A 4ª revolução industrial está provocando uma profunda alteração nos negócios, desde a concepção de produtos e serviços a um novo perfil de consumidor, até ao recurso à IA, tornando os processos mais eficientes e melhorando a experiência do usuário. Um estudo recente do Laboratório de Aprendizado de Máquina em Finanças e Organizações da Universidade de Brasília (UnB), aponta que 54% dos empregos no Brasil estão ameaçados pela automação e pelo IA. Por outro lado, há oportunidades nos trabalhos em que a substituição por máquinas é mais difícil por envolver empatia e características humanas. Em 2018, uma pesquisa do Pew Research Center revelou que 90% dos jovens brasileiros acreditam que em cinquenta anos as máquinas farão a maior parte do trabalho exercido pelo humanos. A habilidade de ocupá-las é o que fará a diferença entre emprego e desemprego.
Com foco no lifelong learning, a capacidade de aprender incessantemente, e com o aumento da expectativa de vida, pessoas e organizações precisam investir na formação contínua para acompanhar esta nova vertente. As instituições de ensino, entretanto, devem refletir sobre este novo ecossistema de aprendizagem e criar caminhos inovadores que envolvam alunos em todas as fases da vida, além de prepará-los para liderar e acompanhar as mudanças demandadas pelas empresas. Afinal, o lifelong learning significa também que o aprendizado está nos pequenos inputs, é forma como nos relacionamos em cada ambiente: social, profissional, acadêmico, etc. Dessa forma, a criação de programas de ensino inclusivos nos cursos de e-learning, pós-graduação e MBAs, que abordem a questão de gênero, proporcionando mais possibilidades para todos e contribuindo para o equilíbrio na igualdade de oportunidades, além do foco no lado humano, irão definir os futuros líderes.
Um aspecto singular, por exemplo, nas business schools, e nomeadamente, nos MBAs, reside na formação holística e integrada. Além das competências de gestão, a formação de profissionais capazes de liderar, inovar e empreender por meio de um pensamento crítico e estratégico é crucial nos dias de hoje. Ter o domínio de competências como trabalhar em equipe, negociar, gerir conflitos, e também de soft skills como resiliência, empatia e ponderação, devem integrar o curriculum. Por outro lado, a diversidade de perfis que os programas de MBA atraem, seja no nível de alunos oriundos de diferentes países, experiências e backgrounds ou pelo contato com empresas, tem um papel fundamental na formação de um líder.
É cada vez mais evidente que companhias com equipes diversificadas têm melhor resultado financeiro, conforme relatório da consultoria McKinsey. A diversidade tem um impacto positivo na produtividade e é um diferencial competitivo. Mas ainda não é fácil reduzir os desequilíbrios existentes. Hoje, somente 16% de mulheres ocupam as equipes executivas nos Estados Unidos e no Brasil este número cai para 6%. Outro estudo mostra que para cada aumento de 1% na diversidade cultural de uma empresa, houve um acrescimento de 9% nas receitas, segundo a Forbes.
A multiplicidade de talentos é um diferencial absoluto e uma forma de atrair profissionais que cada vez mais buscam por organizações inclusivas. Assim, é fundamental que as metodologias e instituições de ensino incorporem a diversidade em todas as suas vertentes: cultural, social, gênero, geográfica e ou etária. As companhias, da mesma forma, já começaram a buscar por profissionais que combinem inteligência emocional e social com capacidades técnicas.
Num mundo em plena transição, o desenvolvimento contínuo de competências e habilidades farão a diferença. Investir em educação multidisciplinar é imprescindível para saber o que nos motiva, e será enriquecedor para as empresas e a comunidade que nos rodeia. Explorando a diversidade em diferentes níveis, por meio da ligação com o âmbito corporativo e com discussão em aula de casos empresariais, as business schools irão capacitar os futuros profissionais para serem líderes da a mudança e do impacto positivo nas organizações e no mundo.
Maria José Amich é diretora-executiva do The Lisbon MBA*
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.