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Opinião | Bernardino de Campos

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convidado
Por José Renato Nalini*
Atualização:

Mais um grande vulto paulista nascido em Minas Gerais. Dizia ele que era mineiro por acaso. Seu pai, Bernardino José de Campos, bacharel pelas Arcadas turma de 1834, casado com Felisbina Rosa Gonzales de Campos, fora servir como juiz de direito em Pouso Alegre. Ali é que Bernardino nasceu, aos 6 de setembro de 1841. Mas a família fincou raízes em São Paulo.

Bernardino José de Campos Foto: Centro de Memória/Câmara Municipal de SP

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Os primeiros estudos fez em Campinas. Em 1859 já estava matriculado na Faculdade de Direito. Nessa turma, que se formou em 1863, estavam vários propagandistas e construtores da República brasileira, todos nascidos em 1841: Campos Salles, Francisco Quirino dos Santos, Bernardino e Prudente de Morais.

Nem pode comemorar a formatura, em 1864, pois coincidiu com a morte do pai assassinado em Campinas com um tiro de espingarda. Ficou à testa do processo dos assassinos de seu pai e enfrentou a hostilidade de potentados. Por coincidência, o pai de Prudente de Morais também foi assassinado com facada.

Em setembro de 1864, na Matriz de Campinas, casou-se com Francisca de Barros Duarte e com ela teve dezesseis filhos. Em 1866 mudou-se para Amparo, onde advogou, foi vereador, escreveu para jornais e viveu em paz até 1888.

Representou Amparo na Convenção Republicana de Itu em 1873. Era revolucionário, mas não sonhador. Mostrou-se realista em relação à escravatura. Em vez de discursos, ação. Abolicionista prático, amigo de Antonio Bento, recolhia os negros fugidos arriscando sua posição social em Amparo e os enviava para São Paulo.

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Quando veio a República, havia sido eleito deputado provincial em 1888. Refletia sobre a imensa responsabilidade dos republicanos e repetia: “Agora é preciso trabalhar e trabalhar muito!”.

Foi o primeiro chefe de polícia do novo regime. Mostrou-se enérgico e eficiente. Deputado à Assembleia Constituinte e em seguida eleito Presidente do Congresso Federal, em 1891, mostrou sua coragem e altivez. Embora o Marechal Deodoro, num golpe de Estado, tenha dissolvido o Congresso, Bernardino foi até lá e teve os passos embargados por dois batalhões. Manifestou-se, destemido, contra o ato de tirania.

Em 1892 foi eleito Presidente do Estado de São Paulo. Foi considerado administrador inteligentíssimo, sábio, de raro descortino. São Paulo progrediu muito sob seu comando. Interessava-se bastante pela educação e a higiene.

Nada obstante a magnitude dos trabalhos realizados sob sua gestão e a ocorrência de graves problemas políticos, como a revolta de 1893 contra Floriano, quando se pôs a favor do governo, conseguiu sanear as finanças estaduais e deixou, em 1896, ao terminar sua gestão, um saldo favorável de mais de dez mil contos de réis.

Foi eleito senador estadual. Depois, chamado para ocupar o Ministério da Fazenda no Rio. Entre 1897 e 1898, sob o governo Prudente de Morais, o Brasil enfrentava seríssima crise econômica, ameaçando chegar à total insolvência.

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Bernardino emprestou à Pátria sua vigilante experiência e sabedoria. Tomou as medidas sensatas, racionais e promoveu o primeiro funding loan da República. Isso impediu o desastre total. Quando Campos Salles assumiu, em 1898, a Presidência, já encontrou o caminho trilhado para o total reerguimento econômico e financeiro do Brasil.

Senador estadual em 1900, de novo presidente do Estado de São Paulo de 1902 a 1904, líder da Campanha Civilista de 1909, sua existência toda foi voltada, com ética, trabalho e perseverança, pelo bem do Brasil e não dele próprio.

Dono de uma visão extraordinária do futuro, infelizmente acabou por perder a sua própria. Chegou a viajar à Europa, com a finalidade de se tratar, mas acabou cego.

Em 1915, aos 74 anos, cego mas firme nas suas atividades políticas, como chefe e patriarca do Partido Republicano, sentiu-se indisposto no dia 18 de janeiro, mas teimou em sair à rua. Sentiu que as forças lhe faltavam. Voltou para casa. Quando o automóvel atravessava o Largo de São Francisco, local que ele tanto palmilhara enquanto estudante, estremeceu e deixou cair a cabeça sobre o peito. Estava morto!

Um mineiro/paulista que merece não ser esquecido.

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*José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário-geral da Academia Paulista de Letras

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