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Opinião | Cidadania do bem

Talvez a maior contribuição individual possa vir da questão de excessiva produção de resíduos sólidos. Cada um de nós gera muitos quilos daquilo que chamávamos “lixo”, mas que tem valor econômico, tanto que hoje é denominado “resíduo sólido”. Tudo tem aproveitamento. Compostagem para os resíduos orgânicos, reciclagem para os demais

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convidado
Por José Renato Nalini

O que deve ser concebido como “cidadania do bem” neste primeiro quarto do século 21? Aquela pessoa que está preocupada com o futuro da humanidade, em virtude dos eventos climáticos extremos, gerados pelo mau uso dos recursos naturais.

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É claro que o problema do aquecimento global é complexo e que depende do concerto entre todas as nações, notadamente as mais desenvolvidas. São estas as maiores responsáveis pela emissão dos gases causadores do efeito estufa. Os mais ricos, sempre arrogantes, se recusam a frear o ritmo do comprometimento do clima. Têm consciência de que estão condenando os mais vulneráveis à morte precoce. Mas não se arrependem disso.

Diante da magnitude do problema, é normal o sentimento de impotência. Não posso fazer nada. Mas isso é falacioso. Todos podem fazer alguma coisa.

Se os vilões da poluição estão nessa ordem: transporte, energia estacionária e resíduos sólidos, todos podemos ser partes da solução, pois – necessariamente – já fazemos parte do problema. Todos nos transportamos. Então, é escolher de vez em quando não usar o carro. E se usar, abastecer com etanol, não com gasolina. Preferir transporte coletivo. Andar mais a pé. Ou de bicicleta.

Quanto à energia estacionária, trocar a iluminação por lâmpadas LED, que consomem menos energia. Preferir as escadas aos elevadores, quando o deslocamento for de um só ou dois andares. Não deixar as luzes acesas desnecessariamente.

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Talvez a maior contribuição individual possa vir da questão de excessiva produção de resíduos sólidos. Cada um de nós gera muitos quilos daquilo que chamávamos “lixo”, mas que tem valor econômico, tanto que hoje é denominado “resíduo sólido”. Tudo tem aproveitamento. Compostagem para os resíduos orgânicos, reciclagem para os demais. Uso consciente daquilo que muita vez desperdiçamos e condenamos a um destino prejudicial à saúde e ao ambiente: o aterro sanitário.

As cidades já possuem coleta seletiva. Mas tudo o que é recolhido não chega à reciclagem. Isso por problemas na destinação do que se considera descartável. Se a população aprendesse a separar os resíduos, ela contribuiria para melhorar o clima e para economizar dinheiro dela mesma. Procure saber quanto a Prefeitura paga para as concessionárias de varrição e coleta de lixo.

Tais hábitos são perfeitamente possíveis. Basta a vontade de quem tiver consciência de que nunca a humanidade esteve tão próxima a ver encerrado o termo de sua aventura sobre o planeta. Insisto: é o ser humano que está a correr o risco de extinção. Não é o planeta. A Terra vai continuar a existir, como planeta que não é dos maiores, nem dos mais importantes, nas galáxias e no cosmos. Mas é o único a nos hospedar. Se continuarmos na linha da destruição do verde, da conspurcação do ar, do solo e da água, estaremos a praticar um suicídio coletivo inimaginável. Isso não vai acabar com a Terra. Vai acabar conosco.

Os cientistas nos alertaram durante décadas e não ouvimos. Tanto que eles estão estressados, desalentados, verdadeiramente angustiados. Lamentam terem sido tão conservadores, tão otimistas, tão tímidos em suas previsões. Os fenômenos têm acontecido com frequência e intensidade crescente.

A leitura do livro “A Terra Inabitável”, de David Wallace-Wells me deixou ainda mais aflito. Agora parece surgir um contraponto, o livro “Não é o fim do mundo”, de Hannah Ritchie. Ela indica três caminhos para a contribuição individual à reversão do quadro catastrófico a se avizinhar: 1. Atuar politicamente e eleger líderes comprometidos com a sustentabilidade; 2. Preferir produtos sustentáveis em nossos hábitos de consumo, ainda que seu preço seja mais elevado; 3. Alinhar-se ao lado da sustentabilidade e agir coerentemente, sem combater quem não está do mesmo lado em razão de diferença de opiniões marginais.

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As eleições municipais acabaram de se realizar. É fiscalizar, monitorar, exigir, propor, reclamar, acompanhar as novas gestões. Assim é que alguém exercerá uma cidadania realmente benéfica ao mundo e à humanidade. Sobretudo, plantar árvores. O mundo precisa de um trilhão de árvores, o Brasil de um bilhão e cada cidade de quantas puder hospedar. Sem elas, não haverá temperatura amena, nem sombra, nem água, nem vida.

Convidado deste artigo

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José Renato Nalini
Reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo. Foto: Werther Santana/Estadão
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