Bastidores: Fala de Bolsonaro teve objetivo de se colocar como líder da direita

Auxiliares relatam que presidente segue se sentindo injustiçado com resultado da eleição; comandantes das Forças Armadas não compareceram ao pronunciamento no Palácio da Alvorada

PUBLICIDADE

Foto do author Felipe Frazão
Atualização:

BRASÍLIA - Auxiliares e ministros de Jair Boslonaro afirmam que o breve discurso do presidente nesta terça-feira, dia 1º de novembro, teve como objetivo marcar o crescimento da direita no País e consolidá-lo, apesar da derrota inédita na tentativa de reeleição, como “verdadeiro líder da direita mundial”. O presidente citou a eleição de parlamentares conservadores e sinalizou apoio a manifestantes que se dizem indignados com o resultado do pleito.

Segundo um colaborador de Bolsonaro, mesmo tento aparecido sorridente no Palácio da Alvorada, ele segue com sentimento de ter sido injustiçado. Um ex-ministro relatou que Bolsonaro demorou tanto para se pronunciar (quase 45 horas após a derrota) por causa do “abatimento” e que ainda se recusa a citar o vitorioso, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O presidente Jair Bolsonaro pouco antes do pronunciamento no Alvorada Foto: Wilton Junior / Estadão

PUBLICIDADE

“Você sabe o que é perder uma eleição? É uma coisa terrível. Eu que perdi a eleição fiquei mais de uma semana deprimido, imagine ele sendo presidente. Era o day after”, afirmou esse ex-titular de um ministério na Esplanada.

“Foi um eleição muito apertada. O presidente não falou nada além do que já pensava. Uma nota simples, institucional. A importância é a simplicidade. Ele tente a representar esse campo”, diz o líder do governo no Senado, Eduardo Gomes (PL-TO).

Publicidade

Bolsonaro convocou ministro para uma demonstração de força. Reuniu todo o primeiro escalão de seu governo, com algumas exceções, como o titular das Comunicações, Fabio Faria, e os comandantes do Exército, Marco Antonio Freire Gomes, da Marinha, Almir Garnier Santos, e da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Junior. Somente o ministro da Defesa, general Paulo Sergio Nogueira de Oliveira, compareceu.

Um ex-ministro da região Nordeste afirmou que Bolsonaro falou “sem arrodeios”, de forma objetiva. Ele disse que o discurso já estava construído pelo presidente e seus assessores mais próximos, depois das contribuições e sugestões de ministros na segunda feira, dia 31. O presidente ficou reunido com colaboradores por cerca de duas horas, antes se falar apenas dois minutos.

A expectativa era de uma manifestação concisa. Segundo seus aliados presentes na discussão do texto prévia ao pronunciamento, Bolsonaro só aceitou citar que os protestos não devem impedir o direito de ir e vir por causa do impacto no desabastecimento de comida e de medicamentos. Há uma série de relatos de cargas de mantimentos e material hospitalar retidas nas estradas por extremistas que se recusam a aceitar a derrota e pedem intervenção militar. Ao falar sobre o tema, Bolsonaro reconheceu o direito de manifestação e aproveitou para politizar o tema, para opor a postura de seus apoiadores a atos da esquerda.

Ao fim do discurso de dois minutos, Bolsonaro virou as costas à imprensa e não quis dizer se participaria da cerimônia de posse e da faixa presidencial a Lula. O ministro da Economia, Paulo Guedes, puxou palmas que abafaram os questionamentos e foi acompanhado por outros titulares da Esplanada dos Ministérios.

Publicidade

O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, general Luiz Eduardo Ramos, não quis comentar a derrota do presidente e os preparativos do pronunciamento. Disse que só falaria a respeito da vitória do Flamengo na Taça Libertadores da América.

O presidente passou cerca de duas horas reunido com ministros, ex-ministros, parlamentares e auxiliares na Sala dos Estados e na Biblioteca do Alvorada. Em alguns momentos, eles conversavam de canto, à distância de Bolsonaro.

Dos filhos, somente o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) estava ao lado do pai. Coordenadores mais presentes no comitê da campanha, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o vereador no Rio Carlos Bolsonaro (Republicanos) não foram acompanhar o discurso.

Políticos do Centrão repassaram a Flávio sugestões para o texto oficial do presidente. Bolsonaro considerou sugestões, mas, como previu um ministro envolvido na elaboração, decidiu sozinho o que falar. Os dois minutos de discurso já estavam rascunhados desde a segunda-feira.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.