É bem verdade que inúmeras discussões e análises têm concluído que a liberação ou o afrouxamento das medidas sanitárias alavancam a economia, mas também é verdade que ao mesmo tempo em que se abre o comércio, principalmente em cidades menores, a pandemia aumenta. E, diante dessa discussão sanitarista, que extrapola o bom senso e migra para a economia, em cujo cenário a direita tenta encontrar ou justificar sua responsabilidade, surge o grande desenlace que, não só no Brasil, mas no exemplo das grandes nações como os EUA, confirma, seja na economia, seja nos números de mortes e infecções da população: o agravamento ou a solução de grande parte do que vem ocorrendo nesse cenário é diretamente proporcional ao fator vacinação.
Com efeito, o governo Bolsonaro nunca teve interesse ou apostou nas vacinas. Como podemos inferir na CPI da Pandemia, ou CPI da Covid, a postura do governo federal foi negligente com a compra das vacinas a tempo, uma decisão cujo principal efeito foi a morte de milhares de cidadãos brasileiros e impacto significativo na economia, nos investimentos, trazendo muita tristeza, angústia e indignação no que diz respeito à imagem do Brasil no exterior.
Surpreende saber que, mesmo com o recrudescimento de uma terceira onda, ou ainda numa extensão da segunda onda, o governo continue a insistir em ofensivas contra governadores, entrando com uma nova ação no Supremo Tribunal Federal (STF) a fim de derrubar medidas restritivas para conter o avanço da pandemia impostas pelos estados.
Ora, se já verificamos que existe uma relação entre vacinados e evolução pandêmica, e se no Brasil houve negligência, descaso, nos colocando na posição de segundo país em número de mortes, o que nos resta, diante de uma escalada pandêmica, senão nos socorrer em um "lockdown", nos moldes do que foi implementado em nações como a Inglaterra e outros países europeus?
É difícil compreender a postura do governo federal ao insistir na abertura total do comércio e demais serviços quando se sabe que o próprio governo não demonstrou o empenho necessário no que se refere à vacinação, uma vez que está bastante comprovado que, quanto maior o número de vacinados, mais segura estará toda a população.
Essa parcela da direita brasileira precisa, com urgência, se conscientizar de que, com políticas desse tipo, prejudica o próprio empresariado, que já descobriu quem foi o grande causador de toda sequência de tragédias econômicas e sanitárias, com um saldo de 450.000 morte e 14,8 milhões de desempregados.
Outra questão a ser observada com atenção é que, ao se constatar uma queda brusca da popularidade e aceitação do governo, o mercado interno se aqueceu, as bolsas subiram e o real se fortaleceu.
Talvez alguém veja esta análise como um equívoco, mas, diante de tanto erro, vale a pena pensar, afinal, uma reflexão não faz mal a ninguém, e certamente fará muito bem aos empresários.
*Fernando Rizzolo é advogado, jornalista, mestre em Direitos Fundamentais
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.