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Opinião | Como era Leopoldina?

Sabia-se que Leopoldina era praticamente o oposto de sua irmã Maria Luísa, que foi entregue pelo pai em casamento a Napoleão. Esta era linda e graciosa. Leopoldina nem tanto

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convidado
Por José Renato Nalini

Antes da máquina fotográfica, os nobres só conheciam as feições de suas pretendentes mediante miniaturas pintadas por retratistas. Estes eram generosos, pois pagos para reproduzir, com fidelidade, a fisionomia dos retratados.

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Todos sabem que o Imperador Pedro II se decepcionou ao ver pela primeira vez a Imperatriz Tereza Cristina. Ela era baixa, feia e mancava. Ele teria dito à sua ama: “Enganaram-me!”.

Já seu pai, além de receber belíssima efígie da arquiduquesa austríaca Leopoldina, ofereceu a ela, por um embaixador, belíssimo e rico retrato, em moldura de pedras preciosas que impressionou a Corte do Imperador Francisco I.

Mas como era a futura primeira Imperatriz do Brasil, D. Leopoldina?

Carl Schlichthorst, o tenente dos granadeiros alemães, assim a descreveu: “A imperatriz é baixa e gorda, com traços genuinamente alemães. Parece-se, à primeira vista, com a ex-imperatriz Maria Luísa, porém sem aquelas feições delicadas e graciosas, que tornaram tão encantadora a esposa de Napoleão. O sol dos trópicos e o modo de vida a que se adotou no hemisfério meridional emprestaram-lhe às faces alto grau de vermelhidão e lhe deram corpulência que se manifesta em quase todas as mulheres brasileiras, passada a primeira mocidade. Além disso, a roupa com que se apresentava absolutamente não podia agradar a um olhar europeu. Altas e duras botas de Dragão (soldado) com pesadas esporas de prata, largas calças brancas e por cima curta túnica de seda, um fato de montar aberto, de pano cinzento, um lenço branco atado ao pescoço, à moda masculina, por cima da gola da camisa, e um chapéu branco, enfeitado de azul claro. Essa bizarra combinação de trajes tão diversos não poderia produzir um conjunto agradável. A imperatriz fala o alemão à maneira de Viena, servindo frequentemente de intérprete ao marido”.

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Sabia-se que Leopoldina era praticamente o oposto de sua irmã Maria Luísa, que foi entregue pelo pai em casamento a Napoleão. Esta era linda e graciosa. Leopoldina nem tanto.

Ainda assim, outro militar alemão, Carl Seidler, enxergava nela atributos que seu conterrâneo não encontrou. Compareceu a um beija-mão e assim contou o seu encontro com o casal imperial: “Surgiu d. Pedro a conduzir pela mão com galanteria de cavalheiro sua alta esposa. Nunca eu havia visto a imperatriz, mulher divina que todo o Brasil endeusava e que tantas vezes entrara como mediador entre o povo e o imperador. Não se podai desconhecer que era da Casa de Habsburgo. O cabelo louro, ondeado, o olho azul, cismador, a testa alta, sonhadora, o nariz orgulhoso, brandamente curvo, a tez ofuscante de brancura, à qual o clima da terra mal comunicara leve sombra que ainda a embelezava, o rubor suave, mas ético, pousado em suas faces, a encantadora simpatia que falava em todos os seus gestos e palavras, a grande bondade, que, de par com a brandura e a majestade, transluzia de cada um de seus movimentos e que envolvia como uma auréola de glória a sua peregrinação terrena – tudo realçava aquela figura encantadora, era o orgulho e o prazer de um grande império. Jamais mulher exerceu uma impressão sobre mim como esta nesta hora; mal me atrevia a erguer os olhos para ela e, quando se voltou para mim e nossos olhares se encontraram, envergonhei-me como se tivesse cometido algum mal, ou como Adão que estivesse nu no paraíso. Neste momento eu teria dado tudo por uma coroa régia. “Meu marido manda perguntar-lhe se o senhor quer mais alguma coisa dele”, falou-me sorridente, em dialeto austríaco. E que palavras! Que som de voz e os ademanes de que foram acompanhadas. Esta é toda a riqueza que pude trazer do Brasil, o Eldorado de meus desejos. “Meu marido manda perguntar-lhe em que poderá ser-lhe útil”, repetiu ela timidamente.

Dois alemães, dois militares, dois perfis antagônicos. É uma demonstração bastante evidente de que o testemunho é falível. Para se aceitar um relato oral, é preciso lembrar que a memorização se vincula a uma série de fatores: a história pessoal do observador, sua experiência em reproduzir, oralmente, aquilo que apreendeu. A capacidade de reter na memória os traços, a possibilidade de se ater a insignificâncias, não à guarda de uma feição humana em sua mente. Compreende-se porque os vetustos processualistas chamavam o testemunho de “a prostituta das provas”.

Mas você, com qual das versões a respeito de D. Leopoldina vai ficar?

Convidado deste artigo

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José Renato Nalini
Reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo. Foto: Iara Morselli/Estadão
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