Foto do(a) blog

Notícias e artigos do mundo do Direito: a rotina da Polícia, Ministério Público e Tribunais

As marcas de um abuso emocional

PUBLICIDADE

Por Renata Bento
Renata Bento. FOTO: DIVULGAÇÃO  Foto: Estadão

A agressão física contém o abuso emocional, uma vez que, o (a) agressor (a) invade de forma abrupta o corpo do outro, ultrapassando a barreira do limite físico, atingindo de forma atropelada, o mundo interno da vítima. As relações abusivas podem ocorrer entre colegas, marido e mulher, parentes, namorados, pais e filhos, entre outras relações

PUBLICIDADE

Toda agressão física é também um abuso psicológico, mas, o mesmo, não podemos dizer sobre o abuso psicológico. Isto porque nem sempre o abuso psicológico é acompanhado da agressão física. E o fato de não ficar evidente, esse tipo de violência traz consequências emocionais das mais diversas, porque vai destruindo a vítima silenciosamente. A agressão física deixa marcas no corpo e podem ser notadas, por isso é mais difícil de ser ignorada ou escondida dos demais.

O abuso psicológico, muitas vezes, é invisível aos olhos das pessoas mais próximas e até mesmo da própria pessoa que sofre esse tipo de violência. A vítima fica em dúvida, confusa e por isso é tão enigmático e complexo para se detectar. Muitas pessoas não buscam ajuda ou não consideram abuso pelo fato de não ter a agressão física.

Outras vezes, a pessoa consegue compreender que se trata de violência, mas tem dificuldade de sair desse tipo de relação, devido ao vínculo de dependência emocional que se forma, nota-se ainda que algumas vítimas se sentem fracassadas e envergonhadas quando rompem e conseguem sair desse tipo de relacionamento.

Por agressão psicológica podemos entender: desvalorização, humilhação moral, ameaças, manipulação, perseguição, insultos, chantagem, ridicularização, distorcer ou omitir fatos para que a vítima fique confusa, vigilância constante, entre outras. Umas das dificuldades em entender o limite da relação, se é abuso ou não, se dá justamente porque muitas vezes o agressor psicológico é sutil em sua atitude, ele faz pausas intermitentes em que parece ser uma boa pessoa, mesclando com momentos de um relacionamento mais saudável. Outro fator interessante e que precisa ser ressaltado é o fato do agressor tratar outras pessoas com gentileza, reservando os aspectos mais agressivos para serem projetados na intimidade.

Publicidade

Esse comportamento de gentileza do agressor com as pessoas externas, confunde a vítima, e a faz se sentir diminuída, desvalorizada e com sua autoestima agredida, chegando a duvidar de si. Esse sentimento de menos valia da vítima vai fazer com que ela se recolha das relações sociais por temer não ser boa o suficiente, ou ainda é muito provável que a vítima envolvida e dependente emocionalmente, comece a investir ainda mais na relação com o agressor, pois acredita que o problema está nela, e, portanto, precisa se tornar melhor ainda para agradar o (a) seu parceiro (a) e então continua apostando na relação com a esperança de que irá melhorar.

Pessoas muito tolerantes que tem dificuldade em dizer não, ou aquelas que fazem tudo para agradar o outro, sem se preocupar consigo mesmo, são as mais propensas a esse tipo de violência psicológica. Algumas das sequelas causadas pela violência psicológica são por exemplo, o estresse pós-traumático, depressão, perda da autoestima, crises de ansiedade, doenças físicas, e muitas outras consequências psicossomáticas.

O quanto antes a pessoa conseguir identificar a violência e buscar ajuda para se fortalecer, melhor, pois levará um tempo para que esteja confiante novamente em outras relações. As marcas de um abuso emocional, podem permanecer para sempre.

*Renata Bento, psicanalista e psicóloga. Membro Associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro. Membro da International Psychoanalytical Association - UK.Membro da Federación Psicoanalítica de América Latina - Fepal. Especialização em Psicologia clínica com criança PUC-RJ. Perita ad hoc do TJ/Rj - RJ. Assistente Técnica em processo judicial

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.