Em 2023, um novo recorde foi atingido relacionado à quantidade de eventos extremos. Além de ser registrado como o ano mais quente desde 1850, foram mapeados, pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), 1.161 desastres em todo o País como enchentes, deslizamentos e secas, atingindo mais de 5 milhões de brasileiros e com um prejuízo econômico de R$50,5 bilhões. Considerando esses dados, as mudanças climáticas deixaram de ser uma previsão de longo prazo e se tornaram uma realidade efetiva. Agora, o desafio é agir tanto preventivamente para evitar que o número destes eventos cresça nos próximos anos, como enfrentar as condições climáticas atuais.
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Mas será que é possível antecipar cenários? Quando os problemas ambientais e socioeconômicos tornam-se recorrentes, precisamos nos adaptar. Por isso, o primeiro passo é planejar antecipadamente possíveis novos casos, e a engenharia bem aplicada é uma aliada fundamental para gerar previsões mais assertivas relacionadas às constantes e diferentes mudanças de clima em todas as regiões do Brasil. Este foi um dos pontos abordados durante o 5º Encontro Paulista de Engenharia Ambiental (EPEA) realizado pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de São Paulo (Crea-SP), no dia 31 de janeiro, que possibilitou o debate sobre ações da área tecnológica em meio aos desastres climáticos.
É um trabalho complexo que deve ser feito com multidisciplinaridade e ações a longo prazo, tanto no poder público como em empresas privadas. A cultura do imediatismo dificulta que os dois setores adotem uma abordagem preventiva, preferindo lidar com os riscos à medida que se materializam. Não seria melhor agir com planos de precaução, usando as novas tecnologias a favor de evitar a transformação da ameaça em uma certeza? Neste caso, entramos na pauta ESG, sigla em inglês para as práticas ambientais, sociais e de governança. Essas técnicas são importantes para garantir que os aspectos trabalhados pela área tecnológica em prevenção e mitigação dos eventos extremos, sejam estabelecidos de forma que garanta continuidade, independente de gestões e governos, trazendo mais uma ação da engenharia à tona: o monitoramento.
O gerenciamento e controle de riscos é capaz de impedir o acontecimento de novas tragédias, e a tecnologia pode e deve ser usada no mapeamento de dados e complexidade de previsões para traduzi-los em diretrizes governamentais. Sensoriamento remoto capaz de monitorar as mudanças ambientais e urbanas, satélites para localizar pontos de atenção, drones que conseguem adentrar em lugares de risco e modelos climáticos mais precisos, são algumas das ferramentas utilizadas hoje, além da possibilidade de usar algoritmos de inteligência artificial em pontos de interesse. É preciso ficar atento aos modelos de monitoramento que funcionam em países desenvolvidos para os adaptar às variações de clima existentes no Brasil.
O primeiro passo para seguir essa estratégia de planejamento nos setores público e privado é reconhecer o impacto que o clima tem em todo o ecossistema e nos sistemas sociais. As constantes mudanças atingem a fauna, a flora, e podem influenciar na disseminação de doenças e consequentes pandemias. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que 99% da população respira um ar que excede os limites de má qualidade recomendados, o que é um agravante à saúde. E a pesquisa continua indicando que grande parte dos mamíferos deverão ser forçados a deixar seus ambientes naturais em busca de climas mais amenos até 2070, aumentando o risco de transmissão viral entre as diferentes espécies, e o Brasil é um dos países de risco por conta do tamanho da sua biodiversidade. Por isso, priorizar o trabalho preventivo junto à incorporação de tecnologias inovadoras influencia não só na mudança cultural, como no fortalecimento do trabalho generalizado e especializado da área tecnológica em favor do enfrentamento às emergências climáticas.
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