BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff programou para esta quinta-feira, às 10h, um ato que vai marcar sua despedida do Palácio do Planalto. A petista prevê uma declaração à imprensa, acompanhada de todos os ministros, para reforçar a imagem de apoio da equipe. Um contraste em relação a um contínuo processo de isolamento da petista.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai receber Dilma quando ela deixar o Planalto. Ela não descerá a rampa por considerar que o gesto poderia ser interpretado como uma “capitulação”. A presidente afastada sairá pela porta principal e Lula estará à sua espera, na despedida, junto com os movimentos sociais.
O PT convocou seus militantes para comparecer a partir das 9h à Praça dos Três Poderes. Depois do ato público, Dilma seguirá de carro para o Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência, com Lula. Os manifestantes prometem fazer uma caminhada até lá.
Também deve ser divulgado hoje nas redes sociais um vídeo gravado na quarta-feira, 11, à tarde por Dilma no Alvorada no qual ela fala sobre o processo de impeachment analisado pelo Congresso.
Dilma evitou aparições públicas na quarta-feira, enquanto o Senado realizava a sessão que discutiu seu afastamento do cargo. Ao longo de um dia de tensão, a presidente só foi flagrada pelas câmeras de fotógrafos e cinegrafistas às 7h25, quando caminhou pelo bosque do Alvorada, e às 19h, momento em apareceu na vidraça de seu gabinete de trabalho no Palácio do Planalto ao lado do ministro Jaques Wagner, do Gabinete Pessoal da Presidência.
Enquanto a discussão do impeachment avançava no Congresso, Dilma recebeu poucos auxiliares. Estavam entre eles, além de Wagner, o ministro José Eduardo Cardozo, da Advocacia-Geral da União, e o assessor especial Giles Azevedo. A defesa da petista vai recorrer novamente ao Supremo Tribunal Federal contra o impeachment. A alegação será de “falta de justa causa” para o afastamento dela.
Como de costume, Dilma acordou cedo, mas não fez o habitual passeio de bicicleta matinal com seguranças pelas pistas. Ela caminhou na área verde em volta do palácio. A presidente estava acompanhada apenas pelo chefe de sua segurança e um outro auxiliar.
Pela previsão inicial da agenda, Dilma participaria de um encontro às 10h, no Planalto, com praticamente toda a equipe ministerial. A reunião havia sido convocada na noite anterior. A presidente, porém, suspendeu sua participação. Quem comandou a reunião foi Jaques Wagner.
No início da tarde, Dilma gravou o vídeo que será divulgado hoje na internet. A decisão de escolher as redes sociais e não convocar cadeia de rádio e TV repete uma estratégia já utilizada pela presidente. Segundo interlocutores, Dilma foi aconselhada por Cardozo a não usar a convocação oficial para evitar possíveis questionamentos jurídicos.
À tarde, já no Planalto, Dilma assistiu a momentos de alguns pronunciamentos de senadores aliados e oposicionistas. Às 19h35, quando discursava na tribuna do Senado o tucano Aécio Neves (MG), candidato derrotado pela petista na última corrida ao Planalto, a presidente voltou ao Palácio do Alvorada.
Isolamento. Ao contrário dos dias de discussão de seu afastamento pela Câmara e da sessão em que os deputados deram o primeiro aval pela admissibilidade do processo de impeachment, em 17 de abril, Dilma preferiu evitar visitas e conversas prolongadas com aliados e interlocutores. Simpatizantes e militantes do PT tampouco apareceram nas vias de acesso ao Alvorada.
A residência oficial tornou-se um lugar de absoluto isolamento. Desde o fim do mês passado, os dois acessos ao Alvorada foram bloqueados em trechos a cerca de um quilômetro da portaria principal. Isso impediu o acesso de jornalistas à sala de imprensa existente no local. Fazer imagens da presidente ou dos visitantes do palácio exigiu câmeras de alta aproximação.
O esquema de segurança também fechou a Praça dos Três Poderes. O clima de feriado, com as pistas fechadas, contrastou com o tumulto e os engarrafamentos de vias de outros pontos da capital federal./ COLABOROU LÍGIA FORMENTI
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