‘Todo golpista é um violador dos direitos humanos’, diz ministro em Comissão comandada pela oposição

Silvio Almeida, ministro de Direitos Humanos, foi confrontado por oposicionistas por defender discriminação de drogas

PUBLICIDADE

Foto do author Levy Teles
Atualização:

BRASÍLIA - A oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou a agenda impulsionada pela bancada da bala para pressionar o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, durante a audiência na Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara. A maioria dos parlamentares, composta por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) criticou a postura pró-descriminalização das drogas do ministro e criticou a política de desencarceramento.

PUBLICIDADE

O ministro rebateu as falas criticando políticas do governo Bolsonaro e condenou os atos de apoiadores do ex-presidente no 8 de janeiro. “Todo golpista é invariavelmente um violador dos direitos humanos”, afirmou. A sessão durou quase seis horas.

O Cabo Gilberto Silva (PL-PB), autor do requerimento que levou o ministro a depor na Câmara, chamou a detenção inicial dos manifestantes vândalos que participaram do 8 de janeiro como “o primeiro campo de concentração do governo Lula”. “O ministério designou a Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos e fez a visita aos presos”, afirmou Silvio Almeida, em resposta ao Cabo Gilberto.

No discurso inicial, o ministro ironizou o argumento de uma das convocações, que fala sobre a situação dos presos como resultado do 8 de janeiro. “Quero manifestar de maneira muito sincera a minha alegria que os deputados desta comissão estão olhando para o problema grave da população carcerária no Brasil”, afirmou. “Fico feliz que essa questão merece a atenção do Parlamento, para conter essa fábrica de produção da criminalidade, possamos conter as torturas, os maus-tratos, que são recorrentes e históricos no sistema.”

Publicidade

A base governista mobilizou nas redes sociais pedindo a apoiadores que assistissem ao ministro na Comissão. Na competição de discursos virais, um teve mais alcance entre a base, quando Silvio falou da comida do presídio da Papuda. “Olha só: o preço médio, valor médio da unidade da refeição contratada, preço unitário da refeição é de R$ 0,90. O almoço, R$ 3,36. O jantar, R$ 3,31. Sabe quem assinou esse contrato? O antigo secretário de Estado de Segurança Pública do Distrito Federal, o senhor Anderson Torres”, disse. O trecho também foi compartilhado pela página oficial do ministério no Twitter.

Silvio criticou a antiga medalha Princesa Isabel, extinta no atual governo e substituída pelo prêmio Luiz Gama, por “ferir o princípio da impessoalidade”. A senadora Damares Alves (Republicanos-DF) foi uma das premiadas durante o governo Jair Bolsonaro, em solenidade no ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, o qual a própria comanda. “Nós prestamos um grande serviço à memória da Princesa Isabel, porque ela não merecia ter o seu nome vinculado a um prêmio qualquer”, afirmou Silvio.

Além disso, o ministro falou sobre a gestão da pasta durante o governo Bolsonaro. “Nós passamos os últimos três meses recompondo o ministério. Posso afirmar que pouco havia de um ministério dos Direitos Humanos na maneira com que eu peguei”, afirmou. “Não sei se posso considerar que pessoas que militaram contra a vacina podem ser consideradas campeãs dos direitos humanos.”

A sessão novamente teve discussões, ainda que num tom muito mais brando em comparação à sessão desta terça-feira, quando ministro da Justiça, Flávio Dino, saiu antecipadamente após a interrupção por brigas generalizadas dentro do colegiado. Deputados como o Delegado Éder Mauro (PL-PA) e Gilvan da Federal (PL-ES) foram os que fizeram críticas mais ácidas. Gilvan chamou o ministro de “doutrinador” e disse que os direitos humanos, quando defendidos pela esquerda, são defendidos por bandidos.

Publicidade

O ministro foi um dos sete ouvidos pela Câmara nesta semana. Congressistas bolsonaristas o convidaram para justificar seu posicionamento sobre drogas e a proteção das garantias aos presos no 8 de janeiro. Nesta quarta-feira, mais oito convites foram aprovados somente da Comissão de Fiscalização Financeira e Controle.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.