho escolhido é o seguinte: "Qualquer ação bélica que visa a destruição indiscriminada de cidades inteiras ou de vastas regiões com seus habitantes, é um crime contra Deus e o próprio homem, a ser condenado com firmeza e sem hesitações." Os bispos também recordaram as palavras do papa Paulo VI em seu discurso perante a Assembléia das Nações Unidades, em Nova York, em 1965: "Nunca mais a guerra! Nunca mais a guerra! É a paz que deve guiar o destino de toda a humanidade. Se quereis ser irmãos, deixai caírem as armas de vossas mãos". Entre os 23 bispos que assinaram o documento, 17 são brasileiros, 4 mexicanos e 2 argentinos. No conjunto, 5 já estão afastados da direção de dioceses, por terem ultrapassado a idade de 75 anos. Um deles é dom Samuel Ruiz, bispo-emérito de Diocese de San Cristóbal de Las Casas, em Chiapas, no México. Entre os brasileiros que ainda estão à frente de dioceses figuram na lista dom Pedro Casaldáliga, de São Félix do Araguaia, Mato Grosso; d. Mauro Montagnoli, de Ilhéus, Bahia; d. Elias Manning, de Valença, no Rio; e d. Esmeraldo Barreto de Farias, de Paulo Afonso, Bahia. Os líderes protestantes que participaram do encontro são d. Almir dos Santos, da Diocese de Brasília da Igreja Episcopal Anglicana, e o reverendo Rolf Schunemann, da Igreja Luterana, de São Paulo. Leia o especial

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