‘Bater só em Bolsonaro foi um erro’, diz presidente do PSDB após mau desempenho tucano nas eleições

“Deixamos de bater no PT, que é nosso adversário histórico”, afirma Marconi Perillo; 16 partidos ocupam ‘espólio’ da sigla, que passou de 523 prefeituras em 2020 para 272 neste ano

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Atualização:

Decisões erradas do PSDB nos últimos anos ajudam a entender a expressiva queda que o partido sofreu nas eleições de 2024 na avaliação do presidente tucano, Marconi Perillo. O partido ocupava o quarto lugar no ranking dos que mais elegeram prefeitos há quatro anos, com 532, e em 2024 fez apenas 272, quase a metade. No contexto de polarização entre lulopetismo e bolsonarismo, o ex-governador de Goiás avalia como um dos principais erros a artilharia mirada em Jair Bolsonaro (PL), sobretudo em São Paulo.

“A gente começou a bater só em Bolsonaro e deixamos de bater no PT, que é nosso adversário histórico. Isso incomodou muito nosso eleitor, que então migrou para o bolsonarismo de vez, achando que estávamos fazendo o jogo do PT”, disse Perillo ao Estadão. “Bater só em Bolsonaro foi um erro. Acabamos perdendo nosso eleitor mais conservador.”

Marconi Perillo, governador de Goiás e presidente nacional do PSDB  Foto: Diomício Gomes/O Popular

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O dirigente também citou a escolha de não lançar candidatura própria em 2022 como crucial para o declínio da sigla em representação no Congresso Nacional. Os tucanos viveram momento de crise interna depois das prévias em que o ex-governador de São Paulo João Doria (sem partido), à época no PSDB, foi escolhido para disputar a Presidência. Doria venceu, mas desistiu da candidatura tempos depois. Os tucanos, então, decidiram apoiar Simone Tebet (MDB) para a Presidência. “Fomos reduzidos a 13 deputados federais e um senador por conta dos ataques que sofremos em São Paulo. Tem sido uma luta árdua, mas fértil. É hora de recomeçar, percebo um ânimo novo”, disse Perillo.

O desempenho do PSDB em 2024 tem sido avaliado a partir dos fracassos em São Paulo: na capital, a candidatura a prefeito de José Luiz Datena ficou mais marcada por uma cadeirada do que pela competitividade ou pela votação obtida no primeiro turno (111.733 votos, 1,84% do total); na Grande São Paulo, a sigla comandará apenas um dos 39 municípios. Por outro lado, o partido comemora vitórias em Pernambuco, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul.

De acordo com Perillo, a ressaca das eleições tem sido um retorno ao planejamento no diretório nacional tucano. Além de avaliar caminhos para atrair novas lideranças competitivas para 2026, o partido terá reuniões para discutir a possibilidade de fusão com outras siglas ou para, ao menos, tentar aumentar a federação hoje formada com o Cidadania.

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“Vamos avaliar o que é melhor para o conjunto de partidos menores. Buscaremos, em decisão com o Cidadania, aumentar nossa federação, vamos avaliar se dá para fazer fusão ou se não dá. Isso tudo está no radar”, disse o presidente. Possibilidades de fusão vêm sendo discutidas com siglas da centro-esquerda à centro-direita, como o Solidariedade, o PDT e o Podemos.

Líder do partido na Câmara, o deputado Adolfo Viana (PSDB-BA) afirmou estar confiante de que o aumento do número de siglas dentro da federação com o Cidadania acontecerá em breve. “É um dos caminhos para o desafio do partido de se fortalecer para 2026.”

‘Espólio’ do PSDB se divide entre 16 siglas

Os votos que fizeram o PSDB eleger 523 prefeitos em 2020 se dissolveram neste ano por candidaturas de 16 siglas. Nesses municípios, os tucanos conseguiram manter apenas 24% das prefeituras conquistadas em 2020. Quem mais se beneficiou foi o PSD, que comandará 94 prefeituras onde os tucanos venceram quatro anos atrás. PL, com 59, e União Brasil, com 58, vêm na sequência.


Antes mesmo da eleição deste ano, o número de prefeituras tucanas já era bem menor do que o conquistado em 2020: durante os quatro anos de mandato, sobraram apenas 296 prefeitos do PSDB, debandada tratada como “vendaval” pela direção tucana.

Para o ex-governador de Minas Gerais e deputado federal Aécio Neves (PSDB), a sigla precisa agora manter-se distante da extrema direita e da extrema esquerda. “Temos a oportunidade de reconstruir nossa narrativa, nosso discurso, liderando ou participando de um projeto ao centro, que fuja do radicalismo e dos extremos”, afirmou.

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O cientista político Creomar de Souza, da Dharma Politics, vê a sigla em risco de cair em um “ostracismo político” diante da queda de representatividade no País. “O declínio do PSDB tem um componente geracional. A geração que veio depois da geração de fundadores não conseguiu manter os rumos do partido. Em comparação com o que já foi, o PSDB ruma para uma situação de ostracismo político. A saída está em avaliar a perda de lideranças e rever processos de renovação interna.”

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