Ato na Paulista: a estratégia de Bolsonaro deu certo? Veja análise dos colunistas do ‘Estadão’

Manifestação foi convocada pelo ex-presidente para mostrar força política e apoio popular em meio a inquéritos da PF e do STF

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Por Redação

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) reuniu milhares de apoiadores neste domingo (25), durante ato político na Avenida Paulista, em São Paulo. O ex-mandatário afirmou, em discurso, que sofre uma perseguição que se recrudesceu depois que deixou a Presidência no fim de 2022 e pediu anistia a presos do 8 de Janeiro.

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Bolsonaro também negou liderar uma articulação golpista depois da derrota nas eleições. O ex-presidente minimizou a existência da “minuta do golpe”, da qual foi o mentor, segundo a Polícia Federal (PF).

A manifestação foi convocada pessoalmente por Bolsonaro para mostrar força política e apoio popular no momento em que ele e aliados são pressionados por inquéritos da Polícia Federal e do Supremo Tribunal Federal (STF).

Confira a avaliação dos colunistas do Estadão Eliane Cantanhêde, Diogo Schelp, Fabiano Lana, Monica Gugliano, Ricardo Corrêa e Bruno Soller.

Ato convocado por Bolsonaro após investigações sobre golpe buscava mostrar a força do ex-presidente Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO

Eliane Cantanhêde: Lula precisa entender recado da Paulista: candidato ou não, Bolsonaro move multidões e divide o País

O ato deste domingo na Avenida Paulista confirma o que todos sabiam: o ex-presidente Jair Bolsonaro tem base popular, move multidões e divide o País ao meio, como já mostraram os votos de 2022. Isso, porém, não muda a realidade e as investigações da Polícia Federal e da Justiça contra Bolsonaro, seus generais, minutas de intervenção no TSE, anúncio de Estado de Sítio e a longa preparação de um golpe, que, frustrado, virou a invasão e depredação das sedes dos Três Poderes.

A forte adesão é um recado para o governo Lula, o PT e os antibolsonaristas em geral, de esquerda, centro e direita. Bolsonaro pode ser o que é, pode ter feito tudo o que fez de mal, antes, durante e depois da pandemia, mas o bolsonarismo paira sobre o País, preparando-se para inverter o prato da balança e voltar ao poder.

Isso aumenta a responsabilidade de Lula, que precisa fortalecer suas ações e melhorar seus resultados em áreas em que Bolsonaro foi uma tragédia, como ambiente, defesa dos povos originários, saúde, educação, política externa. Não basta ter ministros e gestores incomparavelmente melhores, Lula tem de mostrar os efeitos em fatos, números e declarações certas, na hora certa. Leia a coluna completa neste link.

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Diogo Schelp: Bolsonaro confirma apoios em manifestação coreografada, mas não muda o seu destino

“Essa fotografia vai rodar o mundo”, disse Jair Bolsonaro em seu discurso diante de milhares de apoiadores na Avenida Paulista, neste domingo, 25. Não é uma frase que merece ir para as manchetes a respeito da manifestação de desagravo e apoio ao ex-presidente ocorrida em São Paulo, mas talvez por isso mesmo resuma com perfeição o que foi o ato. Primeiro, por expressar o quanto Bolsonaro anseia, quase desesperadamente, por ser reconhecido, no Brasil e no mundo, como um ator imprescindível da política nacional. Segundo, por expor que o real objetivo embutido no esforço de reunir uma multidão de verde e amarelo e um punhado de aliados políticos ao se redor era o de produzir uma prova visual irrefutável da sua força política. E, terceiro, por sintetizar o conteúdo rarefeito do discurso de Bolsonaro.

A manifestação, coreografada do asfalto ao carro de som, cumpriu seu objetivo. Conseguiu confirmar que nenhum outro político no Brasil consegue mobilizar as massas da mesma forma, com tanta facilidade. Demonstrou a obediência servil dos apoiadores, que cumpriram a determinação de não exibir cartazes com mensagens golpistas e que foram capazes de se conter nas palavras de ordem contra o ministro Alexandre de Moraes mesmo quando o pastor Silas Malafaia gritou que ele tinha sangue nas mãos pela morte na prisão de um dos réus do 8 de janeiro, Cleriston Pereira da Cunha.

O ato serviu, também, para apertar os laços de lealdade e dependência que prendem alguns políticos de relevo a Bolsonaro. Não é possível ser neutro em um ato de defesa a um ex-presidente suspeito de tentar um golpe de Estado. Leia a coluna completa neste link.

Bolsonaro discursa para apoiadores na Avenida Paulista ao lado do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas Foto: TABA BENEDICTO/ESTADÃO

Fabiano Lana: Bolsonaro faz discurso de acuado e ato na Paulista apresenta roteiro de ex-presidente injustiçado

O fato menos notável em todo o evento de defesa de Jair Bolsonaro que ocorreu neste domingo, 25, na Avenida Paulista foi o discurso do ex-presidente. Não houve ataques às instituições ou a autoridades, investidas contra as urnas eletrônicas, apologia à cloroquina, defesa do regime de 64, arminha com a mão, “imbrochável” e quase tudo mais que transformou o obscuro ex-militar e deputado em fenômeno de massas. Na própria justificativa de que teria intenção de perpetrar um golpe, retraído, Bolsonaro nos forneceu uma explicação algo sinuosa sobre a tal minuta que embasaria os acontecimentos, o que seria um estado de sítio e como não poderia ter atentado contra a democracia. Também pediu anistia para os presos de 8/1. Uma fala de quem sabe estar acuado e tem o cárcere como perspectiva.

