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Opinião | A ponte

A pergunta que não quer calar é: será que um dia teremos um país realmente melhor? Confesso que não sei a resposta. Só sei que, com o perdão do trocadilho em relação à ponte, os problemas estruturais do Brasil só se resolverão com reformas estruturais

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Por Fernando Goldsztein

Segundo o dicionário, uma ponte é uma estrutura projetada para conectar dois pontos separados por um obstáculo, como um rio ou um vale, permitindo a passagem de veículos e pessoas. Sua função é facilitar o deslocamento e a integração entre diferentes lugares. Uma ponte, em última instância, é mais do que uma estrutura: ela representa a união e a conexão, tal qual o elo de uma corrente.

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Algumas pontes também se transformam em destinos turísticos, dada a sua relevância histórica ou arquitetônica, tais como a Golden Gate Bridge, em San Francisco; a Tower Bridge, em Londres; ou a Ponte Vecchio, em Florença.

Ao iniciarmos a travessia de uma ponte, seja no nosso dia a dia na cidade ou ao longo de uma estrada, não imaginamos estar correndo qualquer tipo de risco. Assumimos, sem pestanejar, que chegaremos do outro lado em segurança. Afinal, trata-se de estruturas solidamente construídas com aço e concreto, não é mesmo?

Ocorre que, infelizmente, no nosso querido Brasil as coisas não funcionam bem assim. Há poucos dias, desabou a ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira – feita de aço e concreto – que unia os estados do Tocantins e Maranhão. Além da morte de dez pessoas – e ainda sete desaparecidas, três caminhões caíram no Rio Tocantins com cargas tóxicas contendo nada menos do que 22 mil litros de defensivos agrícolas e 76 toneladas de ácido sulfúrico – por sorte, aparentemente, as cargas estão intactas no fundo do rio.

Dados do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) mostram que existem 727 pontes federais em estado igual ou pior do que a ponte que acaba de desabar. São 597 pontes em estado ruim, como a que ruiu, e outras 130 em condições ainda piores.

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Portanto, a queda desta ponte não é uma fatalidade; é, sim, um problema de falta de manutenção. Na realidade, no Brasil falta planejamento, responsabilidade e, principalmente, recursos públicos para fazer frente a tantas demandas prioritárias.

Enquanto isso, somos o país dos privilégios escorchantes para alguns setores do funcionalismo público, das vergonhosas emendas secretas que irrigam os currais eleitorais de deputados e senadores, das obras inacabadas aos milhares e muito, muito mais.

Vale dizer que o problema não é de responsabilidade exclusiva do governo federal de plantão, nem foi dos anteriores. São questões estruturais que transcendem legislaturas. A pergunta que não quer calar é: será que um dia teremos um país realmente melhor?

Confesso que não sei a resposta. Só sei que, com o perdão do trocadilho em relação à ponte, os problemas estruturais do Brasil só se resolverão com reformas estruturais. Refiro-me às reformas administrativa, política, educacional e tantas outras necessárias para fazer o Brasil deixar de ser o eterno país do futuro.

Enquanto isso, seguimos presenciando tragédias e calamidades, apenas para, logo depois, escutarmos as declarações – inócuas - das autoridades dizendo que serão abertas as sindicâncias e tomadas as providências cabíveis…

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Fernando Goldsztein
Fundador do The Medulloblastoma Initiative. Conselheiro da Children’s National Foundation. MBA, MIT Sloan School of Management. Foto: Marcos Nagelstein/Estadão
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