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Áudio do tráfico levou PF a policiais ‘Xixo’ e ‘Bolsonaro’ por propina e agiotagem

Operação Face Off - força-tarefa da Polícia Federal, Promotoria e Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo -, prendeu nesta terça, 3, os investigadores do Denarc ‘Xixo’ e ‘Bolsonaro’ por suspeita de propina de R$ 800 mil do narcotráfico para a Europa e cita também o delegado Celso Valdir Marchiori; Estadão busca contato com defesa

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Foto do author Pepita Ortega
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Atualização:
Operação Face Off investiga supostos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro Foto: Polícia Federal

Áudio resgatado do celular de um narcotraficante condenado por enviar, via porto de Santos, 2,7 toneladas de cocaína para a Europa em uma carga de milho, levou a Polícia Federal a um mapa da corrupção envolvendo investigadores do Departamento de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc) da Polícia Civil de São Paulo. Nesta terça, 3, a PF deflagrou a Operação Face Off e prendeu os investigadores Valdenir Paulo de Almeida, o ‘Xixo’, e Valmir Pinheiro, o ‘Bolsonaro’, sob suspeita de terem recebido R$ 800 mil em propina para interromper uma investigação sobre o tráfico.

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A investigação da PF, em parceria com o Ministério Público de São Paulo e a Corregedoria da Polícia Civil, indica que ‘Xixo’ e ‘Bolsonaro’ ainda teriam desviado e vendido drogas que apreenderam nas atividades de repressão ao tráfico.

O inquérito da Operação Face Off cita também um delegado da Polícia paulista, Celso Valdir Marchiori. Segundo a decisão judicial que deflagrou a ofensiva nesta terça, o delegado está sob suspeita de corrupção porque teria recebido, por intermédio dos investigadores, parte da propina paga pelo tráfico.

O Estadão pediu, por meio da Secretaria da Segurança Pública, manifestação de Celso Marchiori e busca contato com a defesa de ‘Xixo’ e ‘Bolsonaro’. O espaço está aberto

Em áudio recuperado de seu celular, o traficante André Roberto da Silva comentou que o delegado também iria receber a propina: “O combinado ficou assim… 600 para a equipe lá… para o delegado lá dele lá. E os 200 deles, entendeu?”

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Além dos policiais e de André, a força-tarefa mira o advogado Erick Silva Dionísio e outro traficante, João Carlos Camisa Nova Júnior.

Ao decretar a prisão preventiva dos policiais civis, o juízo da 1ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores de São Paulo ressaltou que eles têm mais de 30 anos de carreira e tinham acesso aos recursos do Estado, assim como informações sensíveis e sigilosas de bases de dados da Polícia paulista. Por essa razão, o juiz concluiu que apenas a imposição aos dois de medidas cautelares alternativas à prisão seria insuficiente.

No caso de ‘Xixo’, a decisão que determinou sua prisão preventiva destacou conversas em que o policial “afirma expressamente que se for preciso ele mata, tudo para proteger o grande patrimônio familiar”.

As investigações que põem sob suspeita os dois investigadores do Denarc partiram de informações encontradas em um aparelho apreendido em outro inquérito - a Operação Calvary. Com o traficante André Roberto da Silva, a PF resgatou fotos de um caderno apuratório da Polícia Civil de São Paulo. Os arquivos fazem referência a investigações preliminares sobre uma certa ‘Operação Alfaiate’, não formalizada regularmente em um inquérito policial.

No caderno identificado no celular de André havia informações dos narcotraficantes. O documento atribui a Camisa Nova a propriedade de droga apreendida em 2020, em um laboratório de produção de cocaína localizado em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. As anotações também fazem referência a uma investigação sobre outros movimentos do tráfico internacional, inclusive por meio de um avião para remessa de cocaína à Europa.

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A PF afirma que os investigadores da Polícia Civil transmitiam dados da investigação do Denarc aos narcotraficantes por meio dos advogados dos criminosos. Segundo a PF, os policiais civis chegaram a enviar para André, via advogado, uma foto da aeronave que teria sido usada para o tráfico no aeroporto de Cascais, em Portugal.

As mensagens encontradas no celular de André também mostram, segundo a PF, que os policiais civis pediram e negociaram propina. O pagamento teria sido realizado por Camisa Nova.

Segundo a Operação Face Off, os policiais usaram o arquivo da Operação Alfaiate para tomarem propina dos narcotraficantes sob pretexto de não seguirem com as investigações.

Os agentes da Operação Face Off ainda conseguiram acessar os áudios de um dos policiais, o ‘Xixo’. Neles, encontraram indícios de que os policiais civis desviavam e vendiam drogas apreendidas por eles próprios.

A PF também verificou que os policiais civis praticam agiotagem. Segundo a investigação, ‘Xixo’ mantinha uma planilha de controle de valores da qual consta o pagamento de R$ 800 mil por parte dos narcotraficantes presos nesta terça. 3.

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O inquérito indica ainda que ‘Xixo’ e ‘Bolsonaro’ lavavam dinheiro ilícito com a compra de imóveis. Durante as investigações, a PF constatou que os policiais civis apresentaram movimentações financeiras acima de suas fontes de renda declaradas. A Corregedoria da Polícia Civil integrou a força-tarefa da Operação Face Off.

A PF suspeita ainda que os policiais civis usavam contas de empresas fictícias para movimentar o dinheiro do crime.

COM A PALAVRA, OS POLICIAIS

O Estadão busca contato com a defesa dos investigadores Valdenir Paulo de Almeida, o ‘Xixo’, e Valmir Pinheiro, o ‘Bolsonaro’. A reportagem também pediu, via Secretaria da Segurança Pública, manifestação do delegado Celso Valdir Marchiori. O espaço está aberto (pepita.ortega@estadao.com; fausto.macedo@estadao.com)

COM A PALAVRA, A SECRETRIA DE SEGURANÇA PÚBLICA

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A Corregedoria da Polícia Civil acompanhou uma operação do Gaeco em parceria com a Polícia Federal contra o crime organizado, realizada nesta terça-feira (3). Na ação, dois policiais civis foram presos em cumprimento a mandados de busca e apreensão e de prisão. Um terceiro agente também faz parte das investigações. Contra ele foi cumprido um mandado de busca e apreensão.

A Polícia Civil instaurou procedimento administrativo contra os policiais envolvidos, que podem chegar a perder o cargo na Instituição ao fim das apurações.

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