Preso há cinco dias por suposta omissão ante os atos golpistas do último dia 8, o ex-ministro da Justiça do governo Jair Bolsonaro, delegado Anderson Torres, ficou em silêncio na manhã desta quarta-feira, 18, em audiência à Polícia Federal. O procedimento ocorreu no 4° Batalhão da Polícia Militar do Distrito Federal, onde o ex-ministro ocupa Sala de Estado Maior desde que chegou dos Estados Unidos, no sábado, 14, após passar férias com a família.
Segundo interlocutores do aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, a estratégia foi adotada porque sua defesa não teve acesso à investigação. A oitiva frustada durou cerca de uma hora. Torres respondeu apenas que 'não tem nada a declarar'. O delegado Alexandre Camões Bessa, que comanda a investigação dos atos golpistas do dia 8 de janeiro, conduziu o interrogatório.
O Broadcast Político informou na segunda, 16, que Torres vinha se preparando para negar ter conhecimento de que os atos antidemocráticos do dia 8 pudessem escalar para uma violência ao ponto que chegaram, com invasão e destruição dos prédios dos três Poderes. Contudo, o pool de advogados avaliou, desde então, que esse discurso poderia não ser bem recebido, já que o Ministério da Defesa enviou um alerta de segurança à SSP-DF no dia anterior, 7 de janeiro.
Além de se explicar sobre a falha na segurança durante os atos do dia 8, Torres também foi questionado no depoimento sobre o documento encontrado em sua casa pela PF que vem sendo chamado de 'minuta do golpe'.
A oitiva de Torres ocorre dez dias após o ministro Alexandre de Moraes decretar sua prisão preventiva, assim como a do ex-comandante da Polícia Militar do DF, Fabio Augusto Vieira, em razão de 'fortes indícios' de que eles foram 'coniventes' com os atos golpistas em Brasília.
No mesmo despacho, o ministro do Supremo Tribunal Federal ordenou o cumprimento de mandados de busca e apreensão contra as duas autoridades no dia 8. Durante a diligência na casa do ex-secretário de Segurança do DF, a Polícia Federal encontrou uma cópia de uma minuta de decreto de Estado de Defesa no Tribunal Superior Eleitoral.
Como mostrou o Estadão, o documento encontrado na residência de Torres é considerado uma 'tentativa inconstitucional e frustrada de derrubar o novo governo'. O documento defendia a necessidade de intervenção no TSE para garantir o 'pronto restabelecimento da lisura e correção do processo eleitoral presidencial' de 2022. O texto afirma que elas foram 'descumpridas' em 'grave ameaça à ordem pública e à paz social'.
Torres é alvo de inquérito ao lado do governador afastado Ibaneis Rocha (MDB), do ex-secretário de Segurança Pública interino do DF Fernando de Sousa Oliveira e do ex-comandante geral da Polícia Militar do DF Fábio Augusto Vieira. A apuração, aberta a pedido da procuradoria-geral da República, mira supostas 'condutas omissivas e comissivas' das autoridades ante aos atos golpistas do dia 8.
Ao requerer a investigação, a vice-procuradora-geral da República Lindôra Araújo apontou 'indícios graves do possível envolvimento do governador do DF e de seus secretários (titular e interino), bem assim do comandante geral da Polícia Militar, em verdadeiro atentado ao Estado Democrático de Direito'.
Assim como Torres, o coronel Fábio Augusto Vieira já prestou depoimento à PF. Na oitiva, o militar afirmou que, em meio à eclosão do ato violento, o Exército ‘estava mobilizado para não permitir’ a entrada da PM no Setor Militar Urbano, onde estava localizado o acampamento bolsonarista montado em Brasília, em frente ao Quartel General.
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