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Opinião | Caminhos Verdes

Os cientistas cansaram de advertir a espécie que se diz racional durante décadas, sem que obtivessem resposta. Agora a natureza está respondendo do jeito que sabe: fenômenos extremos, estiagem, furacões, ciclones, inundações e deslizamentos. Quantas mortes poderiam ter sido evitadas, mediante cuidados singelos que precisam ser tomados em cada município

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convidado
Por José Renato Nalini

As cidades são o espaço natural dos humanos urbanóides, do berço ao túmulo. E quem quiser adiar ao máximo o descanso derradeiro, precisa fazer com que a cidade se torne sustentável. Temos o péssimo hábito de subtrair ao solo toda a extensão que é imprescindível para a infiltração da água da chuva, que precisa se infiltrar e realimentar o lençol freático. O excesso de asfalto, de cimento, de concreto e de outras vedações, faz do território citadino uma superfície onde a água da chuva ganha força, forma correnteza, enxurrada e causa morte. Quando não, produz enchentes, inundações e alagamentos.

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Tudo isso pode ser evitado, se a população assumir o seu dever ecológico de fazer com que sua cidade seja mais verde. Quem não tiver ideia do que fazer, pode ler o livro digital “Caminhos Verdes: Interfaces Saúde e Ambiente para o Desenvolvimento Sustentável”. Obra produzida por Leandro Luiz Giatti e Thiago Nogueira, professores da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, e pela pesquisadora Ana Júlia Lemes.

É um e-book, disponível gratuitamente no Portal de Livros Abertos da USP, e material precioso para os que estão angustiados com a emergência de fenômenos extremos, resultado da inclemência com que a humanidade vem tratando o planeta há séculos.

Os cientistas cansaram de advertir a espécie que se diz racional durante décadas, sem que obtivessem resposta. Agora a natureza está respondendo do jeito que sabe: fenômenos extremos, estiagem, furacões, ciclones, inundações e deslizamentos. Quantas mortes poderiam ter sido evitadas, mediante cuidados singelos que precisam ser tomados em cada município.

O livro propicia uma série de reflexões que geram conscientização de todas as pessoas, detalhando a relação entre saúde pública e meio ambiente nas cidades. Sabe-se que o calor, por exemplo, é mais letal do que o frio. Inúmeras vidas são ceifadas a cada ano, sem que se consiga identificar a causa remota, que deflagrou o gatilho do óbito: as elevadas temperaturas.

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A publicação aborda a qualidade do ar, a gestão de resíduos sólidos, a infraestrutura verde, os serviços ambientais e a saúde pública. Tornar as cidades resilientes não é uma questão estritamente ambiental, mas é algo que guarda relação com a saúde populacional. É fruto do trabalho de pesquisadores do Programa de Pós-Graduação Profissional em Ambiente, Saúde e Sustentabilidade e é acessível para todas as pessoas, não necessariamente especialistas ou aficionados do tema ecologia.

Quando cuidam da qualidade do ar em São Paulo, assinalam que as emissões de compostos como o benzeno e o tolueno em áreas de tráfego intenso alertam para a urgência de políticas públicas mais eficazes. Não é para menos: quase dez milhões de veículos circulam por São Paulo, ininterruptamente, dia e noite. Quase todos movidos a combustível fóssil, envenenam o ar que respiramos. E não é muito diferente nas inúmeras grandes cidades paulistas.

Já em relação aos resíduos sólidos, o descarte paulistano é de quinze mil toneladas diárias. Como a população ainda não tem consciência de sua responsabilidade, quase tudo vai para aterro sanitário, o que não é solução, mas um problema administrado. Também se fala em gestão de recursos hídricos, outro enorme desafio. Cidades impermeabilizadas não deixam espaço de solo para que a água das chuvas se infiltre e reabasteça os lençóis freáticos. É preciso criar ‘jardins de chuva’, conceito de cidade-esponja que evita inundações e mortes. O ideal seria que toda cidade pudesse devolver à natureza o que dela foi subtraído. Sob a forma de florestas urbanas, algo que se faz em países mais adiantados e que já existe, em pequena escala, na capital paulista.

Fazer edificações baseadas na natureza, criar infraestruturas verdes para atenuar a temperatura e reduzir a poluição urbana, insistir na formação de uma cidadania mais atenta à resiliência, é tudo o que se deve fazer, para que tragédias como aquelas que aconteceram em Petrópolis há alguns anos, em São Sebastião no carnaval de 2023 e em maio no Estado do Rio Grande do Sul, não encontrem cidades despreparadas.

A partir do Programa Ambientes Verdes e Saudáveis de São Paulo, é possível replicar em todas as cidades projetos análogos, adaptados à realidade local. Envolver toda a população, principalmente as novas gerações, é fundamental para que esses planos deem certo. Afinal, o Brasil se comprometeu a observar os ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, algo que deve entrar não só no currículo de todos os níveis de ensino, como na pauta de discussão de todas as demais entidades, até chegar ao diálogo familiar.

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As emergências climáticas atingirão a todos. Principalmente os mais vulneráveis. É preciso levar em conta que já não se justifica o atraso no trato responsável e adequado dessa que é a maior ameaça que recai sobre a humanidade em nosso tempo.

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José Renato Nalini
Reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo. Foto: Werther Santana/Estadão
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