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Opinião|A intimidade do casal imperial

Todas as sextas-feiras a imperatriz ia em peregrinação à Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro. Ali assistia à missa. Era o templo da família imperial

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convidado
Por José Renato Nalini

O bicentenário da primeira Constituição brasileira faz com que se pesquise como era a vida oficial em 1824. Nesse ano, o governo de Pedro I queria que alemães viessem ao Brasil. Com interesses vários. Eles serviriam como soldados, pois a nação independente nutria razões para temer um ataque de Portugal. Mas também para influenciar a cultura local, ensinar técnicas agrícolas e também próprias a outros afazeres, numa terra ainda mais inculta e iletrada do que hoje.

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O major Von Schäffer, que acompanhou a Imperatriz Leopoldina quando ela veio ao Brasil, para consumar o casamento por procuração com o então jovem Príncipe herdeiro, fez imprimir um folder propagandístico. O título era “A vida doméstica do imperador e da imperatriz” e o objetivo era atrair imigrantes germânicos.

O texto informava que o casal residia no Castelo de São Cristóvão, a uma légua da cidade, mas que frequentavam o Palácio da Aclamação, depois Paço Imperial, isso para as recepções e dias de grande gala.

Dizia que o imperador era um madrugador, levantando-se antes das cinco da manhã. Despachava até às sete e tomava o seu café da manhã. Continuava a despachar assuntos de governo até às treze e almoçava. Às quatro, Leopoldina e Pedro saíam a passeio, geralmente a cavalo ou de carruagem. Neste caso, as filhas iam junto.

Às seis da tarde, se não fossem ao teatro, faziam música no palácio. O imperador acompanhava a esposa ao piano, tocando flauta. Depois do sarau, por volta das onze da noite, iam descansar.

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A propaganda mencionava que ao almoço, D. Pedro só tomava um copo de vinho e vários de água. Acrescentava que ele era dado à marcenaria, hábito que adquirira entre infância e adolescência. Nas solenidades, D. Pedro usava farda azul de marechal com todas as insígnias, mas em casa vestia-se de branco e portava chapéu de palha.

Já a Imperatriz acordava uma hora depois do marido, às seis da manhã. Caminhava para aproveitar o frescor do dia. Andava a cavalo enquanto o sol andava baixo e caçava ou pescava na baía próxima a São Cristóvão. Às nove tomava seu café ao ar livre e, até o jantar, ocupava-se em ler, escrever, pintar e supervisionar a educação das princesas Maria da Glória, Januária e Paula Mariana, esta última nascida em 17 de fevereiro de 1823.

Como boa austríaca, Leopoldina fazia a sua sesta e passava o restante da tarde em sua biblioteca. O folheto indicava seus gostos literários e sua erudição. Goethe é o seu poeta predileto, que antepõe a Schiller. Sua língua preferida é principalmente a alemã, que escreve com correção. Ama a literatura alemã mais do que todas as outras, posto que português e francês escreva e fale como a língua materna e além destas, também fale e escreva em latim, espanhol, inglês, italiano, boêmio e húngaro.

Com isso, não há dúvida de que a Imperatriz era a mulher que, no Brasil, fosse quem falasse o maior número de idiomas. Por volta das quatro da tarde, acompanhava o Imperador a passeio, quase sempre a cavalo e em trajes de amazonas. Só usava vestido em dia de festa.

Todas as sextas-feiras a imperatriz ia em peregrinação à Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro. Ali assistia à missa. Era o templo da família imperial.

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Era fácil chegar aos imperadores. Quem quisesse falar com D. Pedro, bastava comparecer à audiência pública do beija-mão, todas as sextas-feiras, às nove da manhã, no Paço de São Cristóvão. Não se exigia solicitação de agenda, nem traje especial. Entrava-se no Palácio Imperial com roupas informais e até sem sapatos. Qualquer súdito podia beijar a mão do imperador e fazer-lhe pedidos. Já para conversar com D. Leopoldina, era apenas necessário falar com algum de seus criados, ou então espera-la à entrada da Quinta da Boa Vista para lhe falar quando saísse ou entrasse de volta. Leopoldina atendia a todos, principalmente os infelizes e carentes.

Coisa estranha. No Império, os imperadores eram acessíveis. Na República, cercam-se de inúmeros seguranças, assistentes, aspones e demais servidores, que são eficientes em afastar o povo. Deslocam-se rodeados de uma verdadeira armadura humana. Quando comparecem a algum lugar, as equipes “precursoras” são invasoras e exigentes. Parece existir um grande medo de contato com o povo. Onde a “res publica” do poder contemporâneo?

Convidado deste artigo

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José Renato Nalini
Reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo. Foto: Daniel Teixeira/Estadão
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