Bastidor: telefone de Galípolo explode de mensagens após Copom

O texto enxuto do colegiado, que frustrou expectativas ao não sinalizar o início da queda dos juros em agosto, causou revolta entre ministros do governo, lideranças do Congresso e até mesmo empresários

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Foto do author Eduardo Gayer
Atualização:

BRASÍLIA - O telefone de Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a Diretoria de Política Monetária do Banco Central, “explodiu” de ligações e mensagens após a divulgação do comunicado do Copom na noite de ontem. O texto enxuto do colegiado, que frustrou expectativas ao não sinalizar o início da queda dos juros em agosto, causou revolta entre ministros do governo, lideranças do Congresso e até mesmo empresários, que procuraram o agora ex-secretário executivo do Ministério da Fazenda para tentar entender o porquê de a autoridade - em especial, o presidente Roberto Campos Neto - ainda resistir a baixar o tom duro, mesmo frente à melhora das expectativas inflacionárias.

No Palácio do Planalto, ao menos dois ministros do governo entraram em contato com Galípolo, até então a ponte entre o Executivo e o Banco Central com seu estilo conciliador. Mas, de acordo com relatos, nem o ex-presidente do Banco Fator conseguiu traduzir a esses políticos a decisão de política monetária de ontem, que surpreendeu inclusive setores cautelosos do mercado financeiro. Outra ponte com o BC, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, está na França com Lula para participar de evento sobre economia promovido pelo presidente Emmanuel Macron. No início de julho, o Senado vai votar a indicação de Galípolo para ter assento no Copom.

Gabriel Galípolo, diretor do Banco Central, foi cobrado a dar explicações sobre comunicado do Copom Foto: Felipe Rau/Estadão

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Desde o início do ano, o Ministério da Fazenda buscava ser o algodão entre cristais na relação com Campos Neto, visto como bolsonarista por Lula e seu entorno. A ideia era harmonizar as políticas fiscal e monetária, com a apresentação de reformas estruturantes como o arcabouço fiscal, de forma a reduzir as expectativas inflacionárias e abrir espaço para o corte da Selic, desde o ano passado em 13,75%. A interlocução, contudo, tem se enfraquecido com a resistência do Copom em afrouxar a política monetária.

Após procurar Galípolo e outras pessoas de confiança do mercado, um ministro próximo a Lula viu o texto do Copom como “indefensável” e “incompreensível”, mas com o seguinte objetivo: calibrar as expectativas dos agentes financeiros para a decisão de política monetária de agosto. Ou seja, para esse expoente do governo, haverá, sim, um corte na Selic no próximo comunicado, mas de apenas 0,25 ponto porcentual - ainda que o BC não tenha feito qualquer sinalização clara neste sentido.

Um segundo ministro tenta contemporizar e afirma que é preciso, neste momento, aguardar a ata do Copom, já que em reuniões passadas o documento descritivo foi visto como mais leve do que os comunicados. Ainda assim, não há “perdão” para Campos Neto. “Estava fácil fazer o óbvio”, resumiu um petista.

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