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Brasil monitorou viagem de ‘first ladies’ da máfia Ndrangheta e deu dica para prisão em Milão

Estadão apurou que informação passada por procuradores do MPF brasileiro aos colegas italianos foi a pista para a prisão de Rosalia Falletta e Rita Siria Assisi, logo depois de deixarem o País; as duas estão na mesma cela, em Turim

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Foto do author Pepita Ortega
Foto do author Heitor Mazzoco

A prisão da mulher e da filha de Nicola Assisi ― apontado como um dos chefes da máfia calabresa ‘Ndrangheta ― na Itália no último dia 18 teve um dedo das autoridades brasileiras. O Ministério Público Federal (MPF) monitorou uma viagem que Rosalia Falletta e Rita Siria Assisi fizeram em dezembro e deram a dica a investigadores de Milão sobre o retorno das italianas ao país natal.

Segundo fontes que acompanham a investigação, Rosalia e Tira teriam vindo para o Brasil para visitar Nicola, após o casamento de Rita. Nicola está preso no País por tráfico internacional e associação ao tráfico. Ele seria um dos responsáveis pelo transporte de cocaína na rota Brasil-Itália.

Operação Samba: mulher e filha de Nicola Assisi teriam assumido negócios após prisão de homem apontado como membro da 'Ndrangheta Foto: Reprodução via Ministério do Interior da Itália

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O Estadão apurou que o ‘rádio’ passado pelas autoridades brasileiras aos colegas italianos foi o que permitiu a prisão de Rosalia e Rita logo depois de deixarem o Brasil. A operação foi organizada pela Procuradoria italiana, mas com o auxílio e cooperação dos brasileiros. As duas estão em um presídio de Turim, também no Norte italiano.

Rosalia e Rita têm respectivamente 56 e 26 anos. Segundo a sucursal do Corriere della Sera em Turim, os procuradores Livia Locci e Francesco Pelosi afirmam que as duas tomaram a frente dos negócios criminosos após a prisão de Nicola e do outro filho do casal ― Patrick Assisi.

As duas mulheres são investigadas na operação batizada de “Samba” pelos investigadores italianos. No Brasil, tal investigação recebeu o nome de “Mafiusi” e foi aberta no último dia 10, junto da Operação Conexão Paraíba para prender investigados por tráfico de cocaína para a Europa ligados à máfia italiana ‘Ndrangheta e o Primeiro Comando da Capital (PCC).

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O Departamento de Segurança Público, vinculado ao Ministério do Interior da Itália, diz que 23 traficantes internacionais de drogas foram presos na operação. Na nota em que divulgou o balanço da ofensiva, o governo italiano ressaltou a cooperação com as autoridades brasileiras desde 2019, quando Nicola Assisi e Patrick Assisi foram presos na Praia Grande, litoral paulista, no dia 8 de julho.

Drogas apreendidas durante operação que uniu autoridades brasileiras e italianas Foto: Reprodução via Ministério do Interior da Itália

Durante os últimos anos, ainda de acordo com o departamento antidrogas da Itália, foi possível “identificar conexões consolidadas” com participação da máfia ‘Ndrangheta no Brasil. Ainda segundo a nota, os grupos criminosos eram capazes de enviar quantidade significativa de drogas para a Europa por meio de um porto de Paranaguá, no Paraná.

Quando a “Mafiusi” e a “Conexão Paraíba” foram deflagradas, a Procuradoria-Geral da República destacou que as operações eram resultado de articulação entre a Polícia Federal, o Ministério Público Federal, a Receita Federal, a Procuradoria-Geral da República e a Guarda Civil Espanhola.

As investigações ainda tiveram apoio da Europol e da Interpol ― organizações internacionais de polícia ―, assim como da Eurojust - grupo considerado como “o estado da arte” das iniciativas do Ministério Público em âmbito internacional.

O Brasil recebeu um convite para integrar a Eurojust, ainda no governo Jair Bolsonaro. O convite foi reforçado neste ano, mas o aceite ainda está em processo de negociação. Nesse meio tempo, Brasil e Itália criaram uma Equipe Conjunta de Investigação para “desvendar estreitas conexões entre as estruturas mafiosas italianas e as organizações criminosas brasileiras de tráfico de drogas”.

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