O número de pacientes com cardiopatias congênitas é alarmante. Quase 90% dos mais de 1 milhão de pacientes no mundo com cardiopatias congênitas recebe cuidado aquém do necessário ou não chegam a receber cuidado. Dados divulgados por órgãos de cardiopatia congênita confirmam severa escassez de hospitais de alta complexidade cardiovascular, que prestam atendimento ao Sistema Único de Saúde no Brasil, para o tratamento das crianças com Cardiopatia Congênita (CC), fator responsável pelo alto índice de mortes destas crianças.
Após anos de inúmeras discussões com o Ministério da Saúde, por parte da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, do Departamento de Cirurgia Cardiovascular Pediátrica, do Departamento de Cardiologia Pediátrica, da Sociedade Brasileira de Cardiologia e diversos cirurgiões engajados, o Ministério finalmente iniciou o Plano Nacional de Assistência a crianças com cardiopatia congênita da qual a meta amplia a atenção a esses pacientes através do SUS. A portaria nº 1.727/17 estabelece ações que favoreçam o acesso ao diagnóstico, tratamento e reabilitação da criança e adolescente com a doença.
Pesquisas do Ministério da Saúde apontaram que um a cada 100 recém-nascidos possuem cardiopatia congênita, sendo que a mortalidade desses bebês com menos de 1 ano de vida é devido à doença que chega a 20%. Infelizmente, cerca de 29 mil crianças nascem com o problema no coração todo ano, das quais 80% necessitam de cirurgia cardíaca.
Vale enfatizar que o diagnóstico rápido é a chave para o tratamento. O ideal é que o recém-nascido seja diagnosticado com a doença até o sétimo dia de vida e inicie o tratamento o mais rápido possível. Como não é considerada uma doença evitável, o diagnóstico pré-sintomático dos defeitos cardíacos que ameaçam a sobrevivência do recém-nascido é primordial para que haja um atendimento correto no tempo necessário.
O que precisamos de imediato é chamar a atenção sobre a importância de assegurar aos pacientes com diagnóstico de CC, acesso a centros de tratamentos especializados. O atendimento dos pacientes com cardiopatia congênita é uma questão que merece muita atenção. Atualmente no Brasil, somente 63 centros são especializados no tratamento de cardiopatia congênita, e 60% deles estão concentrados na região Sudeste.
A carência de centros de diagnóstico e tratamento; a lentidão no encaminhamento do bebê para um centro de cardiologia neonatal (o ideal é até o sétimo dia de vida); o baixo número de UTIs dedicadas à cardiologia pediátrica; o déficit de recursos humanos e de material, principalmente na área cardíaca; e a triagem ineficaz são alguns dos maiores desafios dos Órgãos de Sistema de Saúde. Fica o alerta!
*Cristiane Martins, coordenadora médica da cardiologia pediátrica do Biocor Instituto/Rede D'Or e presidente do Departamento de Cardiopatias Congênitas e Cardiologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC)
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