O cenário eleitoral de Belo Horizonte está embolado a menos de 15 dias do primeiro turno. A maior parte das pesquisas aponta o deputado estadual Mauro Tramonte (Republicanos) liderando a corrida eleitoral, com o atual prefeito, Fuad Noman (PSD), e o deputado estadual Bruno Engler (PL), candidato de Jair Bolsonaro (PL), disputando a outra vaga no segundo turno. Porém, pesquisa AtlasIntel divulgada na segunda-feira, 23, indica que há outros dois candidatos com chances, a deputada federal Duda Salabert (PDT) e o vereador Gabriel Azevedo (MDB), além de colocar Engler na frente de Tramonte.
Em meio à indefinição, parte da esquerda belo-horizontina passou a defender voto útil em Fuad, economista que foi secretário nos governos tucanos de Aécio Neves e Antonio Anastasia em Minas Gerais para tentar brecar a ida do bolsonarismo ao segundo turno — Salabert também tenta se aproveitar desse movimento.
A estratégia ganhou força porque a campanha do deputado federal Rogério Correia (PT), apoiado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), não deslanchou: o petista aparece empatado tecnicamente em terceiro lugar na AtlasIntel, com 10%, mas atrás de outros três candidatos. Numericamente, ele está em quinto na Quaest, com 5%, e no Datafolha, onde tem 6%. Ao mesmo tempo, Fuad Noman cresceu de 9% no fim de agosto para 20% em meados de setembro no levantamento do primeiro instituto e de 13% para 18% no segundo.
“Tenho sentido um movimento natural daqueles que não querem Engler e Tramonte no segundo turno e enxergam que a esquerda não tem chance de segundo turno, mas não partiu da gente”, disse Cássio Soares, presidente estadual do PSD que atuou para unificar a sigla em torno de Fuad Noman após o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), ensaiar uma candidatura.
O principal argumento em prol do prefeito é que ele fez campanha para Lula em 2022 e daria palanque novamente para o presidente em 2026, enquanto Tramonte é aliado do governador Romeu Zema (Novo) e Engler abriria espaço para o candidato do bolsonarismo.
Correia, o candidato do PT, pediu direito de resposta na Justiça Eleitoral após jornais mineiros noticiarem que integrantes da esquerda passaram a cogitar voto em Fuad Noman. Segundo o petista, os órgãos de imprensa estariam dando tratamento privilegiado ao prefeito. Ele desistiu das ações após a repercussão negativa.
O bolsonarista Engler enxerga que o movimento pelo voto útil é um sinal de que a esquerda tem “medo dele”. “E eles têm razão. Sugam a nossa Prefeitura e vamos fazer a limpa”, disse o candidato do PL, que vai intensificar agendas com padrinhos políticos.
Embora diga não se pautar pelas pesquisas, ele subiu de 12% para 18% na Quaest e de 10% para 18% no Datafolha. Na Atlas, lidera com folga, com 25,2%, embora tenha caído quase quatro pontos percentuais em relação à pesquisa anterior.
“Vamos ter o reforço do Nikolas [Ferreira], que rodou o Brasil inteiro fazendo campanha para outros candidatos do PL, mas nessa reta final terá Belo Horizonte como o foco. Também teremos o senador Cleitinho. O Bolsonaro já fizemos agenda, então ele só volta no segundo turno”, disse Engler.
O candidato de Bolsonaro afirma que Mauro Tramonte, que costuma ser associado com a direita embora se classifique como de centro, não representa este campo político porque não enfrentou a esquerda na Assembleia Legislativa em seis anos de mandato e também não defendeu pautas caras ao grupo.
O próprio Tramonte, apresentador de um programa policial na TV e uma espécie de versão mineira de José Luiz Datena (PSDB), tem buscado deixar a ideologia em segundo plano e adotado o discurso que sua prioridade é resolver os problemas da capital mineira. Além de Zema, ele tem o apoio do ex-prefeito Alexandre Kalil (Republicanos), que era rival do governador e se aliou a Lula e ao PT em 2022.
“Nunca entramos em polarização”, disse Rodrigo Mendes, marqueteiro do candidato do Republicanos. “O Mauro sempre fala que quer resolver o problema da UPA lotada, a questão do ônibus, o trânsito caótico. Não vai ser a ideologia que vai pautar o voto”, acrescenta.
Mendes afirma que a campanha não está de “salto alto” e segue empenhada mesmo diante da liderança de Tramonte no Datafolha, onde aparece com 28% contra 18% de Noman e Engler, e na Quaest, que o coloca com os mesmos 28%, contra 20% do prefeito e 18% do bolsonarista.
A candidata Duda Salabert, primeira deputada federal transgênero na história, avalia que o único denominador comum nas pesquisas é que ela é a única candidata progressista com chances reais de ir para o segundo turno. A pedetista diz não temer ser vítima da estratégia do voto útil.
“Pelo contrário: há uma movimentação do voto útil para o Fuad e outra votação do movimentação de voto útil para a minha candidatura. Vários candidatos a vereadores da chapa do PT, do PSOL e da Rede têm pedido voto para nós”, declarou ela.
Salabert está em quarto lugar no Datafolha e na Quaest, onde aparece respectivamente com 9% e 10%. A melhor colocação dela são os 13,7% na Atlas, que a colocam empatada em segundo lugar com Tramonte, Gabriel Azevedo e Noman.
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