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O que ficou, entretanto, é o que o bolsonarismo, e mesmo a chamada (extrema) direita ainda representa muito para o País. É um fenômeno que não refluiu com a derrota nas eleições de 2022. Por mais que quem se opõe ao que ocorreu neste domingo em São Paulo tente minimizar um aspecto ou outro, é inegável que foi uma das maiores manifestações que já ocorreram no Brasil com sua mistura de religião, messianismo e fanatismo. A história do bolsonarismo será contada por eles como uma epopeia de perseguidos bíblicos, e exemplo do êxodo de Moisés em direção à Israel. Leia a coluna completa neste link.

Monica Gugliano: Ricardo Nunes vai ao ato para agradar Bolsonaro e seus eleitores, mas prefere discrição no palanque

Ele bem que relutou e, com o apoio de setores do MDB, chegou a cogitar a hipótese de não aparecer no ato convocado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro na Avenida Paulista neste domingo. A necessidade dos votos dos milhares de pessoas que, desde cedo, lotavam as duas faixas da Avenida Paulista e se espremiam por vários quarteirões, porém, falou mais alto, e o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, apareceu no palanque. Como abrir mão de um eleitorado desses?

Apareceu, inclusive, não é a palavra mais apropriada. Ele não se aproximou do peitoril do trio elétrico, onde estavam todos os que queriam ser vistos, ficou mais para o fundo, o que não impediu um cinegrafista escalado para a futura campanha de registrar todos os seus poucos passos. Foi para fazer um desses registros que ele desceu do trio elétrico, abraçou populares, se deixou fotografar e voltou para o fundo do trio. Seu nome não foi anunciado e ele tampouco discursou. Leia a coluna completa neste link.

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Prefeito Ricardo Nunes não teve papel de destaque no ato pró-Bolsonaro na Avenida Paulista Foto: TABA BENEDICTO/ESTADÃO

Ricardo Corrêa: Bolsonaro faz chantagem em ato na Paulista: ‘bandeira branca’ em troca de anistia a golpistas

Em meio a uma demonstração de força enquanto é investigado por uma tentativa de articular um golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) usou seu discurso na Avenida Paulista para uma chantagem: bandeira branca, em troca de anistia aos presos pelos atos do dia 8 de Janeiro. Naturalmente, a anistia se aplicaria também a ele, que usou sua fala para dizer que a manifestação seria mostrada ao mundo e pedir a articulação não apenas dos bolsonaristas, mas dos 513 deputados e 81 senadores, em prol de um projeto que derrubasse as punições a quem invadiu e destruiu as sedes dos Três Poderes em Brasília.

No ato em São Paulo, houve pouco espaço para uma defesa efetiva de Bolsonaro. Coube basicamente apenas a ele argumentar que, por não ter manejado a ideia de um estado de sítio ou de um estado de defesa, não poderia ser acusado de dar um golpe. E que mesmo tivesse feito isso estaria dentro das regras previstas na Constituição - o que só seria verdade se o objetivo não fosse interferir no resultado das urnas. As reuniões sobre o golpe, os detalhes da colaboração premiada de Mauro Cid, as mensagens trocadas por seus auxiliares, aí incluído seu fiel escudeiro Walter Braga Netto, ficariam ignoradas. Apesar disso, o ex-presidente tentou argumentar que a eleição de 2022 ficou para trás. Leia a coluna completa neste link.

Bruno Soller: Ato bolsonarista deixa alerta para Lula: ou muda ou há grande risco para a reeleição

Se a Justiça Eleitoral resolvesse marcar novas eleições presidenciais para daqui a 15 dias e os candidatos fossem Lula e Bolsonaro, o resultado seria absolutamente incerto. Há menos de dois anos ambos se enfrentaram e Lula por uma margem mínima conseguiu a vitória. Uma diferença de menos de dois pontos percentuais, algo ínfimo para um País que tem mais de 156 milhões de eleitores aptos a votar. Nesse sentido, a manifestação deste domingo, 25, sem uma bandeira muito clara, mas com o objetivo de ser um desagravo ao ex-presidente, mostrou de maneira substancial que a força mobilizacional do bolsonarismo segue intacta e que essa porção da sociedade brasileira continuará garantindo vida às pretensões políticas de Jair Bolsonaro, independentemente de qualquer coisa.

Com esse eleitorado fixado na oposição e sem qualquer mostra de desmembração, Lula não pode perder quem garantiu a ele a vitória em 2022. Dois grupos fundamentais que estão sob ameaça de dispersão, em função de um governo que tem sido menos amplo do que a propaganda eleitoral garantia e entregado muito menos resultado prático do que se esperava. O primeiro deles foi uma classe A/B1, que temeu a ameaça de uma tirania bolsonarista, caso o ex-presidente fosse eleito. O segundo, mais numeroso, a chamada classe C2, que pode ser alcunhada de swing vote brasileiro e tem mostrado níveis de insatisfação com o cômputo econômico e de serviços essenciais. Leia a coluna completa neste link.

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