Ao incluir na lista de visitantes os nomes de Luciano Guidolin e Olga Pontes – presidente e diretora de conformidade do grupo –, Marcelo Odebrecht mostra que ainda tem poder de incomodar a cúpula da empresa mesmo confinado em sua casa no Morumbi, em São Paulo.
Os dois executivos, que hoje ocupam cargos-chave no grupo, estavam na Braskem quando Marcelo presidia o conglomerado, mas não faziam parte de seu círculo mais próximo. O simples fato de figurarem na lista, no entanto, suscita a pergunta sobre o quanto Marcelo, que deixou a prisão em dezembro passado, quer influenciar nos rumos do grupo.
Não que se esperasse que os executivos fossem ao seu encontro ou lhe fornecessem informações estratégicas. O gesto mostra que Marcelo está disposto a medir forças e a provocar, dizem pessoas próximas.
Num momento em que a Odebrecht, por uma questão de sobrevivência, precisa convencer clientes e credores de que mudou sua forma de fazer negócios, os sinais que vêm do Morumbi preocupam a cúpula do conglomerado.
O movimento ocorre a dois meses de uma grande mudança no comando da Odebrecht. Emílio, pai de Marcelo, deixará antes do previsto a presidência do conselho de administração. Os dois divergiram sobre a forma como a Odebrecht deveria conduzir sua “rendição” e confessar seus crimes às autoridades. Estão rompidos.
Por ora, o mais cotado para substituir Emílio é Newton Souza, ex-diretor jurídico que sucedeu a Marcelo na presidência após sua prisão. Há anos no grupo, ele não está entre os delatores.
Confraria. Na relação de nomes que completam a lista de visitantes, há executivos vistos como de confiança do herdeiro. São quase todos delatores e ex-presidentes de empresas do grupo nos tempos em que Marcelo comandava a Odebrecht.
Em comum, segundo fontes da empresa, eles têm o fato de que estavam sendo formados para ocupar o time de frente da Odebrecht de Marcelo. Seriam a base da “organização” que ele queria criar não fosse a chegada da Lava Jato.
Fernando Reis (ex-presidente da Odebrecht Ambiental), Carlos Fadigas (ex-presidente da Braskem) e Ernesto Baiardi (ex-diretor na África) são descritos como parte do que Marcelo vinha estruturando para ser seu “núcleo duro”.
A Braskem, de Fadigas, era o principal negócio do grupo. Baiardi, cuja família é antiga aliada dos Odebrecht nos negócios, era preparado para assumir a engenharia global da Odebrecht. Reis é classificado como “uma estrela então em ascensão” e um dos executivos mais ligados a Marcelo. Ele manteve contato com o herdeiro mesmo após sua prisão.
Os três são uns dos poucos da lista de visitantes de Marcelo que ainda circulam pelo conglomerado. Fadigas, Baiardi e Reis estão entre os 26 executivos que o Ministério Público autorizou a Odebrecht a manter em seus quadros. Eles seguem como funcionários do grupo, mas não podem ocupar cargo de direção nem tomar decisões estratégicas.
Os demais nomes reunidos por Marcelo em sua lista estão entre os 51 delatores que, por força do acordo, a Odebrecht foi obrigada a demitir: Marcio Faria (ex-presidente da Odebrecht Engenharia Industrial), Luiz Mameri (ex-presidente de América Latina e Angola), Benedicto Jr. (ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura). Antes da Lava Jato, eram cotados para ocupar cargos no conselho de administração da construtora.
Outro incluído na lista é Alexandrino Alencar, ex-executivo do grupo. Ele não soube explicar o motivo de estar na lista de Marcelo, mas disse que precisa ver com os advogados se não há restrição para as visitas. "Se não tiver problema, vou analisar eu comigo mesmo."
A Odebrecht não quis conceder entrevista. Por meio de nota, afirmou que a lista é uma decisão "de caráter estritamente particular”.
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