Nem o mais crédulo idiota acreditaria nessa possibilidade. Primeiro, porque a complexidade do problema é imensa. O estrago causado ao planeta demandaria um tempo muito superior ao de várias gerações para parcial recuperação das condições ambientais. Depois, porque apesar das advertências dos cientistas, a humanidade não se corrige e continua a emitir os gases venenosos que causarão sua extinção.
Por isso o realismo com que pessoas como Carlos Nobre, o mais respeitado pesquisador brasileiro e Marcelo Leite, estudioso do tema, enxergam este 2025, que será terrível.
O primeiro lamenta que a ciência tenha sido tão reservada e tímida, ao alertar a população terrestre do que se avizinhava. O segundo observa que “só dose cavalar de pessimismo realista abalará inércia do aquecimento global”. Tudo baseado em evidências. O Programa Copernicus, da União Europeia, constatou que 2024 não só foi o ano mais quente já registrado na Terra, como foi o primeiro a atingir temperatura 1,5º acima da era pré-industrial. Assim, não há motivos para acreditar que 2025 nos reserve boas notícias em relação ao clima.
O que está muito claro é que os Estados miram outros objetivos, que não melhorar as condições do planeta. A derradeira esperança é a de que a iniciativa privada, sempre com fixação no lucro, acorde para um fato muito nítido: se não houver vida, a renda nada significará. Se ela quiser preservar o mercado, o capitalismo qualificado da forma que lhe convier, precisará agir para que exista continuidade da experiência vital neste maltratado pequeno e frágil astro.
Isso porque a reunião dos países, a partir de 1992, foi uma sequência de discursos, de retórica, de compromissos não honrados, de promessas vazias. Nada de efetivo se obteve.
Alguém acredita que a COP30, em Belém, recuperará o tempo perdido? No texto “Clima vai piorar em 2025, e COP, fracassar”, (FSP,30.12.24) Marcelo Leite afirma não ser “possível resolver tudo na COP30 comandada em Belém por um governo tão ambíguo quanto” o nosso em políticas climáticas. Menciona a obsessão pela exploração de petróleo na margem equatorial da Amazônia. Além de renegar o Acordo de Paris, esse delírio dará prejuízo. Cita Cristiano Vilardo, analista ambiental do IBAMA que, no jornal “O Globo”, escreveu que a margem equatorial difere do pré-sal: geologia menos conhecida, maior distância de centros de refino e consumo, riscos ambientais e operacionais.
Invoca também a posição de Shigueo Watanabe Júnior e Alexandre Gáspari, do boletim ClimaInfo, que falaram sobre o tema no “Valor Econômico”. Tudo indica que a exploração venha a ser inviável climática e economicamente. Isso já foi afirmado em debate na Fundação FHC, por conhecedores do tema. Depois de polpudos investimentos na exploração, depois na perfuração e na extração, talvez a humanidade tenha se convencido de que deva banir de vez o veneno que a extermina.
O raciocínio de Marcelo Leite é correto e deveria ser absorvido pelas autoridades que insistem na prospecção amazônica: os trezentos mil barris estimados só começariam a existir perto do ano 2050, quando as emissões de carbono teriam de ser eliminadas. É um contrassenso atroz.
O argumento de que o petróleo das margens amazônicas financiará a transição energética parece uma piada. Equivale a afirmar que a indústria do fumo, com seus lucros, construirá hospitais para tratamento de câncer no pulmão.
Enfim, ao contrário do que a visão idílica da criação humana previa, a lenta caminhada, mas gradualmente segura rumo ao vértice da perfectibilidade, detecta-se uma acelerada trajetória em direção ao caos. Será que o projeto humano é um verdadeiro e estupendo fracasso?
A lamparina que se esboça num túnel interminável, cada vez mais sombrio e longo, é uma reação forte e firme da sociedade civil. Essa ficção que é composta por pessoas comuns, normais, essas mesmas que sofrem com as emergências climáticas, que adoecem e morrem, e que têm direito a exigir de seus governos compostura, ética e correta destinação dos recursos públicos. Governos não produzem dinheiro. Apenas trabalham com o dinheiro dos que representam. E a cujo serviço estão.
Será que um dia chegaremos a um estágio civilizatório em que a vontade dos prejudicados venha a ser levada a sério?