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Caso Marielle vira moeda de troca entre coronel Cid e militar que fraudou carteira de vacinação, apontam diálogos

Ex-vereador que foi apontado como suspeito na morte de Marielle Franco foi alvo da Operação Venire; DOCUMENTOS: Leia a decisão do ministro Alexandre de Moraes e a manifestação da PGR

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O tenente coronel Mauro Cid e o ex-presidente Jair Bolsonaro. Foto: Adriano Machado/Reuters

A suposta associação criminosa alvo da Operação Venire nesta quarta-feira, 3, deu início a seus trabalhos com a emissão de uma carteira de vacinação com dados falsos de Gabriela Santiago Ribeiro Cid, mulher do ex-ajudante de ordens da Presidência, o tenente-coronel Mauro Cid. A empreitada contou com a participação do militar da reserva Aliton Barroso, que foi quem conseguiu lançar os dados falsos no sistema do Ministério da Saúde para beneficiar a mulher de Cid. Após o 'êxito', Ailton pediu uma 'contrapartida' a Cid: pediu que o aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro intermediasse encontro que teria como tema o assassinato da ex-vereadora Marielle Franco - crime ocorrido em 2018.

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A solicitação se deu em razão de Ailton ter contado com a intermediação de Marcello Moraes Siciliano, ex-vereador do Rio, para lançar os dados falsos no sistema do SUS em benefício da mulher de Cid. Em troca da ajuda, foi pedido que o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro intermediasse um encontro entre Siciliano e cônsul dos Estados Unidos para resolver problema relacionado a seu visto - ligado ao envolvimento do nome do ex-parlamentar com o caso Marielle.

LEIA A DECISÃO DE ALEXANDRE

LEIA A MANIFESTAÇÃO DA PGR

Nesta quarta-feira, 3, a PF deflagrou a Operação Venire, prendeu Mauro Cid e fez buscas na casa de Bolsonaro, de quem foi apreendido o celular.

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A permuta entre Ailton e Cid é descrita pela Polícia Federal com base em mensagens trocadas entre os dois pelo celular. Os investigadores tiveram acesso aos diálogos após a quebra de sigilo do tenente-coronel no bojo do inquérito das milícias digitais.

Em uma mensagem enviada ao coronel, Ailton afirma: "Eu sei dessa história da Marielle toda, irmão, sei quem mandou. Sei a porra toda. Entendeu? Está de bucha nessa parada aí."

 
 
 
 

Siciliano é apontado pela Procuradoria-Geral da República como integrante do núcleo dos 'executores materiais' dos crimes sob investigação na Operação Venire. O órgão destaca como os diálogos mantidos entre Ailton e Cid indicam que o ex-vereador 'se comprometeu a intermediar a inserção das informações no Sistema de Saúde do Rio de Janeiro, sendo que, em troca, Mauro Cid atuaria para possibilitar uma reunião o ex-vereador com o cônsul americano, para fins de regularização de visto dos Estados Unidos'.

No caso Marielle, Siciliano chegou a ser apontado como suspeito do crime ocorrido em maio de 2018. A ligação foi descartada após a prisão de Ronnie Lessa e Élcio Vieira de Queiroz, hoje réus pelo assassinato da ex-vereadora e de seu-motorista Anderson Gomes.

Antes de recorrer a Ailton, Cid tentou confeccionar um certificado físico de vacinação com doses da vacina contra a covid-19 em benefício de sua esposa. Duas pessoas teriam auxiliado Cid em tal tentativa: um ex-integrante da Ajudância de Ordens da Presidência da República, Luis Marcos dos Reis, e o médico Farley Vinicius Alcantara. Foi então preenchido um cartão de vacinação da Secretaria de Saúde do estado de Goiás, em nome da mulher de Cid.

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Depois, houve ainda adesão de um outro militar ao esquema, o segundo-sargento do Exército Eduardo Crespo Alves, que 'tentou por intermédio de terceira pessoa ainda não identificada, inserir os dados falsos nos sistemas do Ministério da Saúde para emissão do certificado vacinal'.

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A PF também identificou mensagens trocadas entre Cid e Crespo, que não conseguiu sucesso em inserir os dados falsos no sistema no SUS. Em texto enviado no dia 24 de novembro de 2011 ao ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o investigado disse que uma outra pessoa tentou fraudar o sistema, sem sucesso.

Em razão de os lotes da vacina citados no suposto comprovante de vacinação da mulher de Cid não terem sido distribuídos para o Rio de Janeiro, não era possível lançar os dados no sistema do Ministério da Saúde a partir da capital fluminense. O lote registrado no documento era de Cabeceiras em Goiânia.

 

COM A PALAVRA, OS INVESTIGADOS

A reportagem busca contato com os citados. O espaço está aberto para manifestações.

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