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Opinião | Centenário de d. Aloísio

Desmemoriados, cultivamos os presentes e ignoramos os ausentes. Mesmo aqueles que tiveram relevante desempenho na vida brasileira

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convidado
Por José Renato Nalini

Dom Frei Aloísio Leo Arlindo Lorscheider, OFM, teria completado cem anos, se vivo ainda estivesse, no último oito de outubro. Não li qualquer alusão a respeito. Desmemoriados, cultivamos os presentes e ignoramos os ausentes. Mesmo aqueles que tiveram relevante desempenho na vida brasileira.

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Ao falecer, aos oitenta e três anos, era arcebispo emérito de Aparecida. Fora bispo de Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul, Arcebispo de Fortaleza, no Ceará e de Aparecida, onde esteve até março de 2004. Foi também Secretário-Geral e Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, Presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano – CELAM e da Cáritas Internacional. Em 1979, foi um dos Presidentes da III Conferência Geral dos Bispos da América Latina e do Caribe, em Puebla. Parte superior do formulário

Nasceu em 8 de outubro de 1924, em Picada Geraldo, município de Estrela-RS. Neto de alemães, seus pais eram José Aloysio Lorscheider e Verônica Gerhardt Lorscheider. Faleceu em Porto Alegre, em 23 de dezembro de 2007. Chegou a ser Cardeal da Santa Igreja, terceiro Arcebispo de Aparecida-SP, integrante da Ordem dos Frades Menores. Nomeado em 12 de julho de 1995, sucedeu Dom Geraldo Maria de Morais Penido e foi sucedido por Dom Raymundo Damasceno Assis, quando deixou Aparecida em 2004.

Cursou o primário em Picada Winck, em Lajeado e em Palanque e Venâncio Aires. Em 1934 ingressou no Seminário dos Padres Franciscanos em Taquari e ali cursou o ginasial e o colegial. Fez o Noviciado e o primeiro ano de Filosofia em 1942, no Convento São Boaventura, em Daltro Filho e Garibaldi. Em 1944 foi transferido para o Convento Santo Antônio, em Divinópolis, Minas Gerais, onde terminou o curso de Filosofia e também estudou Teologia. Adotou o nome religioso de Frei Aloisio, que conservou enquanto viveu.

Foi ordenado sacerdote em 22 de agosto de 1948, em Divinópolis. Nessa condição, lecionou Latim, Alemão e Matemática no Seminário Seráfico, em Taquari. Enviado a Roma, ao Pontifício Ateneu Antoniano, especializou-se em Teologia Dogmática. Em junho de 1952, defendeu sua tese doutoral, aprovado no grau summa cum laude.

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Voltando ao Brasil, lecionou em Taquari e em 1953 foi nomeado professor de Teologia Dogmática no Convento Santo Antônio, em Divinópolis. Ali, além de ensinar, foi eleito Comissário Provincial da Ordem Franciscana Secular, Conselheiro Provincial e Mestre dos Estudantes de Teologia e dos candidatos ao estado de Irmão Franciscano. Também ensinou Liturgia, Espiritualidade e Ação Católica e foi assistente do Círculo Operário Divinopolitano.

Participou do Congresso Mariológico Internacional em Lourdes, em 1958 e foi chamado a lecionar Teologia Dogmática no Pontifício Ateneo Antoniano em Roma. No ano seguinte, foi nomeado Visitador Geral para a Província Franciscana em Portugal e, de volta da visita canônica, recebeu o encargo de Mestre dos Padres Franciscano que estudavam nas várias Universidades em Roma.

João XXIII o nomeou Bispo da recém-criada Diocese de Santo Ângelo, em 3 de fevereiro de 1962. Em 20 de maio de 1962, recebeu a ordenação episcopal na Catedral Metropolitana de Porto Alegre. Adotou, como lema de seu episcopado, “In Cruce Salus et Vita” (Na cruz, a salvação e a vida). Tomou posse em 12 de junho e durante onze anos exerceu o pastoreio em sua Diocese.

Durante o Concílio Vaticano II, em novembro de 1963 foi eleito membro das Comissões Conciliares, sobretudo para a Secretaria de União dos Cristãos. Participou de todas as sessões do Concílio entre 1962 e 1965. Como um dos mais atuantes representantes da Igreja, integrou o quadro de dirigentes da CNBB a partir de 1968, como Secretário e Presidente, duas vezes consecutivas: 1971 a 1978.

Em outubro de 1970, quando era Secretário-Geral da CNBB, foi preso durante ação do DOPS-Departamento de Ordem Política e Social, na sede do IBRADES – Instituto Brasileiro de Desenvolvimento. Em 1972, foi eleito Primeiro Vice-Presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano-CELAM e reeleito em 1975. Em 1976, tornou-se Presidente do CELAM.

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Eleito Vice-Presidente da Cáritas Internacional e reeleito em 1972, assumiu a Presidência em 1974. Em 4 de abril de 1973, Paulo Vi o nomeou Arcebispo de Fortaleza. Em 24 de abril de 1976, Paulo VI o nomeou Cardeal, com o título de São Pedro in Montorio. Participou dos dois conclaves em 1978, que elegeram João Paulo I e João Paulo II. Foi o sétimo Cardeal brasileiro.

Foi um zeloso defensor da fé e conferiu singular preocupação com o clero. Sagrou dez bispos, ordenou inúmeros sacerdotes. Problemas cardiovasculares o fizeram solicitar ao Papa uma arquidiocese menor. Por isso foi para Aparecida. O Brasil deve muito a Dom Aloisio e, dezessete anos após sua partida para o etéreo, mereceria ser mais lembrado e reverenciado.

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José Renato Nalini
Reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo. Foto: Werther Santana/Estadão
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