Barroso diz que brasileiros foram da ‘indignação à pena’ em caso de mulher que pichou estátua do STF

Para o presidente do Supremo Tribunal Federal “ninguém gosta de punir, mas a punição é inevitável”, afirmou o magistrado ao comentar sobre as condenações aos envolvidos nos ataques do 8 de janeiro

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Foto do author Adriana Victorino

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, afirmou nesta sexta-feira, 28, que os brasileiros passaram da “indignação à pena” ao comentar o caso de Débora Rodrigues, a manifestante que ficou conhecida por pichar a estátua em frente ao Supremo, durante os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.

“O Brasil tem a característica que, na hora em que os episódios acontecem, as pessoas têm uma indignação profunda. E depois, na medida em que o tempo passa, elas vão ficando com pena. Nós fomos da indignação à pena”, disse Barroso após dar uma aula magna para alunos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

Presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, durante sessão no plenário da Corte. Foto: Bruno Moura/STF

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A cabeleireira escreveu “perdeu, mané” na estátua durante os atos golpistas. A frase faz referência à resposta de Barroso a bolsonaristas que o hostilizaram durante viagem aos Estados Unidos após a eleição de 2022. Débora pediu perdão à Justiça em depoimento ao STF, disse que agiu “no calor do momento” e que não sabia do valor simbólico e financeiro da estátua.

Para o ministro, “a não punição desse episódio pode fazer parecer que, na próxima eleição, alguém pode pregar a derrubada do governo eleito e pode invadir prédios públicos”.

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“Não é bom para o País que prevaleça esse tipo de visão. Ninguém gosta de punir, mas a punição é inevitável. Se vai computar pena, mais adiante, é outra discussão”, afirmou Barroso se referindo às condenações aos envolvidos nos ataques golpistas.

Na segunda-feira, 24, o ministro Luiz Fux pediu vista e suspendeu o julgamento de Débora. Fux explicou que precisa de mais tempo para analisar a dosimetria da pena e sinalizou que pode sugerir uma redução. Até o momento, o relator do caso, Alexandre de Moraes, e o ministro Flávio Dino votaram pela condenação da ré a 14 anos de prisão em regime inicialmente fechado.

O STF já condenou 503 envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. As sentenças atingem incitadores, executores e financiadores da invasão às sedes dos Três Poderes, em Brasília, e resultam de 1.586 ações penais abertas desde o início das investigações, segundo dados da Corte.

A Primeira Turma da Corte também tornou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros sete aliados réus por tentativa de golpe de Estado.

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Segundo Barroso, o julgamento do caso vem sendo conduzido “no mais estrito processo legal”. O ministro afirmou que, idealmente, os réus deveriam ser julgados ainda este ano, mas reforçou que o devido processo legal está acima do calendário eleitoral.