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Advogada casada com lobista dos tribunais defendeu magistrados envolvidos no Escândalo da Maçonaria

Citada em investigação sobre suspeita de venda de sentenças, Mirian Ribeiro Rodrigues de Mello Gonçalves, casada com Andreson de Oliveira Gonçalves, representou, no CNJ e no STF, juízes e desembargadores suspeitos de desviarem recursos do Tribunal de Mato Grosso para loja maçônica

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Foto do author Rayssa Motta
Atualização:

A advogada Mirian Ribeiro Rodrigues de Mello Gonçalves, casada com o empresário Andreson de Oliveira Gonçalves, apontado por investigadores como o “lobista dos tribunais”, coordenou a defesa de magistrados envolvidos em um dos maiores escândalos de corrupção que atingiu o Tribunal de Mato Grosso, o Escândalo da Maçonaria, que estourou em 2008.

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Dez magistrados, entre juízes e desembargadores, foram aposentados compulsoriamente Conselho Nacional de Justiça (CNJ), órgão que fiscaliza o Poder Judiciário, sob acusação de desviarem R$ 1,4 milhão dos cofres da Justiça de Mato Grosso para uma loja maçônica, entre 2003 e 2005.

Decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) reverteram a penalidade e abriram caminho para o retorno dos magistrados a seus cargos. Foi a advogada quem fez a defesa deles, tanto no CNJ quanto no Supremo.

Dezesseis anos depois, o Tribunal de Mato Grosso se vê às voltas com novas suspeitas de corrupção, desta vez envolvendo um suposto esquema de venda de decisões judiciais. A advogada agora é citada na investigação. O Estadão fez contato com Miriam, mas ainda não teve retorno.

A Polícia Federal (PF) acredita que Andreson, marido da advogada, faz parte de uma rede de lobistas que “vendia” acesso a gabinetes de magistrados não apenas no Tribunal de Mato Grosso, mas também no Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul e até em gabinetes do Superior Tribunal de Justiça (STJ), a advogados e clientes interessados em comprar decisões.

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Prédio do Tribunal de Justiça de MT; desembargadores foram afastados por suspeita de corrupção. Foto: Jota Passarinho / Secom MT

Mensagens obtidas pela PF mostram que outro lobista, o advogado Roberto Zampieri, assassinado a tiros em dezembro de 2023, pede a Andreson que Mírian prepare uma minuta de decisão para ser usada por um desembargador. O objetivo, segundo a conversa, é que o julgamento saísse “como o cara (cliente) precisa”.

O advogado afirma na mensagem de áudio: “Esse aí que nós estamos trabalhando, faz um favor pra mim? Prepara uma minuta da decisão como o cara precisa. Pede pra dra. Mirian se ela consegue fazer ou alguém. Mas tem que fazer hoje, pois amanhã eu vou encontrá-lo às 13h. Ele viaja na sexta-feira, só volta em agosto. Vou tentar soltar isso amanhã. Mas pra não perder tempo, prepara a minuta do jeito que quer que seja feito. Tá bom? Outra coisa: aqueles 400 mil de hoje tá certo, né? Tenho que fazer os pagamentos, inclusive pra ele também. Um abraço.”

Esse áudio e outros diálogos tiveram peso decisivo na decisão do ministro Luís Felipe Salomão, vice-presidente do STJ e ex-corregedor nacional de Justiça, ao decretar o afastamento de três magistrados do TJ de Mato Grosso - os desembargadores Sebastião de Moraes Filho e João Ferreira Filho e o juiz Ivan Lúcio Amarante, de primeiro grau.

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