A Polícia Federal (PF) concluiu que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados só recuaram do plano golpista porque não tiveram apoio do alto comando do Exército.
Segundo a PF, o plano só foi abandonado depois que o general Freire Gomes, então comandante do Exército, e a maioria dos militares de alta patente “mantiveram a posição institucional, não aderindo ao golpe de Estado”, “apesar de todas as pressões”.
Diante da negativa, Bolsonaro e seus aliados não tiveram “confiança suficiente” para “avançar na consumação do ato final”, afirmam os investigadores.
As conclusões estão no relatório final do inquérito do golpe, divulgado nesta terça-feira, 26, pelo ministro Alexandre de Moraes, que levantou o sigilo da investigação.
O documento aponta que Bolsonaro estava com o decreto do golpe pronto, para intervir no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e anular o resultado da eleição, e desistiu de assiná-lo.
A Polícia Federal também afirma que a ação para executar o ministro Alexandre de Moraes - os planos Copa 2022 e Punhal Verde e Amarelo - só foi “abortada“ porque o Exército não aderiu em massa ao plano golpista.
”A consumação do golpe necessitaria de um elemento fundamental, o apoio do braço armado do Estado, em especial a força terrestre, o Exército”, afirma a PF.
Uma data teria sido decisiva para frear as movimentações golpistas: 15 de dezembro de 2022. Era neste dia que, segundo a Polícia Federal, Bolsonaro e seus aliados pretendiam “consumar” o golpe.
Neste dia, Bolsonaro recebeu Freire Gomes no Palácio do Alvorada.
Antes da reunião, o general Mário Fernandes, apontado como autor do plano Punhal Verde e Amarelo, alertou o general Luiz Eduardo Ramos, então secretário geral da Presidência, sobre a possibilidade de adesão do Exército.
“Kid preto, algumas fontes sinalizaram que o comandante da Força sinalizaria hoje, foi ao Alvorada para sinalizar ao presidente que ele podia dar ordem”, diz a conversa obtida pela PF.
Após a saída do comandante do Exército, Bolsonaro se reuniu com Mário Fernandes, Luiz Eduardo Ramos, com os ministros Braga Netto (Casa Civil) e Anderson Torres (Justiça) e com o assessor especial Filipe Martins.
Mensagens trocadas no dia seguinte apontam que o comandante do Exército teria rejeitado a investida golpista. “Infelizmente a FAB afrouxou e o EB agora também está afrouxando”, escreveu o coronel Gustavo Gomes a Sérgio Cavaliere, que está entre os indiciados no inquérito do golpe.
O relatório final da PF nas mãos do procurador-geral da República, Paulo Gonet, que precisa decidir se há elementos para oferecer um denúncia.
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