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CNJ abre processos disciplinares e afasta juíza que atacou ministros do Supremo

Procedimentos vão investigar se Ludmila Lins Grilo violou os deveres funcionais e de imparcialidade; magistrada da Vara Criminal e da Infância e Juventude de Unaí, no interior de Minas, diz que é vítima de 'assassinato de reputação' e 'estardalhaço midiático'

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Foto do author Rayssa Motta

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) decidiu nesta terça-feira, 14, abrir dois processos administrativos disciplinares contra a juíza Ludmila Lins Grilo, da Vara Criminal e da Infância e Juventude de Unaí (MG), e afastá-la cautelarmente do cargo até a conclusão dos procedimentos. A decisão foi unânime.

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A primeira investigação interna vai apurar se ela violou os deveres funcionais. Uma inspeção extraordinária na comarca apontou faltas sistemáticas ao trabalho presencial, baixa produtividade, morosidade e exercício paralelo de atividade empresarial. A auditoria encontrou 1.291 processos parados.

O processo disciplinar foi proposto pelo corregedor Luís Felipe Salomão. O ministro afirmou que a juíza demonstrou 'total desleixo' com o trabalho e 'imenso desprestígio' com a magistratura.

"A reclamada não cumpre seus deveres básicos, deixando de comparecer no fórum mesmo sem ter autorização para realizar teletrabalho, negligenciando a gestão do cartório e deixando fiscalizar os atos de seus subordinados", defendeu. "Réus presos sem sentença, réus soltos sem audiência, um desleixo absoluto com a atividade."

Juíza Ludmila Lins Grilo foi afastada das funções durante processos disciplinares abertos pelo CNJ. Foto: Reprodução/Facebook

Ludmila afirma que é vítima de um 'assassinato de reputação' e de um 'estardalhaço midiático'. Em sua defesa, a magistrada disse que deixou o expediente presencial e começou a fazer audiências a partir de cidades alternadas porque passou a sofrer ameaças relacionadas ao trabalho.

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"O Gabinete de Segurança Institucional do Tribunal de Justiça expressamente recomendou que o público não tivesse ciência da minha localização física, pois isso implicaria imediato risco de vida", afirmou. "Eu mesma tive que prover a minha própria segurança, trabalhando integralmente por videoconferência."

Manifestações políticas

O segundo processo disciplinar é sobre manifestações político-partidárias da juíza em entrevistas, eventos e nas redes sociais. O CNJ vai investigar se ela violou o dever de imparcialidade. Outros 20 magistrados estão na mira do conselho pelo mesmo motivo.

A Lei Orgânica da Magistratura (Loman), que funciona como um estatuto da classe, impede manifestações de cunho político-partidário, opiniões sobre processos em curso ou 'juízo depreciativo' a respeito de decisões e despachos.

Ludmila fez críticas públicas ao Supremo Tribunal Federal (STF), acusou os ministros de 'ativismo judicial' e sugeriu seu impeachment. Ela afirma que os comentários têm relação com sua 'atividade intelectual e como professora'.

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Uma das investigações frequentemente criticadas pela juíza é o chamado inquérito das fake news, aberto de ofício em 2019 pelo então presidente do STF, Dias Toffoli, para identificar os responsáveis por notícias falsas e ameaças aos membros do tribunal.

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Ela também divulgou um canal de YouTube criado pelo blogueiro Allan dos Santos, de quem diz ser 'amiga pessoal'. O influenciador bolsonarista, considerado foragido, teve as redes sociais bloqueadas pelo STF em investigações sobre notícias falsas e ataques antidemocráticos, mas passou a criar perfis alternativos para burlar a restrição.

A magistrada ainda participou de um congresso conservador em Florianópolis. O evento foi considerado 'político'.

"A juíza Ludmila considera que o bom juiz é aquele que tem a aprovação pública de seus seguidores", apontou o corregedor Luís Felipe Salomão. "Ela falta com seu dever funcional e ataca das instituições."

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