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Bastidores: Lira recluso, jantares e falta de consenso marcam semana decisiva da sucessão na Câmara

Favoritismo de Elmar Nascimento para o comando da Casa é colocado em dúvida por interlocutores do atual presidente da Câmara; decisão do STF sobre emendas tornou mais incerto o poder político de Arthur Lira

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Foto do author Iander Porcella
Foto do author Victor Ohana
Atualização:

BRASÍLIA - O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), passou a semana em conversas privadas para tentar fechar um consenso sobre sua sucessão. No entanto, a dois dias do fim de agosto — prazo imposto por ele para indicar seu candidato — a falta de unidade ainda prevalece. Em jantares, ligações e acenos, os principais nomes na disputa se movimentam para fazer acordos e evitam abrir mão das candidaturas.

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O deputado Elmar Nascimento (União-BA) é apontado desde o ano passado como o favorito de Lira, que não pode concorrer à reeleição e tenta emplacar um aliado no posto. No entanto, a avaliação de interlocutores do presidente da Câmara é que ele ainda não tem certeza da viabilidade de Elmar. Os outros dois principais nomes são Antônio Brito (PSD-BA) e Marcos Pereira (Republicanos-SP).

Além disso, há uma interpretação de que a ofensiva do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre as emendas parlamentares pegou Lira de surpresa e deixou incerto seu poder político. Grande parte da influência do deputado alagoano na Câmara tem relação com a distribuição de emendas, principalmente as de comissão, cujo modelo está em xeque.

O deputado Elmar Nascimento (União-BA, à esq.), favorito de Arthur Lira para sua sucessão, conversa com o presidente da Câmara Foto: Wilton Júnior/Estadão

O melhor cenário para Lira seria conseguir convencer os demais candidatos a desistir de disputar a presidência da Câmara e apoiar o nome escolhido por ele. De acordo com um aliado, o deputado alagoano não quer deixar ninguém insatisfeito. Se a eleição for decidida no voto, Lira corre o risco de ser derrotado, como ocorreu com o ex-presidente da Casa Rodrigo Maia.

Embora algumas lideranças da Câmara não descartem um adiamento do anúncio, devido à incerteza, aliados de Lira lembram que ele é conhecido por cumprir sua palavra. Por isso, esperam que a decisão seja tomada e informada publicamente até sábado, 31.

Lira ficou a maior parte da semana recluso na residência oficial da presidência da Câmara. Mesmo aliados próximos tiveram dificuldade de falar com o deputado alagoano, inclusive por telefone, segundo relatos feitos ao Broadcast Político. Ele chamou pessoas específicas ao local para discutir a sucessão.

Na noite de quarta-feira, 28, Lira se reuniu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para tratar da sucessão.

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Uma das reuniões na residência oficial foi com o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), e o líder do PT, Odair Cunha (MG), que defenderam unidade na Casa e afirmaram que o candidato de Lira precisa ter relação de “respeito” com o Executivo. O presidente da Câmara também recebeu Elmar, Brito e Pereira.

Divisão na Câmara

As movimentações ao longo da semana evidenciaram uma disputa entre os dois maiores blocos da Câmara. O chamado “blocão”, com 161 deputados, é liderado por Elmar. O grupo adversário, com 147 parlamentares, inclui Brito, Pereira e o líder do MDB, Isnaldo Bulhões (AL), cujo nome também é citado, eventualmente, para a disputa da sucessão.

Em um jantar na casa do ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia na terça-feira, 27, houve uma tentativa de união em torno da candidatura de Marcos Pereira, para fazer uma contraposição a Elmar. No entanto, apesar da disposição pela unidade, Brito manteve seu nome na disputa.

Além de Pereira e Brito, estiveram na casa de Maia o líder do Republicanos, Hugo Motta (PB), Isnaldo, o deputado Baleia Rossi (MDB-SP) — candidato de Maia que perdeu a eleição da presidência da Câmara para Lira em 2021 — e o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), líder da maioria no Congresso.

Também na terça-feira, 27, Elmar reuniu-se com as cúpulas do PSDB e do PDT em busca de apoio. O jantar ocorreu na casa do senador Weverton Rocha (PDT-MA) e contou com a presença do deputado Aécio Neves (PSDB-MG), do presidente do PSDB, Marconi Perillo, do deputado André Figueiredo (PDT-CE) e do ministro da Previdência, Carlos Lupi, ex-presidente do PDT.

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Disputa dentro do Republicanos

Ao mesmo tempo em que houve uma tentativa de união em torno do nome de Pereira, algumas lideranças da Câmara também defenderam ao longo da semana que ele desistisse da disputa e abrisse o caminho para Hugo Motta.

Líderes dizem que Motta seria um candidato de consenso. Alguns criticam Pereira, afirmam que ele comete um equívoco e que está em um “projeto pessoal” de se tornar presidente da Câmara. Com isso, dizem, pode acabar minando a oportunidade do Republicanos de presidir a Casa pela primeira vez. Aliados de Pereira, por outro lado, argumentam que ele já abriu mão antes de concorrer e acredita que “chegou sua hora” de ir para a disputa.

A avaliação de interlocutores de Lira é que, se Pereira não desistir em favor de Motta, o presidente da Câmara terá de declarar apoio a Elmar, como é previsto, e não poderá voltar atrás.

A aposta na Câmara é que, caso Pereira desista para apoiar Motta, ele próprio ou Elmar, que também ficaria fora da disputa, poderiam ganhar uma contrapartida, como uma indicação ao Tribunal de Contas da União (TCU). Os deputados terão duas vagas na Corte para preencher nos próximos anos.

O deputado paraibano Hugo Motta, líder do Republicanos, também está no páreo para o comando da Câmara 

Festas e força política

Como mostrou o Broadcast Político em julho, apesar de Elmar ser considerado o favorito de Lira desde o início das discussões sobre a eleição da Casa legislativa, cresceu nos últimos meses a percepção entre deputados de que Lira, na verdade, estudava uma forma de viabilizar o nome de Motta.

Parlamentares disseram que os movimentos feitos pelo “primeiro pelotão” de candidatos antes do recesso parlamentar foram pensados para manter o “status quo” da corrida eleitoral. A avaliação foi que as festas promovidas por Elmar e por Brito serviram para evidenciar a força política dos dois e tornaram mais difícil o surgimento de um quarto candidato, como Motta.

A busca de Elmar por indicativos antecipados de apoio do PDT e do PSB e a interlocução de Brito com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) também se encaixam, de acordo com deputados, na estratégia dos dois líderes de se manterem consolidados na disputa. Pereira, por sua vez, já prometeu a Motta a presidência do Republicanos caso seja eleito para comandar a Câmara.

Hugo Motta é visto como “braço direito” de Lira na Câmara. O líder do Republicanos também é um dos principais interlocutores do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no Congresso. É considerado ainda uma figura próxima ao governo Lula na Paraíba.

Resistência dos petistas

Em entrevista ao Broadcast Político nesta quarta-feira, 28, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), afirmou que os petistas prezam por uma “unidade muito forte”.

“O PT vai buscar que sejam preservadas duas coisas que construímos a duras penas: parceria com o Executivo, respeitando a autonomia, e compromisso com a democracia e com as pautas de interesse do País, como fizemos na área econômica”, declarou.

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Elmar sofre resistência de petistas por atritos com o PT na Bahia, além de já ter se referido ao partido como “organização criminosa” e de ter chamado Lula de “ladrão”. Em conversas privadas, Lula já demonstrou incômodo com a relação entre o líder do União e o empresário Carlos Suarez, conhecido como “rei do gás”.

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